Menino que morreu durante abordagem policial não ofereceu resistência, diz testemunha
PMs são suspeitos de terem asfixiado o jovem, mas alegam que ele teve "mal súbito"
São Paulo|André Caramante, Da TV Record
Familiares e amigos de um jovem de 15 anos acusam dois policiais militares de terem o matado por asfixia, durante uma abordagem policial, na noite desta segunda-feira (20), no bairro da Casa Verde, zona norte de São Paulo.
Segundo dois jovens que acompanhavam Rafael Ferraz Delfino de Souza Paulino pela rua Ouro Grosso, um dos PMs apertou o pescoço dele durante alguns segundos e, após soltá-lo, o jovem caiu, desmaiado.
Rafael e os dois amigos passavam pela altura do nº 1.323 da Ouro Grosso quando os PMs Edgar de Abreu Serra e Vinicius Campos da Silva, ambos de 28 anos, haviam acabado de separar uma briga entre um casal de ex-namorados.
Enquanto esperavam reforço policial para levar os ex-namorados à delegacia, já que o rapaz havia sido agredido por vizinhos da ex-namorada, Rafael e os dois amigos passaram do outro lado da rua.
Segundo a versão dos PMs Serra e Silva, Rafael e os amigos fizeram gestos na direção de onde o ex-namorado era mantido sob custódia e isso fez com que os dois militares resolvessem abordar o trio de jovens.
Os PMs Serra e Silva disseram que Rafael e os amigos, “visivelmente alterados”, se recusaram a ser abordados, mas eles conseguiram segurar Rafael pelo braço, colocando-o contra a parede.
Ainda segundo os PMs, enquanto olhavam para os dois amigos do jovem, ambos um pouco à frente de Rafael, o jovem “virou os olhos e caiu da própria altura ao solo, batendo antes seus joelhos no chão”.
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Serra e Silva também disseram que um dos amigos de Rafael, logo após vê-lo caído, teria gritado: “Ele tem problemas no coração”, frase que nenhuma das testemunhas da abordagem contra o jovem relatou à Polícia Civil ter ouvido.
Ao perceber que Rafael estava caído, parte do grupo envolvido na confusão com o ex-namorado detido pelos dois PMs cercou o jovem e uma mulher começou a fazer respiração boca a boca para tentar reanimá-lo. Ao mesmo tempo, uma policial militar que havia chegado para apoiar os PMs Serra e Silva fazia massagem cardíaca em Rafael.
Socorrido pelo Samu para o Hospital da Vila Nova Cachoeirinha, Rafael já chegou morto.
Em seus depoimentos à Polícia Civil, os PMs Serra e Silva disseram: “Em nenhum momento usaram de força ou violência para abordar Rafael”. Os militares não esclareceram o que quiseram dizer que Rafael e seus dois amigos estavam “visivelmente alterados”.
A afirmação dos PMs contradiz testemunhas da abordagem, os amigos de Rafael e alguns moradores da rua Ouro Grosso, segundo a assistente social Janaina de Miranda, 35 anos, tia do jovem. Janaina chegou a Ouro Grosso minutos depois de os PMs terem abordado seu sobrinho e ainda viu quando ele recebia os primeiros socorros.
Quando perguntou o que tinha acontecido com seu sobrinho, Janaina ouviu que um dos PMs havia apertado o pescoço do jovem durante alguns segundos.
Um dos jovens que acompanhava Rafael na hora da abordagem dos PMs Serra e Silva disse à mãe do rapaz morto que um dos militares nem precisou ir atrás dele, pois Rafael, ao ser chamado pelos policiais, caminhou na direção deles e se deixou ser abordado sem nenhuma resistência.
“Rafael atravessou a rua a fim de ser abordado e foi pego pelo colarinho da sua blusa. O colocaram na parede, momento em que apertaram seu pescoço pela parte frontal, segurando por um determinado período, sendo que ao soltá-lo, ele caiu da própria altura ao chão, com as pernas dobradas”, foi o que a testemunha narrou para Adriana Ferraz Delfino de Souza, 31 anos, mãe de Rafael.
A Polícia Civil registrou o caso de Rafael como "morte suspeita".
Os PMs Serra e Silva são da 1ª Companhia do 9º Batalhão, unidade da PM que funciona atrás do 13º DP (Casa Verde). Há pouco mais de cinco anos, em abril de 2010, 12 policiais do mesmo local foram presos e acusados de sequestrar, torturar e matar a pancadas o motoboy Eduardo Luís Pinheiro dos Santos, 30 anos.
Após o assassinato de Santos, dentro da 1ª Companhia do 9º Batalhão, o então comandante-geral da PM, coronel Álvaro Batista Camilo, escreveu uma carta à família do motoboy pedindo desculpas pelo crime.
Outro lado
Em nota oficial, a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo, informou: “A Polícia Militar esclarece que, segundo os PMs que participaram da ocorrência, o rapaz teve um mal súbito durante uma abordagem, versão confirmada por duas testemunhas. Mesmo assim, foi aberta uma sindicância para apurar as declarações dadas aos parentes por outras pessoas.
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O caso também é investigado no 13º DP (Casa Verde). O delegado-titular, Egídio Cobo, informa que a Polícia Civil solicitou exames periciais, incluindo o necroscópico e toxicológico, para tentar definir a causa da morte”.
A reportagem tentou entrevistar os PMs Serra e Silva, na 1ª Companhia do 9º Batalhão, localizada nos fundos do 13º DP, mas, de acordo com um policial identificado como cabo Ubiratan, os dois estão de folga nesta quarta-feira (22) e só retornarão ao trabalho amanhã.
A Secretaria da Segurança Pública de São Paulo informou também que não tem os contatos dos PMs Serra e Silva nem de seus advogados, solicitados pela reportagem.
Da mesma forma, a pasta informou não poder responder quando será encerrada a sindicância aberta no 9º Batalhão para apurar a conduta dos PMs Serra e Silva e nem quem já foi ouvido na investigação.
A assessoria de imprensa da Segurança Pública também não respondeu o que o secretário da pasta, Alexandre de Moraes, e o comandante-geral da PM, coronel Ricardo Gambaroni, têm a dizer sobre a morte de Rafael.
A Corregedoria da Polícia Militar, segundo a Segurança Pública, não está investigando se os PMs Serra e Silva mataram Rafael.
Assista à reportagem da TV Record sobre o caso: