Novas técnicas da PM para protestos são importadas e já geraram polêmica em outros países
Mudança na forma de identificar policiais é uma das principais críticas de ativistas
São Paulo|Fernando Mellis, do R7
Diante das promessas de uma nova onda de protestos em São Paulo, desta vez contra a realização da Copa do Mundo no Brasil, a Polícia Militar decidiu “importar” de diversos países técnicas de confronto em multidões.
A prática mais recente e polêmica começou a ser implantada há cerca de dois meses. A habitual tarjeta de identificação, com a patente e um dos nomes do policial, está sendo substituída por um código alfanumérico de dez dígitos para os agentes que atuam em protestos.
A corporação alega que a medida evita que os policiais sejam alvo de ofensas direcionadas e represálias, mas a mudança foi recebida com críticas por movimentos sociais. Para André Zanardo, do grupo Advogados Ativistas, a omissão dos nomes vai prejudicar as denúncias de abuso policial.
— A tarjeta foi feita para dificultar a identificação dos policiais. No caso do [Batalhão de] Choque, a cor da farda e do código é muito parecida. Tudo isso é proposital, para que eles possam fazer o que quiser sem ser investigados depois.
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A observação faz eco às reclamações de manifestantes que atuaram em Londres contra uma reunião do G20, em 2009. Diversos ativistas disseram ter sido agredidos por agentes que nunca foram identificados. Policiais admitiram terem tirado, inclusive, o código numérico da farda durante os atos.
Outras “importações”
No segundo ato contra a realização do Mundial, no dia 22 de fevereiro, algumas das estratégias importadas começaram a ser postas em prática. Um grupo de manifestantes foi impedido de sair de um círculo formado por policiais com escudos, na avenida Paulista, tática conhecida como “kettling”. Mais de 200 pessoas foram levadas à delegacia, a maior parte delas por ter ficado dentro do círculo, inclusive jornalistas.
A prática foi usada pela primeira vez na Alemanha na década de 80, para conter manifestantes contrários à construção de usinas nucleares: o Caldeirão de Hamburgo, ou “kettling”.
Junto com essa tática, foi levada para a rua também a Tropa Ninja ou Tropa do Braço: um grupo de aproximadamente cem policiais militares que praticam artes marciais, principalmente jiu-jítsu. Desarmados, eles entram em ação para conter, com força física, pessoas que julgam estar exaltadas no meio do protesto.
O uso de artes marciais na polícia foi desenvolvido pelo inglês William Ewart Fairbairn, na China, antes da 2ª Guerra Mundial. As técnicas de enfrentamento sem armas foram levadas para a Inglaterra e, posteriormente, para outros países.
No Brasil, o grupo Advogados Ativistas teme que o uso da força física possa ser desproporcional, segundo Igor Leone.
— Um policial chamado para fazer parte dessa Tropa do Braço, ele já entende que está sendo convocado para descer a porrada em alguém. Não é tropa da conversa, ou tropa manifestação.
Polícia Militar
Em nota, o CPCopa (Comando de Policiamento da Copa) afirmou que “o intercâmbio com outras polícias de todo o mundo é permanente, sempre com o objeto de compartilhar as melhores práticas”. A corporação ainda diz que as estratégias citadas pela reportagem “nada têm a ver com a Copa do Mundo, mas sim com um processo natural de aperfeiçoamento técnico-operacional”.