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Onda de rolezinhos que assustou SP agora é oficial  

Prefeitura da capital já patrocinou dez reuniões de adolescentes, antes feitas em shoppings 

São Paulo|Dinalva Fernandes, do R7

Adolescentes chegaram a ser barrados em shoppings centers
Adolescentes chegaram a ser barrados em shoppings centers Adolescentes chegaram a ser barrados em shoppings centers

Antigo costume dos jovens da periferia de grandes cidades, os rolezinhos começaram a ganhar repercussão no fim de dezembro de 2013, mas foi no começo deste ano que a onda ganhou força. Facilitados pelas redes socias, os encontros cresceram e chegaram a reunir milhares de adolescentes em centros comerciais de capitais como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte.

Alguns dos encontros terminaram em confusão, como o ocorrido no Shopping Itaquera, na zona leste da capital, no dia 11 de janeiro. A Polícia Militar usou balas de borracha e gás lacrimogêneo para dispersar o grupo de cerca de 3.000 pessoas.

Alguns estabelecimentos conseguiram liminares na Justiça para impedir a entrada dos jovens. O monitoramento de redes sociais também foi uma das medidas adotadas para evitar tumulto e violência durante os rolezinhos, segundo a assessoria de imprensa da ABRASCE (Associação Brasileira de Shoppings Centers). O assunto chegou a repercurtir em jornais estrangeiros.

Rio de Janeiro

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Os encontros também foram grandes em shoppings da capital fluminense, região metropolitana e Baixada Fluminense. Em um deles, cerca de 50 manifestantes compareceram no Shopping Leblon, na zona sul da capital, no dia 19 de janeiro, mas foram impedidos de entrar. O estabelecimento decidiu não abrir as portas.

O grupo, convocado por redes sociais, transformou a calçada do centro de compras em um baile funk com direito a churrasco. Uma caixa de som em alto volume embalava os manifestantes, que dançaram, pularam e gritaram palavras de ordem contra a realização da Copa no Brasil e o governador Sérgio Cabral (PMDB). Alguns comeram linguiças preparadas em churrasqueira improvisada em frente ao shopping. PMs e guardas municipais acompanharam o protesto, sem interferir.

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OBatman — figura conhecida em manifestações no Rio encarnado por Eron Melo— e o Coringa compareceram segurando cartazes com frases de protesto. Um vídeo que viralizou na internet mostrou um bate-boca entre o Batman e um morador do Leblon. Para Eron, chamado de "babaca" pelo morador, a discussão expõe a intolerância e o preconceito de parte dos moradores do bairro.

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Depois das polêmicas, a prefeitura de São Paulo propôs uma colaboração na organização dos eventos. Desde então, a capital paulista foi sede de dez eventos patrocinados pelo executivo municipal. Os encontros entre jovens da periferia da cidade acontecem em locais públicos, desde março deste ano, depois da criação da Associação Rolezinhos: A Voz do Brasil em parceria com a Secretaria Municipal de Promoção da Igualdade Racial. Segundo Darlan Mendes, um dos dez líderes da associação, após os inúmeros problemas que os “rolezeiros” enfrentaram para realizar os encontros em locais privados, a prefeitura fez a proposta de montar os eventos com estrutura.

Com a criação da associação, a situação dos rolezinhos mudou. Agora, a associação escolhe o lugar, como parques ou praças, e contata os artistas. A prefeitura entra com a parte estrutural, como palco, som, iluminação, geradores, segurança, bombeiros, banheiros químicos e posto médico. Caso o artista contatado exija cachê, o valor também é pago pela prefeitura. Para comer, os adolescentes precisam comprar nos comércios locais. A venda de bebida alcoólica é proibida em todos os rolezinhos e a fiscalização fica a cargo da subprefeitura local e da GCM (Guarda Civil Metropolitana).

De acordo com a secretaria, todos os encontros oficiais são supervisionados. Em 2014, foram realizados eventos em Arthur Alvim, Guaianases, Tiradentes e Cangaíba, na zona leste; na Vila Natal e Parque do Ibirapuera, na zona sul, e na Casa Verde, na zona norte. O organizador dos rolezinhos afirma que, nos últimos encontros, não ocorreu registro de furtos ou roubos, bem como confronto entre os jovens e policiais. Os eventos ocorrem sempre das 12h às 21h com a presença de 2.000 a 6.000 adolescentes.

Assista ao vídeo:

Dificuldades

Para Mendes, falta opção de lazer para o jovem da periferia que, muitas vezes, enfrenta dificuldades dentro de casa. Ele acredita que esse problema não é visto como deveria pelo poder público.

— Para o governo, parece que é mais fácil gastar mais de R$ 4.000 com internação de um menor na Fundação Casa do que investir em cultura, esporte e lazer, que poderiam evitar que os jovens caíssem nas drogas, crime organizado e prostituição.

Em abril, aconteceu o primeiro assassinato envolvendo um "rolezeiro". A morte de Lucas de Oliveira da Silva de Lima, de 18 anos, é cercada de mistérios. O laudo da unidade de saúde para onde o rapaz foi levado já morto atesta que a causa da morte foi uma parada cardiorrespiratória e diz que a vítima não apresentava sinais de agressão. Já o laudo do IML (Instituto Médico Legal) aponta que ele sofreu um traumatismo craniano, o que está mais próximo da versão apresentada inclusive pelo pai do garoto. Lucas teria levado uma pancada na cabeça em uma briga em um baile funk. Contudo, ainda não há pistas do suposto assassino.

Em novembro, a associação teve um problema com o policiamento de São Miguel Paulista, na zona leste da capital. Eles queriam realizar um rolezinho em homenagem a Leonardo Henrique Soares Alvarenga, que foi assassinado por um amigo na região de Itaquera, zona leste da capital. De acordo com Mendes, a PM barrou o evento e procurou o Ministério Público. Para Mendes, ainda existe preconceito contra os jovens da periferia por parte de alguns policiais.

Mendes está otimista em relação aos rolezinhos no ano que vem. A prefeitura afirmou que continuará com o projeto e eles estudam realizar encontros nas cidades da região metropolitana de São Paulo e até em outros estados. No entanto, ainda é necessário entrar em acordo com governos e prefeituras. Os encontros não-oficiais em shoppings ainda ocorrem, mas em menor quantidade.

— Eu tinha receio de que a prefeitura fosse tirar os eventos, mas fui surpreendendo e vamos continuar no ano que vem.

Veja a cobertura completa dos rolezinhos

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