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Sobrevivente de chacina em Osasco sofre com falta de médicos, diz família

Pintor foi baleado no rosto dentro de um bar durante série de ataques que deixou 19 mortos 

São Paulo|Caroline Apple, do R7

Com o maxilar destruído, Amaury se comunica por meio de bilhetes
Com o maxilar destruído, Amaury se comunica por meio de bilhetes Com o maxilar destruído, Amaury se comunica por meio de bilhetes

Amaury José Custódio, de 54 anos, é um dos sobreviventes da chacina que aconteceu em bairros de Osasco e Barueri, na Grande São Paulo, e deixou 19 pessoas mortas. Apesar do "pior já ter passado", como diz a família, Custódio espera no Hospital Geral de Itapevi pela visita de médicos especialistas para realizar um procedimento cirúrgico. Ele está com hemorragia após o rompimento de uma artéria do rosto. Só após avaliação com um especialista é que a vítima poderá reconstruir o maxilar, que foi destruído com os tiros no rosto que levou na noite de 13 de agosto. Nem os médicos souberam dizer quantos tiros ele tomou.

Em entrevista exclusiva ao R7, a mulher de Custódio, a dona de casa Marli Sandra da Conceição Custódio, conta o drama que a família está vivendo por não saber quando o marido poderá voltar para casa.

— Não sobrou um dente na boca do meu marido. Sem esses especialistas, não tem como saber quando ele fará a reconstrução do maxilar e nem quando terá alta. No hospital, não nos dão datas e não sabemos se eles realmente estão empenhados em conseguir esses médicos.

Adriano Barbosa, coordenador de cirurgia-geral do Hospital Itapevi, afirmou que o quadro do paciente é estável, por isso, ele foi inserido na fila de espera por atendimento de um médico vascular, que deve durar até 10 dias. Após a avaliação do médico, Amaury entrará em uma nova fila para passar com outro profissional, que deve demorar até três dias, para, enfim, marcar a cirurgia de reconstrução do maxilar.

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O dia da chacina

Ao telefone, Marli conversa normalmente durante a maior parte da entrevista, porém, quando cita a chacina, logo demonstra raiva daquele dia e de tudo o que ele significa para sua família.

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Na manhã da tragédia, Custódio acordou por volta das 8h. Tomou café e ficou em casa, porque estava sem trabalho, já que tinha entregado a pintura de uma casa vizinha há menos de uma semana. No almoço, tudo normal. No prato, arroz, feijão, salada e linguiça. Com a proximidade da hora do jantar, Marli incumbiu Custódio de ir até o armazém comprar um fardo de papel higiênico e um suco para acompanhar a refeição.

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Amaury é conhecido no bairro de Munhóz Junior. Uma de suas principais atividades é bebericar nos três bares mais conhecidos da região: o Alemão (amigo de infância), o Mathias (onde foi comprar o suco) e o Juvenal (onde 10 pessoas foram baleadas e apenas duas pessoas sobreviveram).

No dia da chacina, o Alemão só recebeu um "oi" rápido de Amaury, o Mathias ganhou uns trocados com a pequena compra e o Juvenal serviu para tomar a saideira. Com um amigo, o pintor bebeu por algum tempo. Logo esse amigo foi embora depois de dar um toque no Amaury, que já tinha tomado umas e outras. Mas o destino do pintor estava selado e ele ficou. O amigo relatou à família que a última imagem que tem do bar é de Custódio sentado em uma cadeira de plástico, quase pegando no sono.

Tiroteio

Marli arrumava a cama para se preparar para assistir sua série de TV preferida quando o som dos tiros invadiu sua casa.

No paralelo, seu irmão Wagner vendia churrasquinho em uma praça e correu apavorado para dentro de uma igreja próxima, onde todos continuavam o louvor sem perceber o que acontecia. Dentro da igreja estava Thiago e Jaqueline, dois dos quatro filhos de Custódio. A voz de Anderson não saía e seus gestos não eram suficientes para fazer todos entenderem o que estava acontecendo.

Quando os tiros pararam, toda a família só tinha uma preocupação, que passava longe de Custódio. Todos só pensavam em Anderson, outro irmão de Marli que não saía do bar do Juvenal. Naquele dia, nem ele sabe explicar o motivo, simplesmente tomou banho e decidiu ficar em casa vendo TV.

No bar, Wagner não encontrou o irmão e passou reto pelo cunhado, que estava sentado em uma cadeira de costas para a rua. Quem achou Custódio foi o filho Thiago que, ao pegá-lo no colo, sentiu suas roupas encharcarem de sangue. O outro filho do pintor, Fabiano, só dizia "já era, já era". Mas Thiago não desistiu e levou o pai para o hospital, onde foi desenganado por alguns minutos até suspirar fortemente e ser levado às pressas para a mesa de cirurgia.

"Onde estou?"

Só no dia 24 de agosto, mais de dez dias após a chacina, Amaury conseguiu se comunicar com a família por meio de um bilhete. As palavras escritas de forma errada deixavam claro a preocupação com a família: "Eu amo todos vocês. Stephany [filha] está namorando ainda?".

Embaixo, a pergunta: "Onde nós estamos?". Thiago responde que estão na UTI (Unidade de Tratamento Intensivo) de um hospital. Foi então que o jovem decidiu dizer que o pai estava internado por causa de um tombo e não porque era um sobrevivente de uma chacina.

Custódio saiu da UTI e está no quarto. As visitas são restritas: dois dos filhos não têm acesso liberado. A família acredita que ele ainda não saiba o que aconteceu. Quando um médico falou sobre os tiros, o pintor negou com as mãos. A família tem medo de como ele pode reagir ao saber a verdade. Mas a preocupação deles agora é outra: a falta de médicos.

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