"Tenho muito medo que ele faça mal ao meu filho", diz ex-companheira de fiscal suspeito de corrupção
Luís Alexandre Cardoso Magalhães trabalhava na Secretaria de Finanças da capital paulista
São Paulo|Fernando Mellis, do R7
A ex-companheira do fiscal da Prefeitura de São Paulo Luís Alexandre Cardoso de Magalhães, suspeito de corrupção na Secretaria de Finanças durante a gestão Kassab, diz estar preocupada com a reação dele após deixar a cadeia. Isso porque Vanessa Alcântara concordou em ajudar a Controladoria Geral do Município e o Ministério Público nas investigações. O temor dela é pelo filho do casal de nove meses, que está sob a guarda de Magalhães.
— Tenho muito medo de ele fazer mal ao meu filho, alguma coisa em represália a tudo o que eu fiz.
Vanessa disse que se dispôs a falar o que sabe às autoridades porque perdeu a guarda dos dois filhos: um de quatro anos, do primeiro casamento — que está com o pai —, e o bebê, entregue aos cuidados do fiscal da prefeitura.
— A princípio foi porque ele já estava falando de tirar as crianças de mim porque eu ganhava pouco, por vários motivos. Ele pagava uma pensão de R$ 700, para me prejudicar mais. Ele falou que queria tratar o filho como ‘um reizinho’, que poderia dar muito mais do que eu poderia.
Questionada sobre o filho ser criado com dinheiro supostamente obtido em um esquema de corrupção, Vanessa disse que nunca concordou.
— Lógico que não. Se eu pensasse nisso [em dinheiro], eu não teria denunciado, porque todo o patrimônio seria herança do meu filho mais novo. Mas eu abri mão de tudo isso, não importa para mim. [...] A melhor educação é estar com a mãe que tem princípios de honestidade.
Principal personagem de escutas telefônicas obtidas com autorização da Justiça durante a investigação do caso, Vanessa foi gravada chantageando o ex-companheiro. O Porsche Carrera apreendido na semana passada pertence a Magalhães. Para ficar quieta sobre as supostas atividades ilícitas, ela queria a guarda da criança, uma pensão de R$ 3.000, móveis, o cachorro do casal e uma câmera digital.
O fiscal da prefeitura foi o único dos quatro presos que foi solto, na noite de domingo (3). Ele aceitou a delação premiada e vai colaborar com o Ministério Público nas investigações. Magalhães já disse que cada um dos envolvidos no esquema recebia R$ 80 mil por semana.
Gravação cita R$ 200 mil doados a secretário de Haddad
O caso
Os servidores Eduardo Horle Barcellos, Carlos Augusto di Lallo do Amaral e Ronilson Bezerra Rodrigues permanecem presos. A Justiça aceitou o pedido de prorrogação da prisão deles por mais cinco dias. Os quatro são investigados por cobrar de construtoras propina envolvendo o pagamento do ISS (Imposto Sobre Serviços), recolhido após o fim da obra.
O Ministério Público apurou que, entre 2010 e 2013, o grupo movimentou R$ 200 milhões de forma ilícita e atuando dentro da prefeitura da capital. O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, disse na segunda-feira (4) que ele e o controlador-geral do município, Mário Vinicius Claussen Spinelli, pagaram do próprio bolso o aluguel de uma sala comercial para monitorar as atividades do grupo suspeito de cobrar propina para liberar obras. Segundo Haddad, isso teve que ser feito porque se o valor fosse ser desembolsado pelos cofres públicos, a publicação poderia prejudicar o trabalho.
A Prefeitura de São Paulo quer ouvir todas as construtoras citadas nas investigações e não descarta cobrar impostos que possam não ter sido pagos de forma legal.