Um dos mais conhecidos galãs da história do cinema mundial pretende se matar em breve. Aos 86 anos, o ator francês Alain Delon vai contar com a ajuda da legislação da Suíça, país onde vive, que permite o suicídio assistido (sob determinadas condições), e de uma droga específica que terá de ser tomada por ele. Ao contrário da eutanásia, em que o paciente fica em estado de saúde terminal que é abreviado pelos médicos, no suicídio assistido isso é feito pela própria pessoa, após cumprir uma série de exigências da lei. Delon teve um pequeno derrame cerebral em 2019, mas se recuperou bem e continua lúcido o suficiente para manifestar aos filhos o desejo de interromper a vida. A lei suíça exige que essa manifestação seja feita em mais de uma ocasião, que o indivíduo tenha uma doença incurável e que esteja em sofrimento físico ou psicológico, exceto depressão — entende-se que um indivíduo nessa condição não tenha capacidade de tomar tal decisão. O último passo, após despedir-se da família, é o paciente tomar pentobarbital sódico — uma dose letal — misturado a alguma bebida, possivelmente um suco ou água. O pentobarbital é uma droga da classe dos barbitúricos desenvolvida há mais de cem anos. Substâncias dessa categoria foram usadas durante décadas como tranquilizantes e hipnóticos, todavia, o risco de overdose altíssimo — mortes provocadas ou acidentais — fez com que perdessem espaço, mas não totalmente. O medicamento continua a ser amplamente usado como agente anestésico em consultórios veterinários. Uma de suas aplicações mais conhecidas, entretanto, é na injeção letal de condenados à morte nos Estados Unidos. O fármaco também é administrado em pacientes submetidos a eutanásia em países que permitem essa prática. Segundo a organização sem fins lucrativos suíça Dignitas, que auxilia pacientes e familiares no suicídio assistido, pacientes que não queiram tomar por via oral o pentobarbital podem instalar um acesso intravenoso previamente e eles próprios liberarem a injeção. "Em todos os casos, por razões legais, o paciente deve ser capaz de realizar o último ato — ou seja, engolir, administrar por sonda gástrica ou abrir a válvula do tubo de acesso intravenoso — ele mesmo. Se isso não for possível, a Dignitas infelizmente não pode ajudar", diz a entidade em seu site. A droga começa a agir de dois a cinco minutos depois e leva a um coma profundo, que é sucedido pela morte em menos de uma hora. "Esse processo é absolutamente livre de riscos e indolor", garante a Dignitas. No caso de Alain Delon, ainda não foi divulgada a data do suicídio assistido, mas ele já fez agradecimentos de despedida. "Eu gostaria de agradecer a todos os que me acompanharam ao longo dos anos e me deram grande apoio. Espero que os futuros atores possam encontrar em mim um exemplo não só no campo do trabalho, mas na vida cotidiana entre vitórias e derrotas. Obrigado, Alain Delon", diz uma publicação em seu Instagram. O suicídio assistido é um tema controverso que, apesar de ter autorização legal na Suíça, é amplamente questionado mundialmente. Também não deve ser confundido com o suicídio como conhecemos, que é um ato de desespero de alguém em profundo sofrimento psicológico. Essas pessoas podem, e devem, procurar ajuda. Depressão é uma doença para o qual há tratamento, e é possível voltar a ter uma vida normal. No Brasil, o CVV (Centro de Valorização à Vida) oferece atendimento gratuito para acolhimento de pessoas que em algum momento cogitaram tirar a própria vida. A entidade, sem fins lucrativos, foi fundada há 57 anos e tem representação em 19 estados e no Distrito Federal. O telefone 188 (gratuito para todo o país) é o principal canal de atendimento. Milhares de voluntários que integram o CVV (Centro de Valorização da Vida), entidade sem fins lucrativos, trabalham diariamente Mas também é possível entrar em contato pelo chat no site, onde há uma lista de endereços físicos das unidades.