Maria Silva, 32 anos, está com medo de pegar zika mais uma vez
Ana Ignacio/R7“Senti muita coceira em todo o corpo e vontade de chorar, de correr de tanta dor. Os olhos ficam tremendo, dá febre. Foi mais de uma semana assim. Foi horrível.” O relato é de Maria Sônia Ferreira Silva, 32 anos. Moradora do vilarejo de Areia Vermelha, em Limoeiro de Anadia (AL), Maria está grávida de quatro meses e, há cerca de sete, teve zika vírus. Ela ainda lembra com clareza dos sintomas que mudaram sua rotina por mais de uma semana.
— Assim que percebi os sintomas, a coceira e as manchas na pele, eu fui no posto aqui em Areia Vermelha e tomei injeção e xarope para alergia. Foram uns seis, sete dias bem difíceis, mas melhorei.
O segundo desafio de Maria foi quando descobriu, alguns meses depois, que estava esperando sua segunda filha.
— Estou com medo dessa zika porque quem fica com problema é o bebê. Fiquei com medo quando descobri que estava grávida, ainda mais porque eu já peguei a doença, então, dá medo de pegar de novo.
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Maria conta que acabou engravidando durante um tratamento para ovário policístico, mas disse que já estava planejando ter outro filho. No dia em que o R7 se encontrou com ela, em um posto médico montado pelo projeto Bandeira Científica no vilarejo em que mora, Maria havia descoberto o sexo do bebê no ultrassom feito no dia anterior.
— É mais uma menina. Estou fazendo todos os exames, todo o pré-natal, tudo certinho e está tudo bem. Vai ficar tudo bem.
Agora, Maria tem tomado alguns cuidados especiais. Ciente de que o zika é transmitido pelo mesmo mosquito que transmite a dengue, o Aedes aegypti, ela está de olho nas medidas de prevenção.
— Estou me prevenindo. Passo repelente de quatro em quatro horas, fecho as portas no fim da tarde, mesmo com esse calor, e fico olhando todos os potinhos no fundo das casas para ver se não tem água parada.
Na sexta-feira (11), o governo estadual publicou decreto de situação de emergência em Alagoas, com validade de 180 dias, por epidemia de dengue e zika vírus e febre chikungunya. A Secretaria da Saúde informou que o alerta foi dado devido à epidemia por doenças infecciosas transmitidas pelo Aedes, especificamente a relação com a microcefalia, cuja notificação apresenta 97 casos suspeitos em Alagoas.
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Com a publicação do decreto, de acordo com a secretária de Saúde, Rozangela Wyszomirska, fica oficializada a gravidade da situação e o Estado declara guerra ao mosquito, sendo o principal foco de ação o combate ao mosquito por parte de cada cidadão alagoano.
E essa tem sido a postura dos moradores. No entanto, o calor diário de mais de 30º C torna o uso de calças e blusas de manga comprida, uma das medidas de prevenção indicadas por especialistas, uma tarefa quase impossível e executável apenas por turistas temorosos. Além disso, a estiagem que atinge alguns vilarejos de Limoeiro faz a população armazenar água de forma imprópria em galões e baldes, o que pode ajudar na proliferação do mosquito da dengue.
Luis Matias Ferreira, 51 anos, morador de Pé Leve teve zika
Ana Ignacio/R7Mesmo com as dificuldades, Luis Matias Ferreira, 51 anos, tomou suas medidas em casa para expulsar o mosquito. Ferreira cortou todo o mato do quintal e não deixa acumular água parada. Morador do vilarejo de Pé Leve, também em Limoeiro, há cerca de um mês, também teve zika. As marcas na pele ainda são visíveis em parte do seu braço.
— Eu tomava bastante banho para aliviar, porque a pele parece que está pegando fogo, fica muito quente. Dá febre e foram dez dias de repouso. Foi horrível, é muito ruim.
Com os punhos fechados, mostra como sofreu com sintomas de atrofia muscular.
— Ficava tudo duro. De manhã, quando eu acordava, não conseguia abrir os dedos da mão. Tinha que usar a outra para ajudar a abrir, dedo por dedo.
Microcefalia
O Ministério da Saúde confirmou, no fim de novembro, a relação do zika vírus com o aumento dos casos de má-formação congênita, a microcefalia, especialmente na região Nordeste. Isso deixou a população em alerta e mulheres relatam casos de grávidas que tiveram o vírus durante a gestação.
É o caso da cunhada de Maria José Tavares da Silva, 33 anos.
— Minha cunhada teve zika. Agora tá dando isso por aqui. Ela está com medo do bebê nascer com problema, mas fez a ultrassom e não deu nada. Ela estava grávida de uns dois meses quando pegou a doença, mas já se recuperou. Ela ficou meio triste, mas Deus é maior e vai ficar tudo bem com o bebê dela.
A Sesau (Secretaria de Estado da Saúde) de Alagoas informou que, até o dia 15 de dezembro, o Cievs (Centro de Informação Estratégica em Vigilância em Saúde) registrou 111 casos suspeitos de microcefalia, sendo 105 casos em recém-nascidos e seis casos intrauterinos.
Areia Vermelha (foto) é um dos povoados de Limoeiro de Anadia, pouco mais de 100 km distante de Maceió
Ana Ignacio/R7Dengue
Conforme decreto de situação de emergência em Alagoas, a região também tem sofrido com epidemia de dengue. Em Arapiraca, município vizinho a Limoeiro de Anadia — cidade para onde muitos pacientes são encaminhados em casos mais graves ou de urgência — as campanhas de conscientização estão bem fortes.
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Todo sábado, a equipe da prefeitura tem realizado um mutirão com carros de som espelhados pela cidade. As rádios locais chegaram até a ceder um espaço da programação para as campanhas. Aglai Tojal, superintendente da Vigilância em Saúde de Arapiraca, explica que a epidemia não é inédita, mas que a situação é bastante séria.
— No início do ano, a gente teve uma epidemia de dengue e agora o número de casos ultrapassa os 600 em Arapiraca e nós temos um índice de infestação predial acima dos 6% e isso faz com que a gente se preocupe porque os criadores de mosquito são elevados e estão presentes nas residências.
Segundo ela, a cidade já registrou um óbito por dengue — relacionado a outras doenças que agravaram a situação e os casos de zika também começaram a preocupar a administração municipal.
— Estamos com nove casos de microcefalia associado ao zika vírus. Foram mulheres que relatam que, no período da gravidez, tiveram os sintomas do zika e seria, provavelmente, o vírus.
Para a superintendente, a conscientização da população é a única forma de lidar com a epidemia.
— A única arma que nós temos é a prevenção e a prevenção é não deixar nada que acumule mosquito. Temos que eliminar esses focos.
*A repórter viajou a convite da empresa farmacêutica Sanofi