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Ebola deixa rastro de tristeza e preconceito na Libéria

Doença matou mais de 4.000 no país e destroçou comunidades inteiras

Saúde|

Ebola matou mais de 4.000 em um ano na Libéria
Ebola matou mais de 4.000 em um ano na Libéria Ebola matou mais de 4.000 em um ano na Libéria

Cada pessoa em cada cidade da Libéria tem muitas histórias para contar sobre como a epidemia do vírus ebola, que só neste país matou 4.500 pessoas em um ano, entrou em suas casas e destroçou comunidades inteiras, infectando pais, filhos e avôs.

Nesses lugares, cada família também tem uma história que só ela pode contar. Cada um vive as tragédias de forma diferente e, ao mesmo tempo, todas têm algo em comum: a tristeza pelos que se foram e o temor dos que sobreviveram à doença. Os Wesseh, do subúrbio de Caldwell, nos arredores de Monróvia, eram uma típica família liberiana.

Josiah, de 37 anos, e seu pai trabalhavam e ganhavam US$ 60 (cerca de R$ 180) ao mês entre os dois, enquanto a mãe e outras duas irmãs se encarregavam das tarefas do lar. Tudo mudou em maio de 2014, quando o pai se infectou com o vírus do ebola e morreu pouco depois. "Sua morte pôs toda a família à beira do abismo e nunca nos recuperamos totalmente de sua perda", explicou Josiah à Agência Efe.

Pouco depois, a epidemia se estendeu pela Monróvia e Josiah perdeu seu trabalho, e os Wesseh ficaram sem nenhuma fonte de renda. Por causa disso Mary, uma das irmãs mais novas de Josiah, suspendeu seu sonho de ir para a universidade e buscou um emprego. "(Mary) queria estudar economia, mas com a morte de nosso pai e meu desemprego suas chances de chegar à universidade ficaram muito limitadas", desabafou Josiah.

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Um dia, a sorte dos Wesseh mudou e Mary conseguiu um trabalho como higienista em uma UTE (Unidade de Tratamento de ebola) de Monróvia, o que deu um respiro para sua família. Primeiro no Hospital Redenção e depois na Clínica Ilha, Mary esteve em contato direto com pacientes de ebola, já que seu trabalho consistia em alimentá-los e limpá-los.

Sua grande contribuição para salvar sua cidade também foi sua perdição. Josiah sempre teve medo que isso acabasse acontecendo e nunca se sentiu confortável sabendo que a comida que havia na mesa vinha de um trabalho tão arriscado e sacrificado, embora estivesse muito orgulhoso de sua irmã. Dois meses após começar a trabalhar, Mary também se infectou e morreu. "Mary era a chefe da família. Chorei muito desde sua morte", lembrou entre soluços.

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Josiah nem sabe onde sua irmã foi enterrada porque fizeram valas comuns e ninguém disse para onde levaram seu corpo. Na Libéria, o vírus do ebola infectou mais de 10 mil pessoas, e quase a metade delas morreram, o que torna a história dos Wesseh algo comum. Mas não sofreram só os que perderam alguém. Os que sobreviveram ao vírus, além de superar a doença, agora enfrentam os medos irracionais e o estigma dos que não se contagiaram e ainda temem entrar em contato com eles. Siannie Beyan conseguiu se curar em uma das clínicas da ONG Médicos sem Fronteiras, mas ao deixar o hospital se chocou com uma dura realidade: seu marido a deixou e seus vizinhos a olham com receio.

"Perdi uma relação de dez anos por culpa do ebola. Ele me abandonou pouco depois de eu ser internada na clínica e meus dois filhos ficaram vários dias largados porque nem os vizinhos se atreviam a entrar em minha casa", contou Siannie à Efe.

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Sua avó materna se deu conta de que as crianças estavam sozinhas e passou a levar comida, mas não se atreveu a leva-los para sua casa porque tinha medo que a contaminassem. Quando Siannie teve alta, sua alegria era imensa e só queria voltar para casa para ver seus filhos, mas não imaginava o que viveria.

— O dono da casa não quis me deixar entrar e tive que procurar outro lugar. Minha mãe quis me acolher, mas teve o mesmo problema com seu arrendatário. Agora ela vive em uma nova casa onde ninguém sabe que teve ebola, mas passou a viver com medo de ser apontada pelas ruas da Monróvia.

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