Método de diagnóstico que analisa fala dos pacientes prevê casos de esquizofrenia com 80% de precisão
Estudo contribui especialmente para diagnóstico de crianças e adolescentes
Saúde|Do R7
O novo método de diagnóstico da esquizofrenia desenvolvido pelos cientistas do Instituto do Cérebro da UFRN se baseia na análise da fala dos pacientes. De acordo com a autora principal do artigo, a psiquiatra Natália Mota, a psicopatologia clássica já via na maneira de se expressar do esquizofrênico uma forma de distinguir a doença de outras, como do transtorno bipolar.
— Há muito tempo os sintomas da desordem do pensamento expressa na fala foram descritos como típicos da esquizofrenia. Não apenas o conteúdo do que a pessoa fala, mas a forma. O psiquiatra observa esses sintomas com base no que chama de 'descarrilamento do pensamento e frouxidão das ideias'.
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Segundo ela, no caso dos pacientes crônicos, o psiquiatra consegue perceber esses sintomas com relativa facilidade, a partir do histórico das crises e da expressão das ideias, que já apresenta clara falta de conectividade. Mas, em crianças e adolescentes que começam a ter sintomas, o clínico tem dificuldades para diferenciar a esquizofrenia da bipolaridade e de outros transtornos mentais.
— Percebemos que seria importante aplicar esse método de análise da fala logo início, a fim de poder rastrear quais pacientes poderiam desenvolver no futuro os sintomas mais difíceis de tratar, como a degradação cognitiva.
Aplicação clínica
Natália, que está concluindo o doutorado em Neurociências no Instituto do Cérebro, acompanhou as crianças que chegavam para a primeira consulta em um Centro de Atenção Psicossocial Infantil em Natal.
Depois de fazer gravações de 30 segundos da fala das crianças — enquanto elas contavam um sonho da noite anterior, por exemplo —, os cientistas analisaram como as palavras se conectavam, utilizando para isso um software desenvolvido por eles e baseado na teoria dos grafos, um ramo da matemática que estuda as relações entre os elementos de um conjunto, de palavras, neste caso. O estudo também teve participação do físico Mauro Copelli, da Universidade Federal de Pernambuco.
Depois da transcrição da gravação, os cientistas carregavam o arquivo de texto no software, cujo algoritmo quantifica as características da conectividade entre as palavras.
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Seis meses após o experimento, já com o diagnóstico das crianças definido clinicamente, foi possível observar as diferenças do discurso daquelas que apresentavam esquizofrenia e testar a eficácia do método.
— O que observamos é que, já na primeira entrevista, as crianças que seis meses depois foram diagnosticadas com esquizofrenia falavam de uma forma bem menos conectada e menos complexa.
Ao combinar os três diferentes componentes matemáticos utilizados para obter as medidas de aleatoriedade da fala, os cientistas criaram um número único — o índice de fragmentação da fala —, que tornou o resultado ainda mais consistente. A técnica previu a esquizofrenia com mais de 80% de precisão.