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Novo teto para campanha barraria 2 de cada 3 senadores eleitos em 2014

Postulantes terão limite entre R$ 2,5 milhões e R$ 5,6 milhões em 2018

Brasil|Alexandre Garcia e Giuliana Saringer, do R7*

Teto foi aprovado em votações simbólicas no Congresso
Teto foi aprovado em votações simbólicas no Congresso Teto foi aprovado em votações simbólicas no Congresso

Os novos limites de financiamento de campanhas eleitorais, que constam da reforma política recém-aprovada no Congresso, vão obrigar grande parte dos políticos a enxugar seus gastos de campanha a partir de 2018.

No Senado Federal, se as regras estivessem em vigor nas Eleições 2014, o teto de despesas teria sido ultrapassado por 17 (62,96%) dos 27 parlamentares eleitos (compare os gastos no quadro abaixo).

Significa que seis em cada dez senadores teriam problemas para prestar contas à Justiça Eleitoral.

Especialistas em direito eleitoral consultados pelo R7 aprovam o teto para as campanhas políticas, mas alertam para a possibilidade do surgimento de dinheiro ilícito no financiamento dos candidatos.

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A partir de 2018, os limites de gastos para a eleição de senadores vão variar entre R$ 2,5 milhões e R$ 5,6 milhões, de acordo com o número de eleitores de cada uma das unidades da federação.

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Com um gasto que alcançou os R$ 18 milhões, o senador Antônio Anastasia (PSDB-MG) liderou as despesas no pleito de 2014.

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Caso as regras aprovadas já estivessem em vigor, as contas do tucano ultrapassariam em R$ 13,8 milhões o limite de R$ 4,2 milhões estabelecido a partir de 2018 para o Estado de Minas Gerais.

Anastasia liderou os gastos entre os senadores em 2014
Anastasia liderou os gastos entre os senadores em 2014 Anastasia liderou os gastos entre os senadores em 2014

O advogado Tony Chalita classifica como “irreal” o valor estabelecido pela reforma. Ele avalia que os partidos vão precisar se estruturar de maneira mais empenhada para conseguir mostrar suas campanhas.

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— O que se verifica é que o valor, com absoluta certeza, vai ser mais alto [do que o limite]. É a perpetuação do caixa 2.

O vice-presidente da comissão de direito eleitoral da OAB-SP (Ordem dos Advogados do Brasil), Alberto Rollo, lembra que, em 2014, foram gastos “valores absurdos” pelos candidatos e afirma que o estabelecimento de um limite de gastos vai igualar as condições dos candidatos. 

Rollo, no entanto, destaca que a última eleição majoritária ainda autorizava as doações privadas, o que impulsionou os valores arrecadados.

— É lógico que o pessoal gastou R$ 200 milhões [na campanha presidencial] porque tinha doação de pessoa jurídica. Agora, eu não sei se alguém conseguiria arrecadar esses valores em pessoa jurídica.

O fim do financiamento privado das campanhas políticas citado por Rollo foi estabelecido pelo STF (Supremo Tribunal Federal) em 2015. O veredito teve o apoio de oito dos ministros da Corte e levou em conta a pressão criada pela Operação Lava Jato, que revelou pagamentos ilícitos de empresas para irrigar campanhas eleitorais. 

A suspensão definitiva dos pagamentos privados para as campanhas levou à criação, em outubro de 2017, de um fundo de, aproximadamente, R$ 1,7 bilhão para bancar os candidatos a partir de 2018.

Diante do cenário atual, Chalita avalia que as regras estabelecidas dificilmente serão cumpridas, já que o Poder Judiciário não tem estrutura para fiscalizar as campanhas de todos os candidatos.

— Hoje, a prestação de contas acaba sendo o cumprimento de uma formalidade sem que haja uma efetiva fiscalização, porque a Justiça Eleitoral não tem aparatos para isso. O Judiciário finge que fiscaliza e o candidato finge que presta contas.

Alencar diz que mudança vai exigir mais dos candidatos
Alencar diz que mudança vai exigir mais dos candidatos Alencar diz que mudança vai exigir mais dos candidatos

No pleito de 2014, o senador Otto Alencar (PSD-BA) gastou R$ 6.313.304,93, valor que excede em mais de R$ 2 milhões o limite de R$ 4,2 milhões estabelecido para a disputa do cargo no Estado da Bahia a partir do ano que vem.

Apesar do excedente, Alencar diz apoiar o teto de gastos para as campanhas eleitorais.

O parlamentar observa que a mudança vai fazer com que os candidatos foquem mais nas habilidades eleitorais do que no alcance da campanha em si e compara a eleição a um jogo de futebol.

— Essas regras mais rígidas podem melhorar muito o comportamento político nas campanhas. Ninguém pode se queixar, porque as regras são iguais para todos. [...] Nós vamos jogar no mesmo campo, não pode se queixar dele. Quem for mais militante, mais articulado faz o gol.

Autofinanciamento

A única crítica apresentada pelo senador Otto Alencar em relação à proposta aprovada no Senado refere-se ao autofinaciamento das campanhas. De acordo com o texto, será permitido que o próprio candidato pague suas próprias campanhas.

— Qualquer candidato pode colocar o quanto ele quiser [do próprio bolso]. Eu acho que deveria ter uma regra mais intermediária. 

Chalita comenta que o grande problema do autofinanciamento dos candidatos sem teto de gastos estabelecido é que aqueles que possuem mais recursos sairão em vantagem na corrida eleitoral.

— A preocupação do legislador de ter um limite de doação de pessoas físicas é garantir que os candidatos não vendam a campanha. Quando você autoriza o financiamento sem limite, você vai acabar retribuindo no futuro.

O especialista explica que os financiamentos de campanha por companhias privadas foram suspensos pela mesma lógica. Essa será a primeira experiência de eleições gerais em que os candidatos não poderão contar com o apoio financeiro de companhias privadas.

Senadores defendem os novos limites de campanha
Senadores defendem os novos limites de campanha Senadores defendem os novos limites de campanha

Outro lado

Líder dos gastos entre os senadores eleitos em 2014, o senador Antônio Anastasia disse, em nota, que a campanha “foi realizada de acordo com as regras da época. Agora, em 2017, ele não só apoiou, mas votou favoravelmente às mudanças para o sistema de limite de gastos em campanhas eleitorais”.

Apesar da campanha com valores superiores ao determinado pela PEC, a senadora Maria do Carmo (DEM-SE) diz ser “totalmente favorável que as campanhas eleitorais sejam mais baratas e adequadas ao novo teto que venha a ser estabelecido”.

Já Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE) afirma que “considera necessária" e defende a redução dos gastos de campanhas. Ele diz que cumprirá todas as novas regras eleitorais aprovadas pelo plenário do Senado.

A assessoria do senador Acir Gurgacz (PDT-RO) garante que o parlamentar vê “de forma positiva” a mudança nos gastos de campanhas e diz que o parlamentar se posicionou contra o fundo de financiamento aprovado pelo Congresso.

Os senadores Ronaldo Caiado (DEM-GO) e José Maranhão (PMDB-PB) disseram que não vão se posicionar sobre o assunto. O R7 não obteve resposta dos senadores Rose de Freitas (PMDB-ES), Gladson Cameli (PP-AC), Omar Aziz (PSD-AM), Simone Tebet (PMDB-MS), Wellington Fagundes (PR-MG), Kátia Abreu (PMDB-TO) e José Serra (PSDB-SP) até o fechamento desta reportagem.

Não foi possível o contato com a assessoria dos senadores Tasso Jereissati (PSDB-CE), Roberto Rocha (PSB-MA) e Fátima Bezerra (PT-RN).

* Sob supervisão de Raphael Hakime.

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