Ação da PM deixa ao menos 6 indígenas e 3 policiais feridos em MS
Episódio ocorreu nesta sexta-feira (24), no município de Amambai; Secretaria de Justiça e Segurança Pública ainda não se pronunciou
Brasília|Plínio Aguiar, do R7, em Brasília
Uma ação de reintegração de posse feita pela Polícia Militar nesta sexta-feira (24) em Amambai, município de Mato Grosso do Sul próximo à fronteira com o Paraguai, deixou ao menos seis indígenas e três policiais feridos. Há também relatos, segundo o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), de pelo menos três indígenas desaparecidos — todos mulheres e crianças.
A informação foi confirmada à reportagem pelo Hospital Regional de Amambai. As vítimas, que apresentam ferimentos por arma de fogo, deram entrada no local por volta de 12h.
Segundo a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Abip), há indígenas mortos e desaparecidos. A assessoria de Comunicação da Secretaria de Justiça e Segurança Pública de Mato Grosso do Sul confirmou a reintegração de posse e disse que não houve mortos durante a operação.
De acordo com a Abip, a Polícia Militar teria realizado a operação sem ordem judicial. Em publicação nas redes sociais, a entidade diz que os agentes atacaram as comunidades Guarani e Kaiowá. "Dezenas de indígenas feridos, desaparecidos e mortos. Precisamos de assistência médica e ambulância. Pedimos justiça", postou a Abip.
O Cimi relatou que os indígenas Guarani e Kaiowá retomaram, na noite desta quinta-feira (23), parte de um território considerado ancestral, denominado Kurupi/São Lucas, em Narivaí (MS). Após a retomada, houve ataque armado, que começou ainda na madrugada e se estendeu até o início desta sexta-feira (24).
A comunidade, segundo a entidade, aguarda há décadas a conclusão dos estudos que já identificaram a área como de posse tradicional das comunidades. "Na noite de quinta-feira (23), haviam avançado preliminarmente apenas até uma área de pastagem, vizinha à faixa de mata que já ocupavam, e decidiram ocupar a sede de uma fazenda que se encontra dentro de seu território", diz o Cimi, em nota.
"Muitos disparos foram efetuados, forçando os indígenas a deixarem a sede da fazenda e retomar para a beira da rodovia, no acampamento Kurupi", acrescentou.
As reservas indígenas de Mato Grosso do Sul, principalmente no sul do estado, estão entre as regiões mais violentas do mundo. Dados revelam que, nas reservas do entorno do município de Antônio João, a taxa de homicídios em 2015 foi de 95,78 por 100 mil habitantes. Na região de Dourados, de 92,19, e, em Amambai, 77,2.
Nas aldeias da região de Dourados, a densidade demográfica indígena é de 86,7 habitantes/km², ante 52,7 no município e 7,49 no estado. Em Amambai, a densidade nas reservas chega a 207,7 índios por km². Já nas reservas do entorno de Antônio João, que registraram a maior taxa de homicídios em 2015, é de 10 habitantes/km².
O Ministério Público Federal em Ponta Porã informou estar ciente do caso e disse que vai analisar que providências podem ser tomadas. O R7 também procurou a Fundação Nacional do Índio (Funai) e aguarda retorno.