Acionar órgãos como Brics e OMC contra tarifaço pode ser erro estratégico, dizem especialistas
Mercosul e G20 também surgem como alternativas, porém esforços continuam centralizados em uma resolução diplomática definitiva
Brasília|Luiza Marinho*, do R7, em Brasília
RESUMO DA NOTÍCIA
Produzido pela Ri7a - a Inteligência Artificial do R7

Sem um plano ainda definido, o Brasil tenta se movimentar no tabuleiro internacional. Brics, G20, OMC e até o Mercosul são vistos como possíveis estratégias para a construção de alianças e tentativas de achar uma solução após os Estados Unidos anunciarem a imposição de uma tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros.
No entanto, os limites dessas plataformas, sobretudo diante do histórico recente dos norte-americanos de ignorar decisões multilaterais, impõem um desafio significativo à diplomacia brasileira.
Especialistas ouvidos pelo R7 veem risco em apelar a organismos internacionais. Segundo eles, o caminho precisa ser focado em promover uma ação de diálogo conjunta com o governo de Donald Trump.
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O presidente Lula determinou a abertura de uma queixa formal na OMC (Organização Mundial do Comércio) e acionou o Itamaraty para buscar apoio em organismos multilaterais.
A falta de diálogo direto e o fato de o Brasil ter sido deixado de fora de recentes acordos comerciais firmados pelos Estados Unidos com países como Japão, Indonésia e Filipinas — que aceitaram tarifas menores em troca de concessões — contribuíram para as novas estratégias do governo federal.
Apesar disso, o governo ainda evita adotar imediatamente a chamada Lei da Reciprocidade, que permitiria a imposição de tarifas equivalentes aos produtos norte-americanos.
A medida, regulamentada recentemente, enfrenta forte resistência de setores empresariais, preocupados com os efeitos colaterais de uma guerra comercial.
A queixa formal apresentada à OMC acusa os EUA de utilizar tarifas como ferramenta para interferência política em países estrangeiros.
Busca por alternativas
Na ausência de resposta às gestões comerciais e diplomáticas, e com a aproximação da data de entrada em vigor da tarifa, marcada para 1º de agosto, o Brasil avalia recorrer a organismos internacionais como meios de sustentar sua posição e ampliar o apoio internacional.
“A capacidade dos fóruns multilaterais de atuarem como escudos diplomáticos é limitada e depende do tipo de fórum”, explica Guilherme Frizzera, especialista em relações internacionais.
“O Brics e o G20 não oferecem instrumentos jurídicos ou coercitivos, mas podem ser utilizados como plataformas de pressão política e coordenação com outros países que compartilhem preocupações semelhantes”, afirma.
A resposta combativa do presidente Lula, que chegou a dar pessoalmente a ordem de acionar a OMC em telefonema ao chanceler Mauro Vieira, visa preservar a imagem do Brasil como ator global independente.
“O entorno de Lula começa a ver esse episódio como um trunfo inesperado, com o poder de projetar a popularidade do presidente a partir de um discurso de enfrentamento e autonomia, mas essa retórica pode ser fulminada rapidamente, com os efeitos econômicos da taxação atingindo diretamente o bolso e o emprego do cidadão comum.”
Diálogo
A crise também reabre o debate sobre a tradicional estratégia brasileira de manter uma posição de equilíbrio entre grandes potências.
Segundo o coordenador do curso de relações internacionais da Universidade Católica de Brasília, Gustavo Menon, o diálogo é a melhor iniciativa para um acordo.
O conselho dele é enfrentar o desafio, diante da melhor tradição diplomática brasileiro, e seguir com os diálogos universalistas.
“Dessa forma, não negociar de maneira construtiva tende a aprofundar impactos negativos sobre a economia e a reputação internacional do Brasil, como revelam os inúmeros precedentes de outros países que já enfrentaram a mesma encruzilhada diplomática”, aponta Menon.
Guilherme Frizzera acrescenta que a chave é manter canais abertos com todos os polos de poder, diversificar parcerias e ocupar fóruns internacionais com propostas concretas.
“A estratégia brasileira continua viável, mas exige maior capacidade de adaptação”, argumenta.
Assim, segundo ele, em um cenário mais polarizado, o espaço para posturas intermediárias se estreita.
“O risco de isolamento existe apenas se essa postura não vier acompanhada de clareza estratégica e presença diplomática consistente”, alerta Frizzera.
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