Itamaraty cobra explicações de representante dos EUA após apoio de embaixada a Bolsonaro
Embaixada dos EUA publicou texto reforçando declarações do presidente Donald Trump a favor de Bolsonaro
Brasília|Caroline Aguiar, da RECORD, e Ana Isabel Mansur, do R7 em Brasília

O governo brasileiro convocou nesta quarta-feira (9) o encarregado de negócios dos Estados Unidos, Gabriel Escobar, para prestar explicações após a Embaixada dos EUA no Brasil publicar um texto reforçando declarações recentes do presidente dos EUA, Donald Trump, a favor do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
A RECORD confirmou a informação com fontes do Ministério das Relações Exteriores, e a expectativa é que o encontro ocorra até o fim do dia.
Nesta semana, Trump defendeu Bolsonaro e afirmou que ele é vítima de uma “caça às bruxas”. Além de inelegível até 2030, o ex-presidente é réu no STF (Supremo Tribunal Federal) por tentativa de golpe de Estado e abolição do Estado Democrático de Direito. Bolsonaro agradeceu o apoio do republicano.
A nota da Embaixada dos EUA publicada nesta quarta reforça o posicionamento do Trump a favor de Bolsonaro.
“Jair Bolsonaro e sua família têm sido fortes parceiros dos Estados Unidos. A perseguição política contra ele, sua família e seus apoiadores é vergonhosa e desrespeita as tradições democráticas do Brasil. Reforçamos a declaração do presidente Trump. Estamos acompanhando de perto a situação. Não comentamos sobre as próximas ações do Departamento de Estado em relação a casos específicos”, diz o texto.
Trump ameaça aplicar novas taxas ao Brasil
Nos últimos dias, em meio à cúpula do Brics — que ocorreu no último fim de semana, no Rio de Janeiro (RJ) —, Trump afirmou, pelas redes sociais, que taxaria em 10% qualquer nação que se alinhasse a “políticas antiamericanas” do grupo.
O bloco reúne, além de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, seis novos membros convidados.
Trump não especificou quais nações estariam na mira, tampouco esclareceu o que classificaria como “políticas antiamericanas”.
Respostas de Lula
Na segunda-feira (7), Lula criticou as declarações de Trump. Em fala à imprensa no encerramento da cúpula do Brics, o brasileiro chamou o norte-americano de “irresponsável e equivocado”.
“Não vou comentar essa coisa do Trump e do Bolsonaro. Eu tenho coisa mais importante para comentar do que isso. Este país tem lei, tem regra e tem um dono chamado povo brasileiro. Portanto, deem palpite na sua vida e não na nossa”, afirmou.
“Eu sinceramente nem acho que deveria comentar, porque não acho uma coisa muito responsável e séria um presidente de um país do tamanho dos EUA ficar ameaçando o mundo através da internet. Não é correto, ele precisa saber que o mundo mudou. Não queremos imperador. Somos países soberanos”, acrescentou Lula.
“Se ele achar que pode taxar, os países têm o direito de taxar também. Existe a lei da reciprocidade”, continuou.
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Lula também criticou o uso que Trump faz das redes sociais.
“Acho muito equivocado e muito irresponsável um presidente ficar ameaçando os outros em redes digitais. Tem outros fóruns para um presidente de um país do tamanho dos EUA falar com outros países. As pessoas têm que aprender que respeito é bom, é muito bom. A gente gosta de dar e de receber. E é preciso que as pessoas leiam o significado da palavra soberania. Cada país é dono do seu nariz”, acrescentou.
Antes de criticar Trump e Bolsonaro à imprensa, Lula usou as redes sociais para rebater os comentários do republicano.
“A defesa da democracia no Brasil é um tema que compete aos brasileiros. Somos um país soberano. Não aceitamos interferência ou tutela de quem quer que seja. Possuímos instituições sólidas e independentes. Ninguém está acima da lei. Sobretudo, os que atentam contra a liberdade e o estado de direito”, escreveu, sem citar o republicano.
‘Não aceitamos intromissão’
Nessa terça (8), ao lado do primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, Lula voltou a criticar Trump e Bolsonaro, afirmou que o Brasil não tolera interferência externa e defendeu o fortalecimento da cooperação entre nações do Sul Global.
“Somos países soberanos. Não aceitamos imposições sobre nossas decisões internas, muito menos de quem tenta se apresentar como dono do mundo. Acreditamos no multilateralismo, que foi essencial para a estabilidade global após a Segunda Guerra e hoje sofre ataques de forças extremistas”, declarou o presidente.
Lula também destacou a importância de Brasil e Índia no cenário global.
“Não aceitamos nenhuma reclamação da reunião do Brics. Não concordamos quando Trump insinuou que vai taxar o Brics. Ora, se eu comecei a minha fala dizendo que comecei a gostar mais da Índia depois que li o livro que contava a história da luta pela não violência do Gandhi, significa que hoje, aos 80 anos, continuo mais pacifista que era. O que queremos é fazer com que nossos países possam progredir. Não são quaisquer dois países”, acrescentou.
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