Brasil retoma parceria com Cuba na saúde com remédios para doenças raras como foco
País caribenho não pediu para voltar ao programa Mais Médicos, que agora permite profissionais de todas as nacionalidades
Brasília|Ana Isabel Mansur, do R7, em Brasília
A ministra da Saúde, Nísia Trindade, anunciou, na noite desta sexta-feira (15), que os acordos entre Cuba e Brasil na área da saúde serão retomados. A parceria diz respeito a trocas de conhecimento entre os dois países, com foco na pesquisa e produção de biofármacos e de remédios complexos para doenças raras e crônicas, como Alzheimer, diabetes e gastrite.
O anúncio foi feito em Havana, capital cubana, onde o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a comitiva presidencial aterrissaram, no início da noite desta sexta (15).
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As parcerias do tipo com Cuba começaram nos mandatos anteriores de Lula. Os ministros Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar) e Luciana Santos (Ciência, Tecnologia e Inovação) também estão no país caribenho e destacaram parcerias em suas respectivas áreas.
O acordo com foco na saúde prevê a criação de um comitê gestor. A agência reguladora em vigilância sanitária de Cuba e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) tanbém fazem parte da parceria.
O acordo com Cuba possibilitou a incorporação tecnológica da alfaepoetina. É um marco. Essa parceria permitiu que o Brasil entrasse num campo tecnológico de ponta.
A alfaepoetina é um biofármaco usado no tratamento da anemia associada à insuficiência renal crônica. O processo reduz o número de transfusões nos pacientes em diálise.
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Em 2004, a Fiocruz fechou contrato com uma empresa cubana, dentro do acordo entre Brasil e Cuba, de transferência de tecnologia do medicamento. O produto era desenvolvido pelo laboratório Bio-Manguinhos. O acordo foi descontinuado em 2017.
"Serão também inovações nos campos de vacinas e novos remédios a partir de inovações com base no uso de cana-de-açúcar. Esse é o escopo do acordo. Desenvolvimento e produção de ciência, tecnologia e inovação para a saúde, somando a expertise dos dois países. É um jogo de ganha-ganha", destacou Nísia.
De acordo com a ministra, o Brasil vai oferecer conhecimentos avançados em pesquisa clínica e a capacidade de produção em grande escala, tanto em laboratórios públicos quanto particulares. "O Brasil se beneficiará do conhecimento de ponta que Cuba desenvolveu, com investimentos de anos. Será possível avançarmos em desenvolvimento conjunto", completou.
Mais Médicos
A ministra informou que, por enquanto, não há previsão de retomar a participação específica de médicos cubanos no programa Mais Médicos. O projeto, relançado em julho, possibilita, nesta nova edição, especialistas de qualquer nacionalidade. A prioridade, porém, é para médicos brasileiros.
"Não houve pedido oficial para retomada de programa de intercâmbio e dessa prestação de serviço. Naturalmente, estamos abertos e interessados em colaborar em todos os campos da saúde, inclusive, com intercâmbio de profissionais e tudo que for importante e pertinente para os dois países", afirmou Nísia.
Dívidas
Questionado sobre os débitos que Cuba têm com o Brasil, estimados em R$ 2,5 bilhões, o ministro Paulo Teixeira afirmou que o assunto ainda não foi tratado com as autoridades cubanas.
"Se trata, agora, de retomar debate com Cuba. A negociação vai acontecer naturalmente, tendo em vista que eles foram muito maltratados e agredidos nos últimos anos. Se trata de retomar relações, e esse tema, evidentemente, vai entrar no debate", destacou.
Outras áreas
O ministro Paulo Teixeira destacou que a pasta chefiada por ele também retomará parcerias com Cuba. "Eles têm muito conhecimento na agricultura. Queremos trocar esse saber. Devemos assinar amanhã um memorando de entendimento entre o Ministério da Agricultura de Cuba e o nosso, para estabelecer essas trocas", previu.
Segundo Teixeira, as áreas incluem agricultura famliar, genética de espécies agroalimentares, bioinsumos, alimentação animal, agricultura de conservação, sistemas alimentares tradicionais, fertilizantes, agricultura periurbana, agroindústria e acesso a água.
A ministra Luciana Santos frisou que biotecnologia também será tema de parceria entre a pasta de Ciência, Tecnologia e Inovação e o país caribenho.
"Vamos retomar o comitê gestor Brasil-Cuba para elaborar um plano de ação comum. Vamos assinar um memorando para retomar a última reunião, que foi em 2010. Daqui a 60 dias, vamos fazer a próxima. As áreas de conhecimento que temos interesse são energia renovável, ciência agrária, soberania e segurança alimentar, redes de ensino e pesquisa e clima", elencou.
Relações brasileiras com Cuba
O relacionamento diplomático entre Brasil e Cuba existe desde 1906. A relação foi aprofundada de maneira inédita nos dois primeiros mandatos de Lula — como parcerias de cooperação técnica, aumento do comércio bilateral, participação brasileira em obras no país, como o Porto de Mariel, e intercâmbios entre profissionais, como o Mais Médicos.
As relações entre as duas nações, contudo, diminuíram significativamente a partir do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).