Brasília comemora 64 anos: confira as mudanças da cidade sonhada por JK à capital de hoje
Região no Planalto Central iniciou sua história com 140 mil habitantes e atualmente abriga quase 3 milhões de habitantes, segundo o IBGE
Brasília|Edis Henrique Peres, do R7, em Brasília
A capital do país, que comemora 64 anos neste domingo (21) e começou sua história com 140 mil habitantes, em 1960, atualmente abriga quase 3 milhões de moradores, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O número de regiões administrativas, antes chamadas de cidades-satélites, totalizam agora 35. Quando Brasília começou a ser construída, em outubro de 1956, o Planalto Central já era ocupado por dois núcleos urbanos: Planaltina, com quase um século, e Brazlândia, fundada em 1933, então povoado da área rural do município de Luziânia (GO), que tinha menos de mil moradores no começo de 1960.
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Com o início da construção, vários servidores e trabalhadores começaram a chegar para a nova capital do país, e acampamentos formaram novos núcleos urbanos. Na época, acreditava-se que os candangos, como eram chamados, voltariam para seus locais de origem depois da inauguração da capital.
A Cidade Livre, hoje Núcleo Bandeirante, por exemplo, foi o principal acampamento dos trabalhadores, e tinha a expectativa de uma existência limitada. Na época, para incentivar a vinda de comerciantes para o Planalto Central, o local era livre de pagamento de impostos. Partindo da mesma origem dos acampamentos dos trabalhadores, assim surgiram também a Candangolândia, o Paranoá e as vilas Planalto e Telebrasília.
A primeira cidade-satélite, de fato, criada pela Novacap (Companhia Urbanizadora da Nova Capital) foi Taguatinga. A região foi planejada por Lúcio Costa — ganhador do concurso que escolheu o projeto de Brasília —, mas deveria nascer apenas dez anos depois da inauguração de Brasília. Em junho de 1958, no entanto, a pressão popular fez com que a Novacap acelerasse o processo de assentamento das famílias.
Já em 1960, Sobradinho foi criada para a ser a moradia definitiva de trabalhadores da construção de Brasília. Depois surgiram outras regiões, como Gama e Guará. O nascimento de Ceilândia, por exemplo, nasceu da Campanha de Erradicação das Invasões (CEI), realizado pelo governador Hélio Prates. A região, então, foi batizada inspirada na sigla CEI e na palavra de origem norte-americana “landia”, que significa “cidade”.
Patrimônio imaterial
O conjunto urbanístico de Brasília, em 1987, foi declarado Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco, com o princípio fundamental de preservar a concepção da cidade. O historiador do Arquivo Público do Distrito Federal, Elias Manoel da Silva, considera importante essa classificação que congelou a cidade.
“Isso impediu a especulação imobiliária de mudar o planejamento dado para Brasília. A medida foi essencial para a gente proteger Brasília de mudanças que destruiriam a cidade”, disse. O especialista destaca ainda que o crescimento da capital já era previsto.
“A capital ia crescer de acordo com a organização regional, com um projeto especial urbano, que fosse em função das cidades. Isso já era previsto, em um processo gerado pela nova capital.”
O historiador também desmitifica a ideia de que Brasília foi construída para apenas 500 mil habitantes. “Esse número era para a região do Plano Piloto, o que significa que ainda estamos dentro do projetado, porque temos na região cerca de 300 mil habitantes. Era consciência de que a cidade iria crescer”, disse.
Mudanças no projeto
Elias conta que a cidade não foi inaugurada totalmente pronta, mas entregue com o que era necessário para se constituir como capital da República, como o Palácio dos Poderes e algumas moradias nas quadras modelos 107.
O projeto de Lúcio Costa, por exemplo, passou por mudanças. Em relação ao plano original, a banca avaliadora sugeriu que um dos eixos da asa descesse uns 800 metros para se aproximar do lago. “Com isso, a ponta da asa começou a pegar no lago Paranoá, por isso, a necessidade de construir a Ponte do Bragueto”, conta.
Outro ponto é que, embora Lúcio Costa tenha sido o criador do projeto de Brasília, ele não executou as obras. Elas ficaram a cargo de Augusto Guimarães Filho, um nome geralmente esquecido na história da capital. Em relação ao surgimento dos nomes da Asa Sul e Asa Norte, ele foi dado pelos próprios construtores.
“Lúcio Costa não queria que chamasse de Zona Sul e Zona Norte, porque isso já era São Paulo e Rio de Janeiro. Então aos poucos, para se referenciar aqui na cidade, para que eles se localizassem em termos das próprias obras, os trabalhadores começaram a nomear alguns locais. Assim, nasceu o Eixo W, a Asa Sul e Asa Norte, por exemplo.”
Moldura para Brasília
Nas palavras de Juscelino Kubitschek, o lago Paranoá seria a “moldura líquida de Brasília”, abraçando a cidade. Elias conta que a construção do lago já era comentada na 2ª Comissão Cruls, quando o francês Auguste Glaziou defendeu a recriação de um lago que, segundo ele, deveria ter existido na região há milhões de anos.
“O lago, então, já tinha várias menções quando o projeto de Brasília foi feito. Ele surge com o intuito de recreação e lazer da população, assim como trazer mais qualidade de vida. Outros pontos importantes para a construção do lago é o paisagismo e o abastecimento de água. O lago foi utilizado, por exemplo, durante a nossa crise hídrica.”