Caso Wanderson: criminoso ingeriu apenas biscoitos e água na fuga
Suspeito de matar a mulher, uma enteada e um vizinho em 28 de novembro, ele se entregou à polícia e confessou os assassinatos
Brasília|Josiane Ricardo, da Record TV
Wanderson Mota Protácio, suspeito de matar a mulher, uma enteada e um vizinho em 28 de novembro último ingeriu apenas biscoitos e água durante a fuga. O criminoso ficou foragido por seis dias até se entregar à polícia no sábado (6) no município de Gameleira, em Goiás, a cerca de 200 quilômetros de Brasília.
Segundo o delegado Tibério Martins, responsável pelo caso, Wanderson comprou os biscoitos em um mercado de Abadiânia, em Goiás, logo após cometer o triplo homicídio em Corumbá. Ele também estava com uma garrafa de água, que enchia pelos lugares em que passava.
Martins informou que o criminoso havia dormido todas essas noites no meio do mato. Na última sexta-feira (3), ele passou muito frio por causa das fortes chuvas que atingiram a região onde estava escondido. A polícia acredita que esse tenha sido um dos motivos de Wanderson ter se entregado.
Como foi a prisão
Nas primeiras horas de sábado, Wanderson invadiu uma propriedade rural em Gameleira. A dona da casa estava sozinha na residência porque o marido tinha ido buscar leite. O criminoso se aproveitou da situação e anunciou o assalto. Ele estava armado. Cinda Mara reconheceu o suspeito e tentou acalmá-lo. Segundo a fazendeira, o homem estava com fome e dizia que tinha medo de morrer. Quando o marido de Cinda chegou, os dois conversaram com o assassino confesso e o convenceram a se entregar à polícia. Depois que ele topou, a mulher tirou uma foto com o criminoso e a enviou ao prefeito da cidade.
Segundo Cinda, a imagem foi enviada para comprovar que a denúncia era verdadeira, já que a polícia estava recebendo diversos alarmes falsos sobre o paradeiro do suspeito. O prefeito repassou a mensagem aos investigadores e o casal de fazendeiros levou Wanderson ao batalhão de Gameleira. De lá, os militares o conduziram até a delegacia de Anápolis, onde está concentrado o caso.
Depoimento
Na delegacia, Wanderson disse aos policiais que tinha tido uma discussão com Raniele Aranha Fugueiró, companheira dele, no dia dos crimes. A briga teria sido causada por ciúme, pois Raniele não teria gostado da maneira como Wanderson olhou para uma prima dela. O criminoso contou que tinha usado muita cocaína e ingerido bebida alcoólica naquele dia. Por isso os ânimos ficaram exaltados. “Disse que a namorada pegou uma faca e foi para cima dele e, para se defender, ele pegou o objeto e atacou Raniele”, afirmou o delegado.
Wanderson não entrou em detalhes sobre como matou a criança. “Essa é a única parte que mexe com ele. Não falou muito sobre a menina, mas disse que ela tinha visto o momento em que ele mata a mãe dela. Por isso decidiu tirar a vida dela também. Pegou a faca e acertou um golpe um pouco abaixo do pescoço da menina”, contou Tibério Martins.
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Segundo o delegado, o suspeito "é um cara frio. Finge se emocionar quando fala da criança; aliás, quando falamos, porque, sobre ela, ele não fala, fica mudo”.
O policial disse que Wanderson confessou que só havia matado o vizinho Roberto Clemente de Matos, de 73 anos, para que pudesse fugir com o carro dele, uma caminhonete.
Triplo homicídio
Wanderson Mota Protácio confessou ter matado a companheira, Raniele Aranha, de 19 anos, a filha dela, Geysa Aranha Rocha de Souza, de 1 ano e 8 meses, e o vizinho Roberto Clemente de Matos, de 73 anos. O crime aconteceu na fazenda em que eles moravam, em 28 de novembro último, em Corumbá de Goiás, a 130 quilômetros de Brasília.
Depois de esfaquear a mulher, que estava grávida de quatro meses, e a enteada, Wanderson foi até a casa do patrão, ao lado do local do crime, e roubou a arma dele.
Armado, o criminoso entrou na fazenda vizinha e foi recebido pelos donos da propriedade, Cristina Nascimento Silva e Roberto Clemente. O casal conhecia Wanderson e até o tinha presenteado com botas de lavrador alguns dias antes do triplo homicídio.
Para fugir no carro de Roberto, Wanderson deu um tiro na cabeça do idoso e atacou a esposa dele com diversas mordidas no rosto. A mulher conseguiu correr, mas teve o ombro atingido por disparos. Ela se fingiu de morta para se salvar, e o agressor correu. Cristina, socorrida com vida, precisou passar por uma cirurgia no olho, mas seu quadro de saúde é estável. No hospital, ela contou aos familiares que o criminoso teve dificuldade de ligar o veículo, mas o plano de fuga dera certo.
No dia do triplo homicídio, Wanderson abandonou a caminhonete em uma rodovia da região e fugiu a pé. Ele foi para Alexânia. Lá, ele teria entrado em uma igreja evangélica, recebido oração e fugido. O criminoso vendeu alguns celulares que roubou e pediu um táxi para Abadiânia. Por isso a operação para encontrar o foragido foi montada no município.
Ele então pegou uma carona até Gameleira. A polícia acredita que Wanderson estava tentando pedir ajuda à mãe do filho dele, que mora próximo ao local. Mas, depois de seis dias de fuga, decidiu se entregar.
Histórico
No depoimento, Wanderson também falou sobre o passado violento antes de chegar a Goiás. Ele disse à polícia que, quando tinha 13 anos, matou o tio de uma namorada em Minas Gerais. O criminoso diz que reagiu porque a vítima havia batido na garota. Ele também participou de um latrocínio (roubo seguido de morte) com outros dois autores, ainda em Minas. O criminoso ficou preso por seis meses, mas depois foi liberado.
Ao sair da cadeia, Wanderson foi para Goiás procurar emprego. Começou a trabalhar em plantações de tomate em Goianópolis. Lá, ele acabou detido novamente em 2019 por tentativa de feminicídio. Wanderson deu diversas facadas em uma mulher que era parente da madrasta dele. O criminoso foi condenado, mas liberado em março de 2020 após quatro meses. Ele chegou a zombar da situação durante audiência.
Nesse mesmo período, Wanderson se relacionou com uma mulher e teve um filho com ela. A criança tem 2 anos. O relacionamento não deu certo. O criminoso foi morar em Corumbá e conheceu Raniele Aranha, que já tinha uma filha com outro homem. O casal decidiu morar junto e ela engravidou. O namoro teve início oito meses antes da chacina.
De acordo com a mãe de Raniele, o casal não demonstrava passar por crises. Antonia Aranha diz que não percebeu nada de estranho na filha porque já tinha notado um comportamento depressivo desde que a vítima se separou do ex-namorado, pai de Geysa. “Ela sempre estava triste, mas nunca percebi qualquer tipo de maus-tratos. Nunca fui com a cara dele [Wanderson]. Mãe sente essas coisas”, diz Antonia.
Justiça
De acordo com o delegado Tibério Martins, Wanderson ficará preso no presídio de Corumbá. “Ele deve pegar, no mínimo, 40 anos em regime fechado”, diz o delegado.