‘Confusão mental’, diz Witzel sobre suposto pedido a Bolsonaro por vaga no STF
Pedido seria em troca de resolver o caso do filho do presidente, o hoje senador Flávio Bolsonaro, na Receita
O ex-governador do Rio de Janeiro Wilson Witzel afirmou que o ex-presidente Jair Bolsonaro deve ter se confundido e que não foi a primeira vez que mencionou conversas que nunca tiveram. Em áudio obtido pela Polícia Federal de uma reunião em 2020, o ex-presidente disse que o então governador pediu uma vaga no Supremo Tribunal federal em troca de resolver o caso do filho de Bolsonaro, o hoje senador Flávio Bolsonaro.
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“Seja por confusão mental, diante de suas inúmeras preocupações, seja por acreditar que eu faria, a nível local, o que hoje se está verificando que foi feito com a Abin e Policia Federal. No meu governo a Polícia Civil e militar sempre tiveram total independência e os poderes foram respeitados. A história e tudo o que aconteceu comigo comprovam isso”, disse.
Na ocasião, o ex-presidente e Ramagem tratavam sobre providências para tentar livrar o senador Flávio Bolsonaro (PL) de uma investigação da Receita Federal sobre possível esquema de “rachadinha” em seu gabinete na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, na época em que era deputado estadual.
“O ano passado, no meio do ano, encontrei com o Witzel, não tive notícia [inaudível] bem pequenininho o problema. Ele falou, resolve o caso do Flávio. ‘Me dá uma vaga no Supremo’”, diz Bolsonaro na gravação.
“Rachadinha” é o nome dado a uma manobra em que os funcionários devolvem parte do salário recebido ao parlamentar. Segundo o MPRJ (Ministério Público do Rio de Janeiro), a investigação do caso começou depois do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) identificar movimentações bancárias atípicas no nome de Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio apontado como uma das pessoas ligadas à movimentação no gabinete do parlamentar.
Também participaram dessa reunião o então ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), Augusto Heleno, e uma advogada de Flávio. A gravação tem uma hora e oito minutos de duração. Conforme a corporação, Ramagem teria afirmado na reunião que seria preciso instaurar “procedimento administrativo contra os auditores, para anular as investigações, bem como retirar alguns auditores de seus respectivos cargos”.
Eles discutiram formas de conseguir informações sobre a investigação contra o senador e que essa atuação deveria ter um tom “fechadíssimo”. A gravação integra o inquérito que investiga o uso da estrutura da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para espionagem ilegal de autoridades.
Alexandre Ramagem vai prestar depoimento na próxima quarta-feira (17), no Rio de Janeiro. Na semana passada, a Polícia Federal cumpriu cinco mandados de prisão preventiva contra pessoas que teriam participado do esquema. As ordens foram expedidos pelo STF.
Em relatório enviado à Corte, a PF informou que os policiais federais que atuavam na Abin, sob a direção de Alexandre Ramagem, utilizaram-se das ferramentas da agência para serviços “ilícitos e para interferir em diversas investigações da Polícia Federal”.