CPMI do 8 de Janeiro vai pedir quebra de sigilo da deputada Carla Zambelli, afirma relatora
O hacker Walter Delgatti Neto afirmou que recebeu quantias em dinheiro da parlamentar para 'invadir qualquer sistema da Justiça'
Brasília|Camila Costa, do R7, em Brasília
Após ter ouvido o depoimento do hacker Walter Delgatti Neto, nesta quinta-feira (17), a relatora da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de Janeiro, a senadora Eliziane Gama (PSD-MG), afirmou que um dos próximos passos do colegiado é pedir a quebra de sigilo telefônico da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP). Isso deve acontecer na próxima semana, junto com a liberação dos relatórios de inteligência financeira (RIFs) do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL-RJ).
Delgatti Neto foi ouvido nesta quinta-feira (17) na CPMI. Ele afirmou que recebeu quantias em dinheiro de Zambelli, que supostamente queria que ele "invadisse a urna eletrônica ou qualquer sistema da Justiça" com o objetivo de demonstrar uma possível fragilidade do sistema.
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Ele ainda disse que foi a deputada federal quem escreveu a decisão falsa que determinava a prisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. O texto, inserido pelo hacker no sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), continha uma série de ironias em relação à atuação de Moraes como presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Autor do requerimento que convocou o hacker Walter Delgatti Neto, o deputado federal Rogério Correia (PT-MG) afirmou que o depoimento desta quinta-feira trouxe informações que demonstram que os planos antidemocráticos começaram antes mesmo do dia 8 de janeiro de 2023.
"O senhor Delgatti mostra para a gente que a tese golpista estava sendo desenvolvida desde o processo eleitoral. Esse pessoal é perigoso. Esse pessoal que organizou a festa da Selma [manifestação de 8 de janeiro] são neofascistas. Não se brinca com essa turma. Isso não tem nada de democrático. Isso não é uma direita democrática, com que a gente discute. É gente que programa o golpe. E tem deputados e senadores, infelizmente, como é o caso da Carla Zambelli, que não pode continuar sendo deputada", defendeu.
Enquanto a oitiva da testemunha acontecia no Senado, a deputada foi vista na sede do PL, em Brasília. Em nota, a defesa de Zambelli disse que "refuta e rechaça qualquer acusação de prática de condutas ilíticas ou imorais pela parlamentar". O comunicado, assinado pelo advogado Daniel Bialski, diz ainda que a versão de Delgatti Neto é "totalmente despida de credibilidade".
Acesso aos relatórios
A relatora Eliziane Gama afirmou nesta quinta-feira que o depoimento do hacker pode determinar o indiciamento do ex-presidente Bolsonaro. "A depender do conteúdo, pode levar ao indiciamento, porque o depoimento está no foco central: o debate é em torno do questionamento do processo eleitoral, do resultado das eleições e da segurança das urnas", disse ao R7.
Ainda segundo a senadora, também será articulado o pedido de quebra do sigilo da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro. "Dentre essas várias quebras, eu tenho muita convicção de que nós precisamos solicitar a quebra do sigilo telemático do ex-presidente Bolsonaro e também solicitação de RIFs [relatórios de inteligência financeira], que são os relatórios do Coaf [Conselho de Controle de Atividades Financeiras], que nos darão a verdade se houve algum tipo de transação financeira relacionada aos atos do 8 de Janeiro", afirmou Eliziane.