Brasília Curso de democracia para réus do 8/1 foi inspirado em programa para militares

Curso de democracia para réus do 8/1 foi inspirado em programa para militares

Acordo com a PGR só está disponível para quem teve participação secundária nos atos extremistas; vândalos não terão esse direito

  • Brasília | Do R7, em Brasília, com informações da Agência Estado

Réus vão participar de curso sobre democracia

Réus vão participar de curso sobre democracia

Foto: Joedson Alves/Agência Brasil

Os réus que fecharem acordo com a Procuradoria-Geral da República (PGR) para encerrar as ações penais do 8 de Janeiro terão que frequentar um curso sobre democracia. Serão quatro aulas presenciais, de três horas cada uma, com o tema "Democracia, Estado de Direito e golpe de Estado". A Escola Superior do Ministério Público da União ficou responsável pelo conteúdo.

"O objetivo de incluir a cláusula como parte dos acordos é garantir o aspecto pedagógico da medida, além de contribuir para o processo de consolidação do Estado Democrático de Direito", afirma a PGR.

Os acordos firmados são do tipo "de não persecução penal", uma espécie de negócio jurídico entre o Ministério Público e o investigado. Nele, as partes negociam cláusulas a ser cumpridas pelo acusado, que, no fim, é favorecido pela extinção da punibilidade — ou seja, não chega a ser condenado nem preso.

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A opção, no entanto, só está disponível para quem responde por crimes de médio potencial ofensivo, ou seja, quem teve participação secundária nos atos de 8 de janeiro. Os vândalos que invadiram e depredaram os prédios na praça dos Três Poderes não terão esse direito.

Segundo a PGR, até o momento 301 denunciados manifestaram interesse em assinar o acordo. Para participarem, os réus devem cumprir 300 horas de serviços comunitários ou em entidades públicas; pagar uma multa calculada com base nos rendimentos de cada um; participar presencialmente do curso sobre democracia; e não usar redes sociais abertas até terminar de cumprir todas as cláusulas.

Inspiração para o curso

O curso sobre democracia para os réus do 8 de Janeiro foi inspirado na sentença da Corte Interamericana de Direitos Humanos quando julgou o Brasil pela ação de militares na guerrilha do Araguaia. O tribunal internacional impôs, em 2010, a criação de um programa permanente de educação em direitos humanos dentro das Forças Armadas.

Camponeses e militantes do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) foram presos e torturados em operações do Exército, entre 1972 e 1975, auge da ditadura militar, na erradicação da guerrilha do Araguaia. Dados da Comissão Nacional da Verdade concluíram que 70 pessoas foram mortas ou continuam desaparecidas pela ação da repressão.

Julgamento do STF

Foi o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), quem autorizou a PGR a negociar os acordos com parte dos réus dos atos extremistas. Ele atendeu a um pedido da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). O subprocurador-geral Carlos Frederico Santos, que coordena as investigações do 8 de Janeiro, deu o aval para as negociações.

Os três primeiros réus foram condenados pelo STF, na última semana, com penas que variam de 14 a 17 anos de prisão, além da obrigação conjunta, com todos os condenados do caso, ao pagamento de indenização por danos morais coletivos no valor de R$ 30 milhões. Os próximos julgamentos estão previstos para a semana que vem, agora no plenário virtual da Corte.

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