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DF bate recorde e registra janeiro com mais mortes da série histórica

Mais de 1.600 óbitos foram registrados; mortes violentas aumentaram 36% na comparação com o mesmo mês de 2021

Brasília|Jéssica Moura, do R7, em Brasília

Cemitério Campo da Esperança
Cemitério Campo da Esperança

O Distrito Federal atingiu uma marca trágica em janeiro de 2022. A capital federal acumulou no período o maior número de mortes da série histórica. Ao todo, 1.658 certidões de óbito foram registradas nos cartórios da cidade, 11% mais do que no mesmo mês do ano passado. Os óbitos violentos tiveram uma elevação ainda mais expressiva no período: 36%. A Arpen (Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais) avalia os dados desde 2003.

O mesmo cenário já tinha sido observado no âmbito nacional, quando o país registrou alta de 5% nas mortes em janeiro, acumulando o total recorde de 144.341 óbitos. No DF, as mortes por causas naturais, ou seja, em decorrência de doenças, somaram alta de 10,8%. 

Causas naturais

O levantamento da Arpen mostra que, desta vez, as complicações respiratórias e cardíacas predominaram entre os motivos dos óbitos. As mortes por pneumonia cresceram 77%, seguidas por AVC, com 72% de aumento, e septicemia (choque séptico), que teve alta de 44%.

1.658 certidões de óbito foram registradas nos cartórios da cidade
1.658 certidões de óbito foram registradas nos cartórios da cidade

Para o superintendente da Região Central de Saúde, Paulo Roberto Silva, essa variação nos óbitos foi perceptível no dia a dia dos hospitais. Antes de assumir a superintendência, ele foi diretor do Hospital Regional da Asa Norte (HRAN), unidade que chegou a ser referência no atendimento de infecções por coronavírus.


"O pronto-socorro ficou superlotado, os hospitais estavam com demanda reprimida de atendimentos. A variante Ômicron teve um avanço muito rápido de infecções, principalmente entre os profissionais de saúde. Houve dias em que a gente teve 47 técnicos de enfermagem afastados por Covid", relatou o médico. Ele assinalou que, em janeiro, "a prevalência de atendimentos no pronto-socorro foi de casos não Covid", e lembrou os surtos de gripe e dengue que acometeram a população.

Para Silva, como pacientes com doenças crônicas — como diabetes e cardiopatias — ficaram sem acompanhamento médico, essas condições se agravaram e contribuíram para o aumento nos óbitos. Outro fator foi a suspensão de cirurgias eletivas em momentos críticos da pandemia, o que levou à piora no quadro de saúde de alguns doentes.


"Da mesma forma, observamos ainda o crescimento [do número de] de pacientes com insuficiência renal crônica e complicações por descompensamento glicêmico", acrescentou.

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Enquanto isso, no início do ano, o DF testemunhou uma explosão de casos de Covid-19, quando a taxa de transmissão do vírus chegou a 2,61 e as UTIs registraram dias seguidos de lotação máxima. Ainda assim, as mortes pela doença caíram 56% em relação a janeiro do ano passado.


"No auge da pandemia, durante a segunda onda, em março de 2021, ainda não tinha vacinação de mais de 80% da população. Hoje, a gente visualiza uma situação bem mais otimista." O superintendente afirma que a imunização foi decisiva para a queda no número de mortes por Covid-19, a despeito do aumento dos contágios.

"No HRAN, vários pacientes que contraíram Covid tinham outras comorbidades. Com a Covid, a imunidade cai, o paciente contrai uma infecção secundária que pode levar a óbito. Em casos de choque séptico, leva a falência de órgãos, falência cardíaca". O médico reforçou ainda que complicações da própria infecção pelo coronavírus contribuíram para as mortes por doenças pulmonares e cardíacas.

Mortes violentas

Não apenas os óbitos por causas naturais aumentaram no primeiro mês do ano, mas também aqueles decorrentes de violência. Nesse rol estão crimes como homicídios, acidentes de trânsito e suicídios: o total saltou de 46 notificações, em janeiro de 2021, para 63, neste ano — um crescimento de 36%.

Para o professor da Universidade de Brasília (UnB) Lucio Castelo Branco, a elevação já era esperada. "Eu me surpreenderia se não tivesse aumentado", ponderou. "É um índice muito elevado, quando se fala em criminalidade, não há margem para aceitação." Dados da Secretaria de Segurança Pública registram que em janeiro de 2022 foram contabilizados pelo menos 17 homicídios e dois latrocínios.

Para Castelo Branco, as restrições impostas pela pandemia tiveram efeito "traumático" sobre os indicadores sociais. "Mais de dois anos de repressão determinada pelo confinamento e pela ruptura dos processos de socialização provocaram uma regressão muito grande do ponto de vista da cidadania."

Notificações de óbitos

Quando alguém morre, uma declaração de óbito é produzida para apontar a causa da morte. São emitidas três vias do documento: uma para a família, outra para a Secretaria de Saúde e outra fica no cartório. Além disso, só é possível fazer sepultamento mediante o atestado de óbito.

O painel mantido pela Arpen reúne informações oriundas de 14 cartórios do DF. "Trabalhamos nesse serviço inclusive em plantões, em fins de semana e feriados. O serviço de registro de óbitos é gratuito, e o número é fidedigno, não há subnotificação. Todos os óbitos são registrados, estamos nos hospitais e IML justamente para isso", ressaltou o presidente da Arpen-DF, Alan Guerra.

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