Em depoimento, presos do 8/1 dizem que só deixariam o Palácio do Planalto após golpe militar
Manifestantes afirmaram à Polícia Civil que o objetivo do ato era 'impedir comunismo' por 'medo' de o Brasil 'virar Venezuela'
Brasília|Augusto Fernandes, do R7, em Brasília
Os manifestantes extremistas que protagonizaram as cenas de violência em Brasília, em 8 de janeiro, afirmaram que o protesto foi feito para impedir que o Brasil se transformasse numa Venezuela e evitar que o comunismo fosse instaurado no país. Eles disseram também que o protesto só terminaria com uma intervenção militar, para tirar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) do poder.
Os relatos foram dados em depoimento à Polícia Civil do Distrito Federal, logo após a prisão dos responsáveis pela depredação do Palácio do Planalto, do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal (STF). No mês passado, a corporação enviou os documentos à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Congresso Nacional que investiga os episódios de 8 de janeiro.
• Compartilhe esta notícia no WhatsApp
• Compartilhe esta notícia no Telegram
Vildete Ferreira da Silva, 72 anos, disse que o protesto aconteceu em resposta ao pleito eleitoral de 2022. Segundo ela, os manifestantes não aceitavam os resultados da eleição, pois "sabem que a eleição foi roubada”, já que "não entregaram o código-fonte" das urnas eletrônicas.
'Depois que pediram socorro na frente dos quartéis e não foram ouvidos%2C essa foi a maneira de tentar mudar a atual situação%2C pois estão com medo do país virar uma Venezuela'%2C diz o depoimento dela%2C colhido pela Polícia Civil.
Nara Faustino de Menezes, 43, disse que o 8 de Janeiro foi um movimento "contra um possível governo comunista que seria implantado pelo governo do presidente Lula". Ela disse também que a ideia "era que as Forças Armadas assumissem o poder, igual aconteceu no ano de 1964, e prendesse as pessoas que estão lesando a pátria".
A defesa de um golpe de Estado liderado pelos militares foi reforçada por Cibele da Piedade Ribeiro da Costa, 60, e Jaqueline Freitas Gimenez, 40. Segundo elas, "o objetivo era apenas ocupar os prédios, sentar e esperar até vir uma intervenção militar, para não deixar o Lula governar". Jaqueline declarou ainda que "houve roubo nas eleições de 2022".
Ines Izabel Pereira, 57, que participou do ato "para fazer volume na multidão", disse que imaginou que, "se tivesse muita gente, teria o apoio do Exército, para evitar a instalação do comunismo no Brasil". João Raimundo Sobrinho, 71, também fez coro por um golpe militar.
O objetivo desta ação era lutar pela liberdade%2C para que o país não vire comunismo. Queria se (sic) manifestar para que as Forças Armadas fizessem algo para salvar o Brasil e não deixassem que o presidente acabasse com as famílias e com a religião.
Destituição de ministros do STF
Gabriel Lucas Lota Pereira, 21, foi além e defendeu a destituição de ministros do STF. À Polícia Civil, ele declarou que "gostaria que tirassem Lula, [o vice-presidente Geraldo] Alckmin, Alexandre de Moraes, a cúpula do PT e os demais ministros do STF".
Ele também disse que estava no protesto para pedir pelo emprego da Garantia da Lei e da Ordem (GLO) no país, instrumento que permite ao presidente da República convocar as Forças Armadas em graves situações de perturbação da ordem. De acordo com Gabriel Lucas, dessa forma, seria possível "fazer uma limpeza geral nos Três Poderes".