Em discurso em Fórum Mundial da Alimentação, Lula diz que a ‘fome é inimiga da democracia’
Presidente brasileiro destacou que um país soberano “é um país capaz de alimentar o seu povo”
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse, nesta segunda-feira (13), que a fome é inimiga da democracia e que “um país soberano é um país capaz de alimentar o seu povo”. A declaração foi feita durante discurso no Fórum Mundial da Alimentação 2025, em Roma, na Itália, onde Lula está desde domingo.
“Um país soberano é um país capaz de alimentar o seu povo. A fome é inimiga da democracia e do pleno exercício da cidadania, por isso, é preciso superá-la por meio de ações governamentais, mas só será possível agir se houver meios”, disse.
Lula cobrou ainda a ampliação do financiamento ao desenvolvimento, redução dos custos de empréstimos, o aperfeiçoamento dos sistemas tributários e o alívio a dívida dos países mais pobres.
“Não basta produzir, é preciso distribuir. Poucas iniciativas contribuiriam tanto para a segurança alimentar e nutricional quanto uma reforma da arquitetura financeira nacional que direcionasse recursos para quem mais precisa. A América Latina e o Caribe vive o paradoxo de ser o celeiro do mundo e conviver com a fome. A África atravessa crescimento econômico, ao mesmo tempo que registra aumento preocupante dos níveis de insegurança alimentar”, citou.
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Otimismo abalado
Lula avaliou que desde a criação da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura) muita coisa mudou, e o entusiasmo inicial dos países está abalado.
“Hoje, tanto nossa capacidade de agir coletivamente, como o otimismo que nos animavam estão abalados. Os desafios se aprofundaram, mas não temos alternativa se não persistir, enquanto houver fome a FAO permanecerá indispensável”, disse.
O petista acrescentou que “quando o mundo emergia do seu momento mais sombrio, a comunidade internacional reconheceu que em seu futuro não havia lugar para a fome”, em referência a criação da FAO no pós-Segunda Guerra Mundial.
“Não há como desassociar a fome das desigualdades que dividem ricos e pobres. O mundo produz comida o suficiente para alimentar uma vez e meia a população mundial. Ainda assim, 673 milhões de pessoas estão em situação de insegurança alimentar”, lamentou.
“Com base em dados do programa mundial de alimentos, é possível estimar que garantir três refeições diárias a essas pessoas custaria de US$ 315 bilhões, isso representa 12% dos US$ 2, 7 trilhões consumidos anualmente com gastos em armas”, observou.
O chefe do Palácio do Planalto chamou ainda a forme de “irmã da guerra”. “Seja ela travada com armas e bombas, ou com tarifas e subsídios. Conflitos armados, além do sofrimento humano e da destruição da infraestrutura, desorganizam cadeias de insumos e alimentos, barreiras e políticas protecionistas de países ricos desestruturam a produção agrícola no mundo em desenvolvimento”, afirmou.
Saída do Brasil do Mapa da Fome
O petista também citou a experiência brasileira que, sob a sua gestão, conseguiu tirar o país do Mapa da Fome. No entanto, ele acrescentou que o “retrocesso que vivenciamos nos anos [desde a saída do país do Mapa da Fome em 2014] demonstrou que o combate à fome deveria ser uma luta perene”.
“Não se trata de assistencialismo, é preciso colocar os pobres no orçamento, e transformar esse objetivo em política de Estado, para evitar que avanços fiquem a mercê de crises ou marés políticas. Mesmo líderes de países pequenos podem e precisam fazer essa escolha. Desde 2023 temos trabalhado e deu frutos. Neste ano, a FAO anunciou, outra vez, que o Brasil saiu do Mapa da Fome. 30 milhões de pessoas começaram a almoçar, jantar e tomar café”, destacou.
Lula citou, ainda, que em 2024 o Brasil alcançou a menor proporção de domicílios em situação de insegurança alimentar grave da história do país. “Registramos também a menor proporção de domicílio com crianças menores de cinco anos em situação de insegurança alimentar grave desde 2004. Estamos interrompendo o ciclo de exclusão”, declarou.
Fome e mudanças climáticas
O chefe do Palácio do Planalto fez observações também a respeito da fome e das mudanças climáticas. “Um planeta mais quente será um planeta com mais fome. A escassez de água, a perda da biodiversidade, e as catástrofes naturais afetaram a produtividade agrícola e o preço dos alimentos. A mudança do clima exigirá de nós uma revolução mais verde e mais inclusiva. Mitigar as emissões do setor agrícola e adaptar os sistemas alimentares a uma nova realidade climática são tarefas que demanda tecnologia e muitos recursos”, observou.
Além disso, Lula destacou que esse debate estará presente na COP30 em Belém. “Para que essa transição seja justa é preciso redobrar a cooperação. Não haverá justiça climática se o enfrentamento ao aquecimento global caminhar lado a lado com o combate à fome e à pobreza. Entrelaçar essas duas lutas será a missão da COP30 em Belém. As NDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas) podem ser tornar veículos para a segurança alimentar e nutricional”, avaliou.
O presidente citou, também, a escritora brasileira Carolina de Jesus ao dizer que “a escravatura do mundo atual se chama fome”.
Entenda
O Fórum é organizado pela FAO e marca os 80 anos da criação da instituição. Durante o evento, o presidente ressaltou o feito de ter conseguido, em dois anos e meio, tirar 33 milhões de pessoas da situação de miséria.
Em junho deste ano, o Brasil alcançou o patamar de menos de 2,5% da população em risco de subnutrição ou de falta de acesso à alimentação suficiente. O Brasil já havia atingido essa marca em 2014, mas voltou ao Mapa da Fome no triênio 2019-2021.
Outras agendas
O presidente Lula também participou de outro evento pela manhã. Ele encerrou a Segunda Reunião do Conselho de Campeões da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza.
Na ocasião, Lula fez um apelo para que os líderes mundiais coloquem os pobres no orçamento e alertou que, “sem recursos financeiros, não haverá transformação”.
A Segunda Reunião do Conselho de Campeões reuniu ministros, representantes de governos, agências da ONU, bancos multilaterais e organizações da sociedade civil. O encontro avaliou o progresso da iniciativa desde sua criação, em 2024.
No encontro também foram discutidos os desdobramentos da Declaração de Belém sobre Fome, Pobreza e Ação Climática Centrada nas Pessoas, proposta feita pela Presidência brasileira da COP30, que será lançada em novembro, durante a Cúpula de Líderes na capital paraense.
A Aliança Global prepara, ainda, a Primeira Cúpula de Líderes, marcada para 3 de novembro, em Doha, no Catar, à margem da Segunda Cúpula de Desenvolvimento Social das Nações Unidas. O encontro reunirá chefes de Estado e de Governo para anunciar novos compromissos de financiamento e cooperação internacional no combate à fome e à pobreza.
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