Embaixador do Brasil em Israel já está no país e aguarda reunião com Mauro Vieira
Frederico Meyer foi convocado de volta ao Brasil para consultas após repercussão de falas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva
Brasília|Natalie Machado Bueno, da RECORD
O embaixador do Brasil em Israel, Frederico Meyer, já está no país, onde deve permanecer por algum tempo. Ele chegou na noite de quarta-feira (21) ao país. O diplomata, que está no Rio de Janeiro, encontrará o chanceler brasileiro, Mauro Vieira, no final deste mês. Vieira viaja nesta sexta-feira (23) para Abu Dhabi, capital dos Emirados Arabes Unidos, para uma reunião ministerial da OMC (Organização Mundial do Comércio). Enquanto isso, a embaixada brasileira ficará sob o comando de Fábio Moreira Farias, Ministro-Conselheiro da embaixada brasileira em Tel-Aviv.
Meyer foi convocado de volta ao Brasil para consultas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva na segunda-feira (19). A medida foi tomada depois que o diplomata brasileiro foi chamado pelo governo israelense para uma reprimenda por Lula ter comparado o conflito contra terroristas em Gaza com extermínio de judeus pelos nazistas.
O local escolhido para a reunião foi o Memorial do Holocausto em Jerusalém, chamado de Yad Vashem. O governo brasileiro quer detalhes da reunião. A ideia é mandar a mensagem de que a tentativa de humilhação pública de Meyer não tem nada a ver com diplomacia.
Crise diplomática
A declaração de Lula foi dada durante entrevista coletiva depois da participação do presidente na 37ª Cúpula de Chefes de Estado e Governo da União Africana, em Adis Abeba, capital da Etiópia. “O que está acontecendo na Faixa de Gaza, com o povo palestino, não existiu em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu. Quando Hitler decidiu matar os judeus”, afirmou o petista.
Na sequência, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, criticou as declarações de Lula e afirmou que a fala dele é vergonhosa e grave. "Não perdoaremos e não esqueceremos – em meu nome e em nome dos cidadãos de Israel," disse o ministro israelense em uma postagem nesta segunda-feira (19) nas redes sociais.
"A comparação do presidente brasileiro Lula entre a guerra justa de Israel contra o Hamas e as ações de Hitler e dos nazistas, que exterminaram 6 milhões de judeus, é um grave ataque antissemita que profana a memória daqueles que morreram no Holocausto", concluiu.
Repercussão
Especialistas, políticos e entidades também reagiram às declarações de Lula e afirmaram que as falas comprometem a imagem do Brasil no cenário internacional e demonstram desconhecimento histórico e visão anti-Israel.
Professora de relações internacionais e doutora em ciência política pela USP (Universidade de São Paulo), Denilde Holzhacker avalia que a posição de Lula não reflete o que aconteceu na história. "É mais uma frase em que ele expõe uma visão anti-Israel, reforçando os argumentos de que há um fundo antissemita nas falas do próprio presidente Lula", afirma.
Para a especialista, a fala de Lula inviabiliza a proposta do Brasil de ser intermediário na busca da paz e deixa o país mais longe de ser parte de uma solução. "A declaração cria para o Brasil um distanciamento não só com Israel, mas também com outros países e com a comunidade judaica brasileira."
O diplomata e doutor em ciências sociais pela Universidade de Bruxelas Paulo Roberto de Almeida ressalta que "as alusões ao Holocausto hitlerista são absolutamente equivocadas e inaceitáveis do ponto de vista histórico e diplomático". "Apenas diminuem a credibilidade de Lula como interlocutor responsável em face dessa tragédia. Elas [as declarações] apenas revelam seu despreparo para tratar desse assunto", acrescenta.