Equipe de transição questiona repercussão no mercado de fala de Lula
Após reunião do conselho político, a presidente do PT afirmou que o mercado conhece o presidente eleito e seus compromissos
Brasília|Plínio Aguiar, do R7, em Brasília
A equipe de transição do novo governo criticou, nesta sexta-feira (11), a repercussão no mercado da crítica do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) contra o teto de gastos públicos.
“Primeiro, nós recebemos com espanto. Não sei o que o presidente Lula falou que pudesse fazer uma avaliação tão grande do sentimento de mercado. Aliás, todos os indicadores voltaram à normalidade”, afirmou Gleisi Hoffmann, presidente do PT.
“Penso que foi um movimento especulativo, que é muito ruim para o país. O mercado não tem que se preocupar, conhece quem é Lula, sabe como ele trabalha com as finanças públicas e a responsabilidade que tem e conhece o compromisso social. Ele falou isso na campanha inteira. Ele tinha compromisso de acabar com a fome, de gerar emprego, de fazer desenvolvimento social. Então por que o espanto?”, completou.
Na visão da presidente do PT, as responsabilidades fiscal e social devem caminhar juntas, mas o partido jamais abrirá mão de pôr “a vida das pessoas” em primeiro lugar.
Em seu discurso a aliados, Lula fez críticas à reforma trabalhista e ao teto de gastos, aprovados no governo do ex-presidente Michel Temer (MDB).
“Por que as pessoas são levadas a sofrer por conta de garantir a tal da estabilidade fiscal neste país? Por que toda hora as pessoas falam que é preciso cortar gasto, é preciso fazer superávit, é preciso fazer teto de gastos?”, questionou Lula.
A declaração fez o dólar disparar 3% e levou o Ibovespa, o principal índice do mercado acionário brasileiro, abaixo dos 110 mil pontos pela primeira vez desde o fim de setembro. Apesar das críticas do mercado, Lula afirmou que pretende ter uma “política fiscal séria”.
Forças Armadas
A presidente do PT criticou, ainda, o comunicado dos comandantes das Forças Armadas sobre as eleições e disse que esse não é o papel dos militares.
“Não é papel dos comandantes das Forças Armadas fazer avaliação política, se posicionar politicamente. O direito de manifestação não cabe a quem atenta contra a Constituição. É uma leitura clara. Vejo como fato desses comandantes, desse governo, que tende a ser isolado. Não acho que a totalidade das Forças Armadas pense assim”, criticou Gleisi.
Mais cedo, o comando das Forças Armadas divulgou uma nota conjunta em que trata das manifestações populares que se espalharam pelo país após o resultado das eleições.
O texto defende a liberdade de expressão assegurada pelas instituições, mas também condena eventuais excessos cometidos que restrinjam direitos individuais e coletivos que ponham em risco a segurança pública.
Reunião do conselho político
O Conselho Político da transição entre os governos realizou, nesta sexta-feira (11), a primeira reunião do grupo no CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil), sede da equipe, em Brasília.
Foram convocados integrantes de 14 partidos. São eles: PSB, PT, Solidariedade, PV, Psol, PCdoB, Rede, Agir, Pros, Avante, PDT, PSD, MDB e Cidadania. Membros do MDB, contudo, não participaram, por incompatibilidade de agenda.
Entre os presentes estavam Eliziane Gama (Cidadania), Gleisi Hoffmann (PT), Wolney Queiroz (PDT), José Luiz Penna (PV), Guilherme Ítalo (Avante), Antônio Brito (PSD), Felipe Espírito Santo (Pros), Jefferson Coriteac (Solidariedade), Luciana Santos (PCdoB), Daniel Tourinho (Agir), Carlos Siqueira (PSB), Juliano Medeiros (Psol) e Wesley Diógenes (Rede).
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O grupo apresentará até 10 de dezembro um relatório ao vice-presidente eleito Geraldo Alckmin, que coordena o grupo. O documento vai balizar a formatação do programa do novo governo, que tomará posse em 1º de janeiro de 2023.
“É fazer um diagnóstico. Estrutura e organização do governo, o que foi desmembrado ou anexado, como está hoje, os principais problemas, contratos em andamento, a situação em que se encontra a máquina pública e eventuais medidas emergenciais”, informou Gleisi.
Desde a campanha rumo ao Palácio do Planalto, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem dito que pretende costurar uma frente ampla para governar o país. Nesta semana, o petista se reuniu com os chefes da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, do Supremo Tribunal Federal e do Tribunal Superior Eleitoral.
PEC da Transição
Entre outros assuntos, Lula buscou apoio à PEC (proposta de emenda à Constituição) da Transição para retirar do teto de gastos de forma permanente o pagamento do Auxílio Brasil, que voltará a ser chamado de Bolsa Família e terá o valor de R$ 600 mais o complemento de R$ 150 por criança menor de 6 anos.
Para ser aprovado, o texto precisa de 308 votos na Câmara dos Deputados e de 49 no Senado Federal — no qual a matéria deve começar a tramitar. A ideia da equipe petista é apresentar a proposta na quarta-feira (16).