Ex-servidora do MEC diz que Milton Ribeiro se reuniu com denunciante em setembro
Comissão de Educação apura denúncias envolvendo atuação de pastores na liberação de recursos do FNDE, ligado ao MEC
Brasília|Sarah Teófilo, do R7, em Brasília
A ex-chefe do Cerimonial do MEC (Ministério da Educação) Vanessa Reis Souza afirmou nesta quarta-feira (4), perante a Comissão de Educação do Senado, que informou o ex-ministro da Educação Milton Ribeiro de uma denúncia recebida por ela no município de Nova Odessa, em São Paulo. De acordo com ela, a denúncia foi feita por um prestador de serviço da prefeitura, após um evento realizado pelo ministério na cidade.
O homem em questão se queixou da conduta de uma equipe que havia chegado ao evento antes dos servidores do MEC. Vanessa afirmou que, após as denúncias, em agosto do ano passado, levou as informações ao ex-ministro Milton Ribeiro, e que ele se reuniu com o denunciante no dia 16 de setembro, segundo agenda oficial.
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"Após o evento, eu fui procurada por um senhor que ajudou na montagem do evento. Ele disse: 'Estou muito feliz em conhecer uma equipe do ministério, porque destoa bastante de uma equipe que veio antes'", contou. Segundo a ex-servidora, o homem afirmou que "algumas pessoas vieram antes e fizeram pedidos" que o deixaram desconfortável.
Esse homem, que seria um interlocutor da prefeitura, não citou exatamente o nome dos dois pastores alvos de denúncia, Arilton Moura e Gilmar Santos. A comissão tem apurado a atuação dos dois pastores após denúncias de que eles atuavam para direcionar recursos do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação) a municípios mediante acordos com prefeitos. Alguns confirmaram na comissão que o pastor Arilton chegou a pedir propina em dinheiro e ouro.
O R7 mostrou que em outubro do ano passado o ministro participou de um evento religioso com os pastores Arilton e Gilmar, e que na ocasião os chamou de "amigos". Ribeiro afirmou depois, em entrevista, que antes disso, ainda em agosto, já havia pedido uma investigação formal à CGU (Controladoria-Geral da União) sobre as suspeitas de tráfico de influência em prol dos dois pastores, que não têm cargo público.
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Vanessa Reis, que atualmente é servidora no Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), afirmou que o homem em questão, em Nova Odessa, disse que os pedidos denunciados não foram feitos pela comitiva do MEC. De acordo com ele, essa equipe lhe solicitou emissão de passagem, hospedagem e alguns outros serviços em cujo mérito ele preferiu não entrar.
"Levei o que me foi relatado ao ministro da Educação. Ele disse que poderia marcar uma agenda e que fazia questão de receber. Eu não me aprofundei no que ele [o denunciante] queria, porque eu não sou do controle e fiscalização", disse Vanessa.
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A ex-servidora do MEC afirmou que a primeira vez que teve conhecimento da presença dos pastores no MEC foi em janeiro de 2021. De acordo com ela, em todos os eventos de que participou com os pastores, eles atuavam realizando orações. Vanessa ainda disse que os eventos eram, oficialmente, sempre organizados pelas prefeituras.
Segundo a ex-servidora, de 45 eventos organizados pelo Cerimonial do MEC para atendimento aos prefeitos, os pastores estiveram presentes em aproximadamente nove. Ela também explicou que, nessas ocasiões, os pastores frisavam a importância de o ex-ministro ir aos municípios, levar técnicos do FNDE para atender o máximo de prefeitos possível. Nenhum dos dois tinha ou tem cargo no Executivo nacional.
Prefeitos confirmam
No início do mês passado, três prefeitos ouvidos pela Comissão de Educação afirmaram que houve pedido de dinheiro e até de ouro por parte do pastor Arilton Moura, amigo do ex-ministro da Educação Milton Ribeiro, para a liberação de recursos da Educação.
O prefeito de Luís Domingues, no Maranhão, Gilberto Braga (PSDB), por exemplo, confirmou o pedido de 1 quilo de ouro por parte do pastor Arilton, em troca da liberação de recursos da Educação para o município, que possui 7.000 habitantes. A solicitação ocorreu durante almoço em Brasília, em 7 de abril do ano passado, após uma reunião no prédio do MEC.
Em carta entregue ao presidente Jair Bolsonaro (PL), em março, Milton Ribeiro disse que "prezava pela verdade" e que estava deixando o comando do MEC com o "coração partido".
"Levando em consideração os aspectos citados, decidi solicitar ao Presidente Bolsonaro a exoneração do cargo de ministro, a fim de que não paire nenhuma incerteza sobre a minha conduta e do Governo Federal. Meu afastamento visa, mais do que tudo, deixar claro que quero uma investigação completa e isenta", afirmou.
"Tomo esta iniciativa com o coração partido. Prezo pela verdade e sei que a verdade requer tempo para ser alcançada. Sei de minha responsabilidade política, que muito difere da jurídica. Minha decisão decorre exclusivamente de meu senso de responsabilidade política e patriotismo, maior que quaisquer sentimentos pessoais", declarou.