Gravação indica que Janones já estava no mandato quando sugeriu esquema de 'rachadinha'
Deputado alegou que sugestão foi feita antes de ele ser empossado; denúncia é de que isso foi posto em prática depois que ele assumiu o mandato
Brasília|Bruna Lima, do R7, em Brasília
Uma gravação obtida pelo R7 mostra que o deputado André Janones (Avante-MG), suspeito de praticar rachadinha em seu gabinete, já exercia mandato parlamentar quando pediu a assessores que devolvessem parte dos salários a ele para que pudesse recompor patrimônio que teria perdido para pagar gastos de campanha. Janones havia dito que não tinha assumido o mandato quando a gravação, divulgada por um ex-assessor, foi feita. O áudio teria sido captado durante a primeira reunião após a posse dos funcionários do gabinete.
Após a divulgação do áudio, o parlamentar alegou pelas redes sociais que não estava no exercício do mandato e que os funcionários ainda não tinham sido empossados quando sugeriu o esquema. "A história: eu (quando ainda não era deputado), disse para algumas pessoas (que ainda não eram meus assessores) que eles ganhariam um salário maior do que os outros, para que tivessem condições de arcar com dívidas assumidas por eles durante a eleição de 2016. Ao final, a minha sugestão foi vetada pela minha advogada e, por isso, não foi colocada em prática. Fim da história", postou.
O esquema de rachadinha no gabinete de Janones teria envolvido o ex-assessor e hoje secretário de Meio Ambiente da Prefeitura de Ituitaba (MG), Alisson Camargos, e o também ex-assessor Fabricio Ferreira (ouça gravação abaixo), além de outros auxiliares do deputado.
No entanto, outro trecho da gravação, que teria sido feita na mesma reunião, revela que Janones fala em discursar no plenário da Câmara no mesmo dia, contradizendo a versão de que ele ainda não exercia a função de deputado.
A gravação foi obtida na íntegra pelo R7. Nela, Janones diz que havia vários deputados que já apresentaram projetos de lei. "Ontem tinha uma fila de cem deputados apresentando projeto de lei. Eu sequer sabia disso. Por que eu não sabia? Porque não contratei nenhum especialista em técnico legislativo. Hoje tem plenário à tarde. Eu não sei o que que eu vou fazer lá. Vou chegar lá e vou ficar perdido. Não sei como é, o que eu vou fazer, que horas que eu falo, que assunto que vai ser", disse Janones, contradizendo a própria versão de que ainda não estava no exercício do mandato.
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Apesar de negar que o esquema tenha sido colocado em prática, ex-assessores do parlamentar com quem a reportagem conversou afirmam que o deputado mente. "Janones era muito hábil. Os assessores tinham que sacar o dinheiro e já passar para ele. Ouvi muitas conversas entre assessores de que ele guardava vários pacotes, envelopes de dinheiro na casa dele", disse, ao R7, o ex-assessor Fabricio Ferreira.
Ferreira denunciou o esquema junto ao Ministério Público, em 2021. Ele anexou à manifestação uma gravação em que outro ex-funcionário de Janones alegava precisar repassar quase R$ 5.000 do próprio salário mensalmente ao suposto esquema de rachadinha no gabinete do parlamentar.
O suposto esquema está na mira da Polícia Federal, da Procuradoria-Geral da República (PGR) e do Conselho de Ética da Câmara dos Deputados. Na última sexta-feira (1º) o caso também chegou ao Supremo Tribunal Federal, que recebeu da PGR um novo pedido de abertura de inquérito sobre as práticas.