Haddad admite ‘problemas de comunicação’ e diz esperar ‘boas surpresas’ com Galípolo no BC
Lula é crítico de atual presidente do banco, Roberto Campos Neto; Galípolo assume em janeiro do ano que vem
Brasília|Ana Isabel Mansur, do R7, em Brasília
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, admitiu nesta segunda-feira (14) falhas de comunicação entre o governo federal e o Banco Central. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva é crítico do chefe da autoridade monetária, o economista Roberto Campos Neto, indicado por Jair Bolsonaro (PL).
Os recorrentes ataques do petista já levaram a reações do mercado financeiro. O mandato de Campos Neto termina em 31 de dezembro, e Gabriel Galípolo, nome de Lula, assume em janeiro de 2025.
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Haddad também destacou que a Selic, a taxa básica de juros do país, seja reduzida durante a condução de Galípolo, que é o atual diretor de Política Monetária do Banco Central. Na última análise, em setembro, o BC aumentou o índice em 0,25 ponto percentual — o primeiro aumento desde o início da gestão de Lula. A Selic, agora, está em 10,75%.
“Houve problemas de comunicação entre a autoridade monetária e o Executivo, não estou tirando o Executivo da conta. Tenho todas as razões para imaginar, até pelo trabalho mais recente do BC, que vamos ter boas surpresas desse ponto de vista [da taxa Selic] a partir do ano que vem”, declarou Haddad, durante fala em um evento voltado a investidores.
O ministro afirmou, ainda, que a reforma do imposto de renda pode não ser feita neste ano. Segundo Haddad, a equipe econômica do governo tem levado as opções a Lula e, diferentemente da reforma tributária sobre o consumo — cuja proposta final aproveitou projetos já em discussão no Legislativo — as mudanças na renda estão pouco avançadas.
“A proposta não está configurada. Estamos numa espécie de ida ao Planalto para apresentar ao presidente as variáveis que podem ser alteradas para melhor, na minha opinião. Os estudos não vão ficar prontos em poucas semanas, precisamos de mais tempo. O conjunto de dados que a Receita Federal está levantando, inclusive no exterior, são muito significativos. No caso do imposto sobre a renda, os estudos são muito mais preliminares dentro do governo e do Parlamento. Tem trabalho a ser feito e queremos acertar”, declarou.
O ministro também destacou alguns pontos alvo de debates. “Neste momento, estamos levantando todas as alternativas técnicas possíveis para apresentar ao presidente e aos demais ministros. Estamos, com ajuda do Ministério do Planejamento, levantando o imposto de renda atual — por exemplo, abrindo as contas, quanto significa as deduções, por rubrica; quais são as classes favorecidas com essa medida, se tem justiça tributária envolvida, se tem injustiça”, acrescentou.
Haddad aproveitou para reforçar que a reforma sobre a renda será “neutra”. “Vamos aproximar o Brasil do que tem de melhor no mundo. Para a reforma sair, tem de ser neutra, o ajuste fiscal tem de estar em outro lugar, ser buscado de outra forma, senão não passa. Temos que nos aproximar de boas práticas internacionais”, completou o ministro.
Orçamento do próximo ano
Haddad comparou o Orçamento deste ano ao de 2025 e afirmou que o material relativo ao ano que vem está “mais bem calibrado”. O documento foi enviado ao Legislativo em 30 de agosto, como determina a lei. “Em relação ao Orçamento encaminhado ano passado, estamos muito melhor. O Orçamento de 2024 foi muito desafiador porque havia divergências entre técnicos da Fazenda. A peça orçamentária de 2025 está mais bem calibrada. Tudo isso é técnico, não é o ministro que fecha a peça, é um servidor de carreira. Acredito que o Orçamento de 2025 está mais equilibrado”, opinou.
O ministro destacou, ainda, a contribuição de algumas pastas federais no esforço de revisão de gastos. O Ministério do Desenvolvimento Social, por exemplo, trabalha em um pente-fino em programas sociais. A ideia é rever pagamentos indevidos e beneficiários que não se encaixam nos critérios.