‘Incêndios têm cunho criminoso na visão dos governadores’, diz Planalto
Diversos chefes do Poder Executivo dos estados se reuniram com ministro da Casa Civil para debater ações contra as queimadas
Brasília|Plínio Aguiar, do R7, em Brasília
O Palácio do Planalto informou em nota que os incêndios florestais que assolam o país “têm cunho criminoso na visão unânime dos governadores”. O comunicado foi divulgado após reunião entre os chefes do Poder Executivo dos estados com o ministro da Casa Civil, Rui Costa, na quinta-feira (19). A Polícia Federal abriu 85 inquéritos para investigar as queimadas e, para os investigadores, há fortes indícios de que houve ação coordenada por organizações envolvidas no garimpo ilegal e no desmatamento.
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“Durante a reunião, a visão unânime dos governadores foi de que os incêndios têm cunho criminoso. Nas palavras do ministro Rui Costa, a razão basilar é a estiagem prolongada, mas nítida e claramente, nós temos uma quantidade de incêndios criminosos, inclusive com prisões já realizadas e, portanto, esses incêndios serão apurados do ponto de vista criminal”, diz comunicado do Planalto.
O ponto crítico para os governadores é de que pessoas presas por atearem fogo em diversas áreas foram soltas imediatamente sob pagamento de valores irrisórios. Costa argumentou então, que, pela extensão e ocorrência de incêndios simultâneos, fica claro o caráter criminoso das ações e destacou a atuação da PF com a abertura de mais de 80 inquéritos.
Na reunião, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, abordou o caráter ilícito. “Nós temos que reconhecer, sobretudo pelo aprofundamento da situação da seca e também por ações criminosas, que todos nós temos um grande consenso aqui de que existem ações criminosas relacionadas à situação do incêndio hoje, sejam orquestradas ou não, sejam combinadas ou não, sejam de mais formas articuladas ou desarticuladas, mas que têm impactado no território de cada um”, afirmou.
Especialista afirma que 99% dos incêndios ocorreram por ação humana
Apenas uma parte ínfima dos incêndios florestais que se proliferam pelo país é iniciada por causas naturais. A constatação é da doutora em geociências Renata Libonati, coordenadora do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais (Lasa), da Universidade Federal do Rio de Janeiro. “De todos os incêndios que acontecem no Brasil, cerca de 1% é originado por raio. Todos os outros 99% são de ação humana”, afirma.
A pesquisadora é responsável pelo sistema Alarmes, um monitoramento diário por meio de imagens de satélite e emissão de alertas sobre presença de fogo na vegetação. Ao relacionar os dados com a proibição vigente de colocar fogo em vegetação, ela afirma que “todos esses incêndios, mesmo que não tenham sido intencionais, são de alguma forma criminosos”, disse em entrevista à reportagem.
Prejuízo passa de R$ 1 bilhão
A Confederação Nacional dos Municípios estima que mais de 11,2 milhões de brasileiros já foram diretamente afetados pelos incêndios florestais em 2024. Segundo os dados coletados nesse ano, o prejuízo econômico decorrente das queimadas ultrapassa a marca de R$ 1 bilhão. Pelo menos 538 municípios decretaram situação de emergência por conta do fogo. Em 2023, foram 3.800 pessoas afetadas e 23 municípios decretaram emergência.