Itamaraty propõe à Rússia 'grupo de países amigos' para mediar conflito na Ucrânia
Ministro das Relações Exteriores relatou também que posição brasileira é a favor do cessar-fogo no país do Leste Europeu
Brasília|Plínio Aguiar, do R7 em Brasília
Após uma reunião com integrantes do governo russo, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, informou nesta segunda-feira (17) que a posição brasileira é a favor do cessar-fogo na Ucrânia. Ele também disse que o Brasil propôs a formação de um grupo de países amigos com o objetivo de mediar a paz no local. A Rússia defendeu uma nova “ordem mundial mais justa e correta”.
“Renovei a disposição brasileira em contribuir para uma solução pacífica para o conflito, recordando as manifestações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no sentido de buscar facilitar a formação de um grupo de países amigos para mediar as negociações”, disse Vieira.
A declaração foi feita por Vieira no Ministério das Relações Exteriores, em Brasília, ao lado do chanceler russo Sergey Lavrov. O titular brasileiro relatou também que o Brasil é contra as sanções unilaterais impostas à Rússia.
“Tais medidas, além de não contarem com aprovação do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas, têm impacto negativo sobre as economias de todo o mundo, em especial de países em desenvolvimento, muitos dos quais ainda não se recuperaram plenamente da pandemia [de Covid-19].”
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O ministro das Relações Exteriores da Rússia afirmou que o país tem a intenção de terminar a guerra com uma “solução duradoura”, mas que o presidente russo, Vladimir Putin, quer atingir uma “ordem mundial mais justa e mais correta”.
“A gente falou sobre várias questões muito importantes e que as visões do Brasil e da Rússia são únicas em relação aos acontecimentos na Rússia”, afirmou Lavrov.
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“Estamos entendendo e agradecendo a contribuição [com vistas] à solução desse conflito. Estamos levando-a em consideração e precisamos resolver isso de uma forma duradoura, e não imediata”, acrescentou o russo.
Lula e Lavrov
Lavrov vai se reunir, às 17h desta segunda-feira (17), com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em meio às declarações polêmicas do petista sobre a invasão russa na Ucrânia. A chegada do chanceler da Rússia para um encontro com o governo brasileiro é mais uma demonstração do poder de articulação de Moscou pela figura do diplomata.
No último domingo (16), o presidente brasileiro afirmou que os Estados Unidos contribuem para a manutenção do conflito. “A paz está muito difícil. O presidente [da Rússia, Vladimir] Putin não toma iniciativa de paz, o presidente [da Ucrânia, Volodmir] Zelenski não toma iniciativa de paz. A Europa e os Estados Unidos terminam dando contribuição para a continuidade desta guerra", disse Lula.
A fala causou mal-estar em Washington, de acordo com uma fonte diplomática americana, por mostrar sinal de aproximação com a China e de distanciamento dos EUA. O chanceler russo, por sua vez, precisa defender os interesses geopolíticos de Moscou. Atualmente, tem a missão de justificar e defender os motivos para a invasão do território ucraniano pelas tropas russas.
No cenário internacional, Lavrov é mais do que um porta-voz do Kremlin. Ele tem o papel de negociador, posição que pode mostrar o futuro da guerra no Leste Europeu. O chanceler esteve presente a negociações importantes, como as guerras do Iraque, do Afeganistão e da Síria, além do acordo nuclear com o Irã.
A invasão russa completou um ano em fevereiro. Analistas afirmam que não há uma perspectiva para o fim da guerra, por não existirem exigências claras dos dois lados, o que dificulta um acordo de cessar-fogo ou um tratado de paz. Lula pede fim ao conflito por meio do diálogo.