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Laudo diz que não houve 'cessação de periculosidade' de Adélio Bispo

Documento atesta também que a insanidade ainda persiste; autor da facada em Jair Bolsonaro está preso em Campo Grande (MS)

Brasília|Plínio Aguiar, do R7, em Brasília

Adélio Bispo, autor da facada dada em Jair Bolsonaro em setembro de 2018
Adélio Bispo, autor da facada dada em Jair Bolsonaro em setembro de 2018

O laudo médico de Adélio Bispo de Oliveira, autor da facada no então candidato ao Palácio do Planalto Jair Bolsonaro durante a campanha eleitoral de 2018, atestou que a insanidade ainda persiste e não houve "cessação de periculosidade" em seu quadro de saúde mental apresentado no exame.

Em 22 de julho deste ano, a Justiça Federal havia determinado novo laudo médico, que foi conduzido pelos peritos José Brasileiro Dourado Júnior, Leonardo Fernandez Meyer e Bárbara Andréia Milagres Feijó. A avaliação agora será analisada pela Justiça. Até nova decisão, Adélio segue preso.

O documento afirma que, de acordo com informações cedidas pelos agentes e profissionais de saúde que têm contato com o paciente, Adélio tem "comportamento inadequado", expressa momentos em que fala sozinho, não mantém convívio frequente com os demais presos e respondeu a uma falta grave disciplinar por desobediência.

"Adélio Bispo de Oliveira permanece com diagnóstico clínico de transtorno delirante persistente, com alucinações de cunho religioso, persecutório e político que se manifestam frequentemente, sobretudo porque há recusa expressa do interno em receber a medicação psicotrópica recomendada para o tratamento de sua doença", diz trecho.


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"Apresenta, no momento da avaliação, comportamento colaborativo, disciplinado, apesar de apresentar quadro instável, e no momento apresenta sintomatologia positiva de doença, como delírios de cunho religioso, persecutório e político, e se nega a fazer uso das medicações, que são carbonato de lítio 300mg, risperidona 2mg, já fez uso de nortriptilina 25mg/dia", acrescenta o laudo.

O autor da facada em Bolsonaro está preso na Penitenciária de Campo Grande, capital de Mato Grosso do Sul, e foi diagnosticado com transtorno delirante permanente paranoide, condição em que o paciente não consegue diferenciar fatos criados pela própria mente do que é real.


As informações do laudo foram repassadas para o Ministério Público Federal (MPF), que defendeu a manutenção da medida de segurança enquanto não for verificada a cessação de sua periculosidade. Agora, a Justiça aguarda posicionamento da Defensoria Pública da União (DPU).

"O laudo foi apresentado à Justiça e já se encontra juntado nos autos. Por se tratar de documento médico com informações pessoais, está sob sigilo, disponibilizado apenas às partes, neste momento", diz em nota a Justiça Federal, que acrescenta que o juiz deve proferir decisão, mas não há data para a medida.

Facada

Em 6 de setembro de 2018, Bolsonaro era carregado por apoiadores quando foi esfaqueado na região abdominal por Adélio Bispo de Oliveira, na rua Halfeld, no centro de Juiz de Fora (MG). Após o atentado, o então candidato foi internado na Santa Casa de Misericórdia e já passou por diversas cirurgias desde então.

O agressor foi preso em flagrante e disse que havia cometido o crime a mando de Deus. Ele foi absolvido impropriamente pelo juiz federal Bruno Savino, em 2019. A absolvição imprópria é um dispositivo que pode ser aplicado aos réus considerados inimputáveis. Neste caso, o réu não é sentenciado a uma pena, mas deve cumprir medida de segurança. Adélio, por sua vez, teve a prisão preventiva convertida em internação.

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Circunstâncias do crime

A Polícia Federal abriu dois inquéritos sobre o caso. No primeiro deles, sobre as circunstâncias do crime, concluiu-se que Adélio tinha agido por motivação política, mas que ele sofria de distúrbio mental. No segundo, para saber se havia um mandante do atentado, o inquérito chegou à conclusão de que não houve participação de terceiros. A investigação foi reaberta no ano passado e ainda está em curso.

Durante o processo judicial, Adélio foi considerado inimputável, ou seja, alguém incapaz de compreender o crime que havia cometido em razão de doença mental. As perícias realizadas durante o caso revelam que ele foi diagnosticado com transtorno delirante persistente.

O psiquiatra forense Hewdy Lobo Ribeiro elaborou o laudo apresentado pela defesa no processo judicial. Questionado, ele descreve o que caracteriza o transtorno: "É quando o indivíduo tem certezas incorretas, distorcidas, e ele mantém esses entendimentos mesmo que tenha argumentação lógica para mudar essas ideias errôneas. Em função desses entendimentos, dessas interpretações distorcidas da realidade, tomam-se comportamentos absolutamente inapropriados em diversas esferas da vida, como, por exemplo, comportamentos agressivos graves".

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