Lucena (PB) tem 1.400 doses vencidas e que serão descartadas
Das 49 crianças entre 5 e 11 anos que receberam a dose de adulto, 36 foram vacinadas com imunizante fora da validade
Brasília|Bruna Lima, do R7, em Brasília
Em meio às investigações sobre a vacinação incorreta de crianças com dose destinada a adultos em Lucena, na Paraíba, o MPF (Ministério Público Federal) constatou que, dos 49 meninos e meninas entre 5 e 11 anos vacinados incorretamente, 36 receberam dose vencida. Além deles, outras 200 pessoas receberam o imunizante fora do prazo de validade. Pelo mesmo motivo, outras 1.400 doses não utilizadas serão descartadas.
As vacinações infantis foram feitas no assentamento Outeiro de Miranda e na UBS-V do município paraibano antes mesmo da chegada das doses pediátricas contra a Covid-19 ao Brasil. A técnica de enfermagem responsável por injetar as vacinas foi afastada em 14 de janeiro, uma semana depois de ter imunizado indevidamente as crianças. Além dela, a coordenadora de imunização e uma enfermeira foram exoneradas.
A procuradora regional dos Direitos do Cidadão, Janaina Andrade, do MPF na Paraíba, destacou a gravidade das perdas, afirmando que o município solicitou à Secretaria Estadual de Saúde 1.400 doses em 6 de dezembro. "Se não havia um planejamento para a aplicação dessas vacinas, não deveria ter havido a solicitação, para não haver prejuízo à União e a outros municípios da Paraíba que precisam da imunização."
Os imunizantes, nesse caso, perderam a validade porque já haviam sido descongelados – após esse processo, independentemente da data de vencimento que consta na ampola, eles só podem ser utilizados no prazo de 30 dias. "Essa vacina, pelas normas dos órgãos sanitários, tem que ficar na temperatura de 2ºC a 8°C até 30 dias, porque ela já está uma vacina positivada", explicou Janaina.
Agora, as mais de 230 pessoas que receberam as vacinas vencidas serão acompanhadas pelas autoridades de saúde, esclareceu a procuradora à imprensa. "Essa criança que recebeu a dose da vacina vencida vai ter um novo esquema vacinal iniciado após 30 dias de acompanhamento."
Janaina conduz os depoimentos do MPF que apuram as responsabilidades nos erros vacinais ocorridos em Lucena. O próprio prefeito de Lucena, Leo Bandeira (Solidariedade), caso seja alvo do inquérito, poderá responder na esfera civil. "No aspecto penal, como envolve vários agentes políticos, por uma questão de foro privilegiado, o procedimento será encaminhado às instâncias do MPF estadual e federal competentes, para a devida avaliação", explicou a procuradora.
Em depoimento ao MPF, Bandeira disse que "sua participação na campanha de vacinação não foi muito intensa" e que a Secretaria de Saúde era a responsável pelo planejamento das ações. Ele afirmou ao MPF que a cidade possui "equipes qualificadas — inclusive a técnica que fez a aplicação é experiente, não sabendo o que levou a praticar esse fato". Segundo o prefeito, "não precisava ser da área de saúde para saber que não podia aplicar vacinas em crianças".