Lula condena fake news sobre RS: ‘Não têm preocupação com sofrimento dos outros’
Presidente foi ao Rio Grande do Sul pela quarta vez desde o início da tragédia nesta quinta-feira
Brasília|Ana Isabel Mansur, do R7, em Brasília
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a condenar, nesta quinta-feira (6), as informações falsas sobre a tragédia ambiental que assola o Rio Grande do Sul desde o fim de abril. Em Arroio do Meio (RS), ao lado de ministros para anúncio de novas medidas de socorro ao estado, Lula declarou que quem espalha fake news “não tem preocupação com o sofrimento dos outros”. É a quarta vez que o petista vai ao Rio Grande do Sul desde o início da tragédia ambiental.
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“Não acreditem em nada que vocês perceberem que seja anormal. Nos tempos de hoje no Brasil, temos a indústria da mentira, da maldade, da fake news, que não têm nenhuma preocupação com o sofrimento dos outros. Têm só objetivo de negar, de destruir”, criticou o presidente.
Em maio, as redes sociais com operações no Brasil e a AGU (Advocacia-Geral da União) assinaram um protocolo de intenções para combater as fake news sobre a tragédia do Rio Grande do Sul. O documento, assinado pelo advogado-geral da União, Jorge Messias, e representantes de Google/YouTube, Meta, Tik Tok, X (antigo Twitter), Kwai e LinkedIn, prevê a integridade da informação sobre o desastre que atinge o estado.
Dados divulgados às 9h de quarta-feira (5) pela Defesa Civil local apontam que 172 pessoas morreram em decorrência da tragédia ambiental e outras 41 estão desaparecidas. Outras 30.442 estão em abrigos e 572.781, desalojadas. Ao todo, 2,3 milhões de pessoas foram afetadas pelas chuvas e enchentes, em 476 municípios — 95% do estado.
Lula também pediu que os agentes públicos do estado não usem o desastre com intenções políticas. “Não permitam que as eleições deste ano atrapalhem o compromisso de vocês com o povo. Não permitam que seja usada com objetivos eleitorais essa desgraça que aconteceu. Vamos dar uma chance a este país. Uma vez na vida vamos tratar com seriedade aquilo que merece ser tratado com seriedade. A gente vai respeitar quem merece ser respeitado e a gente vai devolver ao povo gaúcho o direito de acreditar que tem gente interessada em cuidar”, declarou.
Burocracia
O presidente voltou a criticar a burocracia para liberar recursos ao RS e destacou que a tragédia no estado não pode ser esquecida. “Estou aqui pela quarta vez porque é importante que a gente não permita que aconteça aqui no Rio Grande do Sul o que já aconteceu tantas vezes: tem uma desgraça, a televisão divulga, as pessoas choram e ficam comovidas. O tempo vai passando e daqui a pouco todo mundo esqueceu, o que foi prometido não foi feito e somente quem ta na desgraça é o povo pobre que mora em lugares mais degradantes. Nossa preocupação é evitar que a burocracia trate esse problema do RS como se nós tivéssemos vivendo período de normalidade”, disse.
Lula relembrou as enchentes que atingiram o Vale do Taquari, também no Rio Grande do Sul, em setembro e novembro do ano passado. “Quando a gente tava acertando, veio outra chuva. Fico pensando, a gente não pode dizer isso, mas se a gente já tivesse feito as casas [destruídas em 2023], a enchente tinha levado outra vez”, afirmou.
O petista declarou, ainda, que é preciso remover as pessoas de locais de risco. “A lição que a gente tira disso é que a gente vai ter que fazer as coisas com mais responsabilidade e cuidado. Nós não temos o direito de fazer a casa das pessoas onde a água vai chegar. Qualquer cidadão humano, de inteligência media sabe que a várzea é local de escoamento de excesso de água de rio. A gente, portanto, vai ter que acertar com prefeitos a escolha de terrenos e, se for necessário, a compra. Vamos fazer parceria, para fazer casas mais seguras para as pessoas, para a gente ter certeza que pode ter outro problema climático, da lua cair em cima de nós, mas que a gente não vai ser mais vítima das enchentes, do não funcionamento das bombas dos diques de Porto Alegre. Temos que ter clareza disso”, pediu.
A gente vai ter que escolher melhor o lugar para casa, escola e hospital. A gente vai ter que transferir esse lugar que encheu de água em bosque e praça, para que as pessoas possam correr, andar de bicicleta, fazer cooper, levar a família no fim de semana, mas nunca mais a gente vai colocar essas pessoas para morar em lugar que vai correr risco de vida
Lula também citou a intenção do governo federal de escoar a água dos rios no mar. “Estamos discutindo as soluções imediatas e rápidas, mas estamos pensando que vamos discutir um projeto para que a gente leve a água do excesso dos rios diretamente para o mar, sem encher nenhuma cidade. Vão me dizer custa caro, os ambientalistas vão ser contra. Possivelmente muita gente me olha e fala ‘Lula nem diploma universitário tem e vai falar essas coisas’”, declarou, ao afirmar que é a terceira pessoa da história com mais experiência em governar o país.
“Só tem 2 pessoas com mais experiência que eu neste país — Dom Pedro [2], que governou quase 70 anos [na verdade, foram quase 50, de 1840 a 1899] e Getúlio Vargas que fez a revolução de 1930, ficou até 1945 [período da ditadura do Estado Novo] e foi eleito em 1954 [Vargas cometeu suicídio em 1954; ele voltou ao poder, democraticamente, em 1951]. Depois dos dois, só eu. Ninguém tem a quantidade de experiência que eu tenho de viver problema neste país”, vangloriou-se.
Lula ainda afirmou que parte da tragédia que assola o Rio Grande do Sul é fruto de ação humana. “Tenho dois anos e seis meses de mandado. Cada dia vocês podem ficar certos que o RS estará na minha cabeça, porque essa coisa que aconteceu não é normal. Uma parte tem muito a ver com a questão do clima e uma parte tem a ver com o descaso da manutenção das coisas, que era preciso ser cuidadas com o tempo. A gente não quer procurar culpado, a gente quer procurar solução para diminuir o sofrimento das pessoas”, acrescentou.