Lula reclama de ‘ameaças’ da União Europeia ao Mercosul para conclusão de acordo
Presidente brasileiro cobra negociação mais justa entre blocos para finalizar tratado comercial
Brasília|Augusto Fernandes, do R7, em Brasília
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou, nesta sexta-feira (23), as exigências impostas pela União Europeia ao Mercosul para a conclusão de um acordo comercial entre os blocos. Segundo o chefe do Executivo, os europeus fazem “ameaças” aos sul-americanos, e é fundamental que haja uma negociação mais justa entre as partes.
“Os acordos comerciais têm que ser mais justos. Eu estou doido para fazer um acordo com a União Europeia. Mas não é possível; a carta adicional que foi feita pela União Europeia não permite que se faça um acordo”, disse o presidente.
“Nós vamos fazer a resposta e vamos mandar a resposta, mas é preciso que a gente comece a discutir. Não é possível que nós tenhamos uma parceira estratégica e haja uma carta adicional que faça ameaça a um parceiro estratégico”, completou Lula.
As declarações dele ocorreram durante a Cúpula do Novo Pacto de Financiamento Global, em Paris, na França. Lula fez o discurso ao lado do presidente da França, Emmanuel Macron, que organizou o evento. O francês, inclusive, tem sido um dos mais resistentes à conclusão do acordo.
• Compartilhe esta notícia no WhatsApp
• Compartilhe esta notícia no Telegram
Macron e outros líderes da Europa querem a garantia de que a intensificação do comércio entre os blocos não vai resultar no aumento da destruição ambiental no Brasil e demais países do Mercosul. Em contrapartida, o lado brasileiro é a favor de que não haja distinção na aplicação de eventuais sanções, ou seja, que ambos sejam penalizados do mesmo modo.
No evento em Paris, Lula prometeu que vai zerar o desmatamento no Brasil até 2030. ”O Brasil vai levar a cabo o controle do desmatamento. Por isso, vamos pôr isso como questão de honra, de até 2030 acabar com o desmatamento na Amazônia. O Brasil tem 30 milhões de hectares de terras degradadas, não precisa cortar uma árvore para plantar um pé de soja, um pé de milho ou criar gado. É só recuperar as terras degradadas.”
Leia também
Carta adicional da União Europeia
A carta adicional citada por Lula foi enviada pela União Europeia ao Mercosul em março deste ano, e no documento os europeus exigiram mais compromissos ambientais por parte de Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai para finalizar o tratado. Além disso, o texto formulado pela União Europeia impõe sanções em caso de descumprimento de metas, mas só para o lado sul-americano.
O Ministério das Relações Exteriores brasileiro prepara uma resposta às novas exigências e deve discutir o tema no fim deste mês com os demais países do Mercosul. Os sul-americanos querem evitar que sejam estabelecidas punições que não estão previstas nem em acordos sobre o clima que União Europeia e Mercosul já assinaram.
Leia mais: Em festival na França, Lula cobra de países ricos financiamento para proteção de florestas
Além disso, o Brasil não quer mudanças nas regras de compras públicas. Lula tem defendido a tese de que o governo não pode ser impedido de fazer licitações com empresas nacionais. Segundo o presidente, ao adquirir produtos do próprio país, o governo incentiva a indústria local. De acordo com ele, se o Brasil for obrigado a comprar do exterior, isso seria o fim de pequenos e médios empreendimentos.