Mesmo com pressão, COP30 evita colocar combustíveis fósseis na mesa de negociação
Assunto não está na agenda oficial do evento, apesar de Lula, Marina Silva e países europeus apoiarem a discussão
Brasília|Ana Isabel Mansur, do R7, enviada especial a Belém
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A COP30, que ocorre em Belém (PA) desde segunda-feira (10) e se estende até o fim da próxima semana, evita colocar oficialmente na mesa de negociações a dependência dos combustíveis fósseis, um dos maiores responsáveis pelas mudanças climáticas. O evento na capital paraense é a conferência das Nações Unidas que debate o clima.
A ausência do tema nas discussões formais contrasta com a crescente pressão de ambientalistas, governos e especialistas, que defendem uma transição mais acelerada para energias limpas.
A decisão de ignorar o assunto também vai no caminho oposto ao que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, defendem. Ambos têm sugerido um “Mapa do caminho” da transição energética — processo que busca substituir gradualmente combustíveis fósseis por fontes renováveis e sustentáveis, como a solar, eólica e hídrica.
O conceito de “Mapa do caminho” (roadmap em inglês) é utilizado em negociações para definir planos de ação com etapas, prazos e metas concretas em busca de um objetivo comum.
Apesar dessa posição do governo brasileiro e da pressão de ambientalistas e especialistas, o tema pode ficar de fora do documento final da COP30. Oficialmente, a conferência tem 145 itens na agenda de discussões.
Discussões laterais
Na tentativa de equilibrar o papel de anfitrião com uma atuação proativa na agenda climática, o governo brasileiro tem buscado manter o debate vivo em agendas paralelas.
Na abertura da cúpula de líderes e na sessão inaugural da COP30, Lula se referiu ao conceito de Mapa do caminho. Sem apresentar detalhes, o presidente afirmou ser necessário planejar a diminuição da dependência de combustíveis fósseis.
“Precisamos de mapas do caminho para que a humanidade, de forma justa e planejada, supere a dependência dos combustíveis fósseis, pare e reverta o desmatamento e mobilize recursos para esses fins”, ressaltou.
Combustíveis fósseis são fontes de energia não renováveis — como carvão mineral, petróleo e gás natural — formadas pela decomposição de matéria orgânica. A queima desses materiais libera energia, mas também contribui para o aquecimento global e a poluição.
Em um dos eventos paralelos às mesas de negociação oficiais, Marina reforçou o discurso de Lula. A ministra admitiu a complexidade do tema, mas frisou a importância de estabelecer o percurso citado pelo petista.
“O que nós queremos é que esse mapa seja a nossa bússola para superarmos a dependência dos combustíveis fósseis de forma justa, ordenada e planejada, fruto de um diálogo com todos, para que ninguém fique para trás”, destacou.
Apoios e resistências
A articulação brasileira tem encontrado apoio de países europeus, especialmente Alemanha, Reino Unido, Dinamarca e França, que demonstraram disposição para reforçar compromissos de redução da dependência dos combustíveis fósseis.
O movimento chega também a outros continentes. Somam-se à intenção nações como Quênia e Colômbia.
No entanto, a resistência de um bloco considerável — estimado em cerca de 70 países — impede que o tópico entre na agenda formal.
Esse grupo argumenta que a inclusão poderia travar negociações mais avançadas, além de afetar interesses econômicos diretos de nações produtoras e exportadoras de petróleo, como Rússia e Arábia Saudita.
Assunto fora da COP30
Questionado a respeito da inclusão oficial do tema na COP30, o presidente da conferência, André Corrêa do Lago, minimizou o assunto.
Segundo o embaixador, as posições manifestadas por Marina e Lula dizem respeito diretamente ao compromisso já registrado no NDC (Contribuições Nacionalmente Determinadas, na sigla em inglês) brasileiro.
Os NDCs são os compromissos construídos por cada país para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, como previsto no Acordo de Paris.
“No nosso NDC, temos uma frase clara, em que o Brasil diz que vai apoiar um mapa do caminho. Já adotamos essa posição no ano passado quando apresentamos nosso NDC, então foi a isso que a ministra Marina estava se referindo e que o presidente Lula também fez referência”, afirmou.
Corrêa do Lago argumentou que existe consenso desde a COP28, nos Emirados Árabes Unidos, de que o mundo deve caminhar para “parar de usar combustíveis fósseis”, mas lembrou que esse assunto já foi discutido na COP29, no Azerbaijão, e ficou de fora da agenda formal da COP30.
“É um tema muito importante, sem dúvida. Mas, como já há um acordo, sabemos que são discussões abertas e que não são o foco das negociações atuais”, ponderou.
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