Michelle Bolsonaro toma vacina nos EUA e recebe críticas
A escolha foi vista como uma desvalorização do SUS, já que a primeira-dama poderia ter se vacinado no Brasil desde julho
Brasília|Bruna Lima, do R7, em Brasília
Após o presidente Jair Bolsonaro revelar que a primeira-dama optou por se imunizar contra a Covid-19 durante viagem aos Estados Unidos, Michelle Bolsonaro foi alvo de críticas por ter escolhido sair do país para finalmente tomar a vacina.
Com 39 anos, a primeira-dama poderia ter se vacinado em Brasília desde o fim de julho, quando a imunização foi aberta para a faixa etária. O presidente da República contou, durante a tradicional live de quinta-feira (23), que Michelle chegou a pedir sua opinião antes de tomar a iniciativa.
"Nos Estados Unidos, minha esposa veio conversar comigo sobre tomar ou não a vacina. Dei a minha opinião para ela. Não vou falar qual foi a minha opinião, mas ela tomou a vacina. Ela é maior de idade, tem 39 anos, sabe o que faz", declarou Bolsonaro.
Na ocasião, Bolsonaro não deixou claro se a primeira-dama havia tomado a vacina nos Estados Unidos ou no Brasil, mas a Secretaria Especial de Comunicação Social (Secom) confirmou que Michelle recebeu o imunizante nos EUA.
Segundo a Secom, antes de retornar ao Brasil, Michelle se submeteu ao teste de PCR, obrigatório para a autorização de embarque. "Durante a realização da testagem, a primeira-dama foi indagada pelo médico se ela gostaria de aproveitar a oportunidade para ser vacinada. Como já pensava em receber o imunizante, resolveu aceitar."
Críticas
Fundador da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, o médico sanitarista Gonzalo Vecina definiu como preocupante a decisão de Michelle de "não utilizar a estrutura do SUS (Sistema Único de Saúde), que está oferecendo as boas vacinas que o mundo inteiro está utilizando", disse, ao R7.
Já o senador Humberto Costa (PT-CE), membro da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19 e ex-ministro da Saúde no governo Lula, afirmou que a decisão foi equivocada, pois Michelle, "uma pessoa de referência para milhões de pessoas no Brasil, assim como o presidente, poderia ter dado uma grande contribuição vacinando-se mais cedo".
"Em verdade ela termina colocando uma nuvem de desconfiança para essas pessoas quanto à qualidade, eficácia e segurança das vacinas que são aplicadas aqui no Brasil", continuou o senador. "Eu acho uma decisão lamentável sob todos os aspectos e um desrespeito a um sistema de saúde que é um dos melhores do mundo e que poderia ter, neste momento, um reforço com a primeira-dama do país vacinando-se no próprio SUS."
O deputado federal Henrique Fontana (PT-RS), médico de formação, usou as redes sociais para tecer críticas: "Um desrespeito ao trabalho de pesquisadores, técnicos da Anvisa, trabalhadores da saúde e tantos outros profissionais que se dedicaram para garantir a vacinação dos brasileiros".
A deputada federal Perpétua Almeida (PCdoB-AC) alfinetou nas redes sociais: "Imagino q ela não conseguiu entrar em algumas lojas e restaurantes badalados de NYC por falta do cartão de vacinação".
Em meio às repercussões, a Secretaria da Presidência afirmou, em nota, que a primeira-dama "reitera a sua admiração e respeito ao sistema de saúde brasileiro, em especial, aos profissionais da área que se dedicam, incansavelmente, ao cuidado da saúde do povo".