Mulher internada em UPA do DF onde bebê morreu aguarda transferência para UTI há três dias
Nesta semana, menino de 1 ano morreu após aguardar mais de 12 horas por ambulância que o levaria a UTI
Brasília|Edis Henrique Peres, do R7, em Brasília
Uma mulher internada na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) do Recanto das Emas (DF) espera há pelo menos três dias pela transferência para um leito de UTI (Unidade de Terapia Intensiva). A UPA é a mesma em que um menino de 1 ano morreu nesta semana após esperar mais de 12 horas por uma ambulância que o levaria para a UTI do Hospital Materno Infantil de Brasília.
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Em nota, o Iges-DF (Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal), responsável pela administração da UPA, lamentou a morte do menino de 1 ano e reconheceu que houve “uma demora muito acima do que prevê o contrato de prestação de serviço” das ambulâncias que fazem as transferências de pacientes.
A denúncia relacionada à mulher foi feita pela deputada distrital Dayse Amarílio (PSB), que visitou a unidade nesta quinta-feira (16). Segundo a parlamentar, ela encontrou uma situação “preocupante” na UPA.
Presidente da Comissão de Assuntos Sociais da Câmara Legislativa do DF, Dayse relata que a sala vermelha da UPA, destinada para casos graves, tinha seis pacientes dividindo um espaço que suportava no máximo quatro, sendo três deles com ventilação mecânica e aguardando transferência para a UTI.
Na ala pediátrica, a sala planejada para quatro leitos abrigava sete. A parlamentar também encontrou poltronas improvisadas para garantir o atendimento de idosos e pacientes debilitados. Segundo ela, todo o quadro encontrado na UPA aponta para uma “crise sistêmica na saúde”.
“As UPAs estão cheias, não conseguimos dar vazão. O paciente que deveria ficar 24 horas na unidade acaba ficando dias. Vimos na UPA do Recanto das Emas pacientes que estão há seis dias na unidade. Pacientes, inclusive, esperando pareceres. Outra dificuldade são as salas vermelhas das UPAs por conta da central. Há vários pacientes nas salas vermelhas que acabam precisando de leitos de UTI e a central de regulação está sempre cheia”, denunciou.
“Há casos na UPA do Recanto de um paciente que está há três dias aguardando vaga na Unidade de Terapia Intensiva. Além disso, quando se consegue se consegue o leito, seja para internação em um hospital da região ou seja para um leito de UTI, ainda temos a dificuldade da remoção”, completou Dayse.
Atualmente, o Iges tem um contrato de R$ 57 milhões com a empresa de transferência de pacientes. Dayse aponta também para denúncias feitas pelos trabalhadores da falta de segurança para os servidores, “pois as ambulâncias estão sucateadas, têm problemas de manutenção, estão com pneus carecas e outras paradas no pátio”.
Morte do bebê
Enzo Gabriel, de 1 ano de idade, morreu após aguardar mais de 12 horas por uma ambulância. Segundo Cícero Alves, pai da criança, a família esperava por uma ambulância da UTI Vida — que possui contrato de prestação de serviços com o Governo do DF — para Enzo Gabriel ser transferido para a UTI do Hospital Materno Infantil de Brasília.
O transporte foi solicitado na noite de terça-feira (14), mas a ambulância só chegou às 7h de quarta (15), quando o menino já estava morto. Enzo Gabriel havia sido diagnosticado com dengue aguda, pneumonia com derrame pleural (acúmulo de líquido entre os tecidos que revestem os pulmões e o tórax) e estava entubado enquanto aguardava a transferência.
Administradora da UPA lamenta morte de criança
Em nota, o Iges-DF disse que a demora da ambulância no caso de Enzo Gabriel foi justificada pela prestadora pelo “pico de solicitações de remoção pediátrica naquela noite”.
“No momento em que a ambulância foi solicitada havia 10 pacientes pediátricos em estado grave com necessidade de remoção, quantidade muito acima da média usual de 3 remoções por noite”, completou o Iges-DF.
O instituto disse que a morte do bebê ocorreu pela “condição clínica gravíssima” do paciente. “Assim que seu quadro evoluiu em piora, a criança foi transferida para a sala vermelha da UPA, um ambiente equivalente a uma UTI, e recebeu em todo o momento que esteve lá a assistência de uma unidade de terapia intensiva.”
O Iges-DF lamentou a morte da criança e disse que segue comprometido “em prestar todo o suporte psicossocial à família”.