Paciente com câncer perde mobilidade das pernas, e família reclama de negligência médica
Amanda da Costa está internada em hospital público do Distrito Federal e aguarda há quatro meses por cirurgia
Brasília|Beatriz Oliveira*, do R7, em Brasília
Uma paciente internada com câncer no HRL (Hospital Região Leste), no Paranoá (DF), perdeu a mobilidade das pernas e a família dela acusa a rede pública de saúde de negligência médica. Amanda da Costa, de 41 anos, tem câncer de coluna e aguarda por uma cirurgia desde o início deste ano. O procedimento deveria ser feito com urgência, visto que os laudos médicos dizem que ela teria de ser operada em no máximo três dias após ser internada, mas a mulher já espera há quatro meses. A Justiça ordenou a realização do procedimento em abril, mas o HRL não fez a operação. Ao R7, a Secretaria de Saúde disse que aguarda a liberação de um leito de oncologia para Amanda e afirmou que, no momento, não há indicação cirúrgica.
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Amanda foi inicialmente internada no Hospital de Base, em 7 de fevereiro, e diagnosticada com síndrome de compressão medular, o que levou à perda dos movimentos das pernas e a um quadro infecção urinária.
Um laudo sobre a situação dela divulgado em março mostrou que a paciente foi avaliada por profissionais ortopédicos do HRL, que indicaram a necessidade de cirurgia para descomprimir a medula. O documento reforçou que o procedimento deveria ser feito em 72 horas, pois havia risco de a paraplegia ser irreversível. Outro laudo, atestado em abril, reafirmou a necessidade da operação e revelou que a paciente já esperava ser chamada pelo HRL há 83 dias.
No início de maio, a paciente foi transferida para o HRL, onde recebeu a notícia de que não seria operada e não recuperaria o movimento das pernas. Amanda contou que os médicos explicaram que não valia a pena fazer a cirurgia, pois já tinha passado muito tempo e havia alto risco de ela ser submetida ao procedimento naquela altura.
A recomendação dos profissionais foi dar seguimento ao tratamento oncológico no Hospital de Base. Amanda ficou frustrada com a notícia. “Eles me deixaram 90 dias aqui para perder o resto dos movimentos das minhas pernas. Eu não acredito nisso”, lamenta a paciente.
Família entrou na Justiça
A família de Amanda decidiu entrar na Justiça para conseguir com que o procedimento fosse feito. Em 3 de abril, o TJDFT (Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios) deu cinco dias úteis para a Secretaria de Saúde fazer a cirurgia. No dia 5, a Central de Regulação de Cirurgias Eletivas da Secretaria de Saúde informou que autorizou a operação, que poderia ser efetuada em qualquer dia do mês passado. Segundo a central, a convocação da paciente, bem como a definição da data da cirurgia, seriam atribuições do HRL conforme a disponibilidade de recursos humanos e materiais, leitos e/ou sala cirúrgica.
Apesar disso, o HRL não fez a cirurgia. Em 9 de maio, a Justiça intimou a direção do hospital a informar o motivo de a cirurgia não ter sido realizada em abril. O TJDFT também exigiu que o HRL apresentasse se adotou providências para que a cirurgia ocorresse com a maior brevidade possível, devido às lesões neurológicas que foram causadas a Amanda com a demora no tratamento. A Justiça deu 48 horas para a direção do HRL se manifestar, sob pena de apuração de cometimento de crime de desobediência, mas a resposta foi dada fora do prazo.
Em 21 de maio, o TJDFT cobrou mais uma vez a manifestação do hospital, questionando se ainda persiste a indicação da cirurgia, os motivos pelos quais a cirurgia pleiteada ainda não foi fornecida antes e qual o tratamento adequado ao quadro de Amanda. Novamente, o HRL não se manifestou no período estabelecido pela Justiça.
Secretaria diz que cirurgia não é necessária
O R7 procurou a pasta, que disse que Amanda “segue aos cuidados da equipe e aguarda liberação de leito de oncologia”. A secretaria respondeu que as demandas judiciais que chegam no HRL são respondidas dentro do prazo exigido em lei.
Ao ser questionada sobre os laudos de Amanda que recomendavam a realização da cirurgia, a secretaria afirmou que “em 7 de maio, houve uma nova discussão entre a equipe de oncologia do Base e do HRL e concluiu-se que não há indicação cirúrgica no momento”.
Segundo a família de Amanda, a decisão de não realizar a operação foi comunicada apenas pelo HRL. Os parentes da paciente dizem que não estão recebendo relatórios do HRL e da Secretaria de Saúde sobre qual é a orientação para o tratamento de Amanda, o que os deixa sem saber o motivo de a cirurgia ter sido descartada.
A família se mostra frustrada com o descaso. Adilson Cardoso, pai de Amanda, conta que a filha estava “jogada” e não recebia um bom tratamento no HRL. “Temos que trazer os remédios dela de casa, porque não tem a medicação que ela precisa aqui”, afirma.
Acompanhante de Amanda no hospital, a amiga Eliana Santos vê de perto a situação e diz se sentir angustiada e impotente por não poder fazer muito. “Quando vejo o desespero da mãe, do pai e dos filhos dela a cada visita que fazem, o choro doído deles me parte o coração.”