Prisão domiciliar de Bolsonaro pode influenciar tarifaço dos EUA, apontam especialistas
Apesar do cenário delicado, especialista acredita que ainda há margem para negociação no campo diplomático
Brasília|Do R7, em Brasília
RESUMO DA NOTÍCIA
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A decisão do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), de colocar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em prisão domiciliar pode ter repercussões que ultrapassam o cenário político nacional — e afetar diretamente as relações comerciais entre Brasil e Estados Unidos. Especialistas avaliam que a medida pode reforçar simbolicamente as tarifas impostas pelo governo Donald Trump sobre produtos brasileiros.
“O tarifaço pode, sim, ser mantido — ou até endurecido — com base nessa prisão”, afirma o cientista político André César, sócio da Hold Assessoria Legislativa. Segundo ele, Trump mencionou diretamente a situação de Bolsonaro ao justificar a sanção de 50% sobre as exportações brasileiras, condicionando uma possível revisão das tarifas ao abrandamento das investigações e punições contra o ex-presidente. “No mínimo, essa prisão reforça a narrativa que já está colocada — e que é muito ruim para o Brasil”, avalia.
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Na mesma linha, Guilherme Barcelos, doutor em direito constitucional e sócio do escritório Barcelos Alarcón Advogados, afirma que a tendência é de endurecimento. “Se a Casa Branca cumprir o que vem anunciando, essas tarifas devem ser reforçadas”, diz.
Além do impacto comercial, André César destaca o efeito político da decisão. Para ele, a prisão domiciliar pode fortalecer o discurso de perseguição usado por aliados de Bolsonaro e ampliar o sentimento de vitimização dentro do bolsonarismo.
“No limite, a decisão pode até beneficiar Bolsonaro politicamente. Reforça a ideia de que ele está sendo pré-julgado, perseguido, e alimenta o discurso de má vontade por parte do Judiciário. Isso tem potencial de mobilizar sua base e gerar repercussões dentro e fora do país”, analisa.
Diplomacia e pressão econômica podem aliviar impactos
Apesar do cenário delicado, André César acredita que ainda há margem para negociação no campo diplomático. Ele cita a atuação do ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, como ponto de equilíbrio na tentativa de reverter — ou ao menos suavizar — os efeitos do tarifaço.
“A diplomacia é essencialmente um espaço de negociação, e o chanceler Mauro Vieira tem demonstrado habilidade nesse campo. Em visitas recentes aos Estados Unidos, participou de encontros importantes, como com o senador Marco Rubio, figura influente no entorno de Trump. Isso mostra que há boa vontade e canais de diálogo abertos”, afirma.
Outro fator que pode pesar contra a manutenção da tarifa de 50% são os próprios interesses econômicos dos Estados Unidos. Setores como café e carne bovina, diretamente afetados pela medida, têm força no mercado norte-americano — e impacto direto no bolso do consumidor.
“Os americanos não produzem café em larga escala, compram muito do Brasil. O mesmo acontece com a carne, especialmente a usada para hambúrgueres, um item básico na dieta do americano médio. Se os preços subirem, a pressão desses setores sobre o governo tende a aumentar”, explica.
A nova tarifa de 50% sobre produtos brasileiros começa a valer nesta quarta-feira (6) e foi oficializada por uma ordem executiva assinada pelo ex-presidente Donald Trump. No documento, o governo norte-americano justifica a medida citando ameaças do Brasil à segurança nacional, à economia e à democracia dos EUA. A situação de Bolsonaro é mencionada diretamente como parte dessa motivação.
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