A caatinga é considerada o semiárido mais biodiverso do mundo e ocupa 10,1% do território nacional. Ao todo, 1,3 mil espécies vivem nesse habitat, sendo 327 animais exclusivos da região.Na série de reportagens Bioeconomia em Cada Bioma Brasileiro, o R7 ouviu quem impulsiona os potenciais do único bioma exclusivamente brasileiro.O fundador da Cooates (Cooperativa de Trabalho Agrícola, Assistência Técnica e Serviços), José Cláudio da Silva, por exemplo, conta que o grupo comercializa mel para redes de supermercado no Rio Grande do Norte, Pernambuco, Alagoas e Paraíba. O mel é produzido por pequenos produtores da caatinga, e também por apicultores da mata atlântica e da região de manguezais da Mata Sul.“A gente atua nesse ramo do mel e derivados, mas a cooperativa também trabalha com outras demandas. Estamos construindo a primeira unidade de biocosméticos veganos aqui na Mata Sul, onde vamos desenvolver várias ações voltadas à economia local”, afirma.A expectativa da cooperativa é produzir xampu, condicionador, creme facial e óleos hidratantes com insumos típicos da região. “Por enquanto, trabalhamos com mel e própolis, mas também desenvolvemos ações voltadas ao desenvolvimento local”, detalha.A cooperativa é responsável pela marca Vale do Una e reúne 26 cooperados de três estados, com atuação que reúne ecossistemas diferentes, como manguezais, mata atlântica e caatinga. Segundo Cláudio, o grupo oferece assistência técnica e suporte ao desenvolvimento da cadeia produtiva.“Aqui na cooperativa, tudo começou com a preocupação de agregar valor à bioeconomia local, fomentar a sustentabilidade e gerar renda para as comunidades da região. A cooperativa dispõe de diversos produtos do ecossistema da caatinga, da biodiversidade, e temos um grande potencial econômico”, defende.Para fomentar o desenvolvimento da economia sustentável, o grupo mantém parceria com a Universidade Federal de Pernambuco.“A biodiversidade e a bioeconomia estão muito ligadas. Hoje, o cenário mundial tem priorizado produtos vinculados a comunidades e que, ao mesmo tempo, garantam a sustentabilidade das produções e dos ecossistemas”, observa.José Cláudio da Silva admite, contudo, alguns desafios, como a falta de laboratórios de pesquisa. “Temos dificuldade para realizar estudos em laboratório sobre cada planta e seus subprodutos. Isso é caro e impede que a gente registre a patente desses produtos. O maior desafio é viabilizar a extração desses recursos e ter laboratórios certificados”, resume.Outro ponto mencionado por ele é a falta de mecanismos de identificação da origem dos produtos, o que poderia valorizar o comércio dos itens.Apesar dos obstáculos, ele assegura: “É possível ter renda, criar oportunidades e manter as comunidades em seus assentamentos e territórios de origem. É possível tornar viável e sustentável a produção desses produtos. Por ano, temos, por exemplo, um faturamento de quase R$ 500 mil com a produção de mel e própolis”.Além do mel, a caatinga se destaca pela produção de plantas típicas. Nesse segmento, atua a Coopercuc (Cooperativa Agropecuária Familiar de Canudos, Uauá e Curaçá). Carla Pereira, diretora financeira da cooperativa, explica que ela foi fundada em 2003 por 44 agricultores.“Hoje, a Coopercuc realiza diversas atividades, incluindo: acompanhamento das comunidades com assistência técnica; desenvolvimento e execução de políticas públicas por meio de projetos voltados à melhoria ambiental, social e econômica; beneficiamento de frutas da caatinga, como umbu, maracujá da caatinga, banana, goiaba e outras; além da promoção da sustentabilidade e da bioeconomia”, detalha.Para ela, os desafios são garantir a sustentabilidade econômica da cooperativa, manter a inovação dos produtos e ampliar o mercado e a visibilidade do trabalho realizado, para “gerar ainda mais frentes de renda e apoio às famílias”.“Precisamos desenvolver mais projetos e parcerias que promovam a sustentabilidade e a bioeconomia; aumentar a conscientização sobre a importância da biodiversidade e da conservação da caatinga; e fortalecer a capacitação e a formação dos agricultores e membros da cooperativa”, lista.O grupo defende a bioeconomia na região. “A bioeconomia promove o uso racional dos recursos naturais e a geração de renda para as comunidades locais. Além disso, pode contribuir para a conservação da biodiversidade e a mitigação das mudanças climáticas”, defende.Carla diz acreditar na sustentabilidade e na conservação da natureza. “A sustentabilidade é essencial para garantir a qualidade de vida das futuras gerações”, pontua.Maria da Conceição Moura, de 56 anos, é uma das associadas à Coopercuc. Ela atua no município de Uauá, na Bahia. “Comecei a trabalhar aos 10 anos, com meus pais. Me dedico desde a juventude. Aqui, planto milho, feijão, abóbora, melancia, macaxeira e frutas variadas”, conta.Para Maria, o que ajuda a fortalecer o trabalho no campo é a assistência técnica. Além de estruturas, como cisternas e poços, que garantem o acesso à água para os produtores familiares.Ela comemora que, com o trabalho ligado à bioeconomia, conseguiu reformar a casa, comprar móveis e uma televisão.“Foram muitas as conquistas. Meus filhos estudaram, adquiriram conhecimento com os projetos que chegaram à região, e a venda das frutas incentiva os jovens a permanecer no campo”, conclui.Conheça outras histórias da série Bioeconomia Em Cada Bioma Brasileiro:Fique por dentro das principais notícias do dia no Brasil e no mundo. Siga o canal do R7, o portal de notícias da Record, no WhatsApp