Rui Costa critica Roberto Campos Neto: ‘BC precisa ser dirigido por quem mora no Brasil’
Ministro atribuiu subida do dólar desta quinta (28) a ‘visão política’ de presidente do Banco Central
Brasília|Do R7
O ministro da Casa Civil, Rui Costa, criticou nesta quinta-feira (28) o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Na linha das falas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva contra o dirigente bancário, o ministro afirmou que o governo está “em contagem regressiva” para a saída de Campos Neto do cargo, no fim do ano. Ele será substituído pelo economista Gabriel Galípolo, indicado por Lula. Costa destacou, contudo, que a direção de Galípolo não será vinculada ao Executivo.
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“Estamos em contagem regressiva para ter, não um Banco Central que seja com olhar para o Executivo, mas um BC que tenha olhar para o Brasil, dirigido por quem mora no Brasil, e não em Miami [nos Estados Unidos]. Por quem tem sua família residindo no Brasil, que tem esperança e seu futuro pessoal e profissional vinculado ao Brasil, e não ao exterior. É muito mais producente quando as pessoas cuidando do país são quem vai morar nele, não que estão já morando em outro país e prejudicando seu país de origem”, criticou. Campos Neto está nos Estados Unidos, onde cumpriu agenda nos últimos dias.
O ministro também atribuiu a alta do dólar desta quinta (28) à “visão política” de Campos Neto. A moeda norte-americana fechou em R$ 5,98, em reação às medidas fiscais anunciadas pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, nessa quarta (27). O valor superou o recorde da véspera (R$ 5,913) e o registrado em maio de 2020, no auge da pandemia, quando alcançou R$ 5,97.
“O que não pode e que nos causou indignação... Todo esse questionamento de hoje foi deliberadamente, na nossa opinião, motivado e ‘startado’ [iniciado] pela atual direção do BC, que, na minha opinião, numa visão política de boicote ao governo, ficou criando a sensação permanente de instabilidade”, acrescentou Costa.
O chefe da Casa Civil ainda afirmou que Campos Neto “só fala mal do Brasil”. Apesar das falas, o ministro disse preferir não “comentar mais.” “[Ele] vai pra fora do Brasil, só vive falando mal do Brasil. Toda palestra que vai fala mal do Brasil, por isso que estamos em contagem regressiva. Prefiro não mais fazer comentários porque faltam apenas 30 dias para a que a gente tenha uma direção que vai adotar de forma autônoma, técnica, com competência, eu espero, com conhecimento técnico, as medidas que precisam ser adotadas”, completou.
Em meio às críticas, o ministro declarou que o Banco Central é independente. “Temos que respeitar as instituições. O BC, institucionalmente, tem independência em relação ao Executivo e cabe ao BC adotar medidas que achar pertinente para a política macroeconômica”, emendou, ao informar que Lula deve anunciar os novos nomes da diretoria do banco na próxima semana.
“O presidente já definiu, devem ser enviados, senão amanhã, no máximo no início da próxima semana”, disse. O petista precisa indicar três dirigentes para o BC: dois para substituir diretores cujos mandatos terminam em dezembro e um para o lugar de Galípolo, atual diretor de Política Monetária.
Diálogo com mercado
Rui Costa destacou, ainda, que a equipe econômica do governo vai dialogar com o mercado sobre o pacote de corte de gastos. “Não tenho dúvida, quando ficar esclarecido o conjunto das medidas e dos detalhes... Porque o que se cobrava foi plenamente, 100% atendido. As medidas adotadas trazem para dentro do arcabouço a projeção de médio e longo prazo de todas as despesas. E, no curto prazo, já demos demonstração mais do que cabal de que não vamos titubear em fazer o cumprimento do acordo. E aí, não é discurso”, reforçou.
No mercado financeiro, os investidores operaram na expectativa pelo anúncio do pacote de corte de gastos do governo. O dólar subiu 1,8% e terminou a última quarta-feira (27) cotado em R$ 5,91. É o maior valor nominal de fechamento da moeda americana na história do real, o que não leva em conta a inflação acumulada ao longo do tempo pela economia brasileira, que já teve outras moedas. Já o principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo fechou em queda de 1,73%, acima dos 127 mil pontos.
Após o anúncio do pacote, o dólar avançou 1,29% em relação ao real e fechou cotado a R$ 5,9895, superando o recorde da véspera (R$ 5,913) e o registrado em maio de 2020, no auge da pandemia, quando alcançou R$ 5,97. A disparada é resultado do descontentamento do mercado com a proposta de ajuste fiscal.
“Na hora que o pacote tiver sido compreendido, não tenho dúvida que o mercado vai entender que aqui não tem dúvida do nosso compromisso [com a responsabilidade fiscal e o arcabouço fiscal]. Quem vai apostar contra o Brasil vai perder. Nós não vamos brincar de fazer política econômica ou de governar”, acrescentou o chefe da Casa Civil.