Após o fim do incêndio que atingiu 45,85% do território da Flona (Floresta Nacional de Brasília), a unidade de conservação passa por outro desafio: o de se recuperar dos estragos deixados pelo fogo. Ao todo, 2.500 hectares foram atingidos pelas chamas, que levaram cinco dias para serem completamente extintas pelos bombeiros e equipes do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade). O incêndio foi o pior dos últimos dez anos no local.Coordenador do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação em Biodiversidade e Restauração Ecológica do ICMBio, Alexandre Sampaio avalia que “sem investimento, a floresta pode não se recuperar”. “A vegetação do Cerrado típica, mais aberta, rebrota e cresce muito rápido. No entanto, as matas na beira dos cursos d’água são um desastre, e a regeneração pode levar anos ou talvez nunca aconteça sem investimento e intervenção adequados”, explica.O incêndio começou em 3 de setembro e só foi totalmente controlado em 7 de setembro. O caso é investigado pela Polícia Federal.O especialista reforça que o Cerrado é muito resistente ao fogo, “mas não ao fogo criminoso nessa época do ano, muito quente e de muito vento”. “O fogo em um sistema saudável tem um impacto. Já o fogo em uma área invadida por gramíneas de pastagem causa um impacto muito pior. Vale lembrar que o impacto dos incêndios não é isolado: temos a drenagem dos lençóis freáticos, ou seja, regiões que antes eram úmidas e seriam dificilmente atingidas pelas chamas que agora estão mais secas pela construção de mais poço e outras intervenções humanas”, explica Sampaio.Além dos danos na flora, que precisa ser restabelecida principalmente nos pontos de nascentes, há os impactos para a fauna local.Para ajudar, agentes do ICMBio espalham frutas e mix de sementes pela unidade de conservação para garantir a alimentação aos animais. No entanto, a medida não consegue proteger a fauna de todos os impactos sofridos.Biólogo e professor do Colégio Everest Brasília, Pedro Schimmelpfeng, explica o impacto das queimadas para o bioma. “O aumento da frequência e intensidade das queimadas tem o poder de alterar a paisagem do Cerrado, pois as árvores e regiões mais densas de mata, como o Cerradão, acabam sendo destruídas e substituídas por terrenos de campos limpos e sujos. Por fim, essa alteração pode afetar a disponibilidade de água nas nascentes da região, e quanto mais se perde em decorrência das queimadas, mais difícil é recuperar o bioma e seus serviços”, alerta.O especialista avalia que serão necessários vários anos para a floresta se recuperar.O biólogo reforça que, agora, o “maior desafio é evitar que novas queimadas aconteçam no período da seca”.“Cabe conscientizar a população sobre as ações que podem levar a um incêndio, bem como confiar no poder público para ocorrer a devida fiscalização, vigilância e acompanhamento de possíveis ocorrências no local. É importante lembrar que a população tem o poder de fazer denúncias para que as pessoas que cometam incêndios criminosos possam ser responsabilizadas. No final, não existe uma solução mágica. A única forma de resolver esse problema é o trabalho conjunto entre governo e população, nos mais diferentes níveis”, observa.Schimmelpfeng explica, também, a importância da Floresta Nacional de Brasília.O especialista explica que a perda de biodiversidade acarreta perda de diversos serviços ecológicos, “como a manutenção das nascentes, dispersão de sementes, polinizadores e o controle biológico de outros seres vivos”.A Ouvidoria-Geral do Distrito Federal atende pelo telefone 162 e recebe denúncias de incêndios criminosos das 7h às 21h durante a semana e das 8h às 18h nos sábados, domingos e feriados. Também é possível denunciar os casos presencialmente na sede do Ibram (Instituto Brasília Ambiental), localizada na 511 Norte, no SEPN (Setor de Edifícios de Utilidade Pública Norte).