Exceções mostram ‘necessidade’ dos EUA sobre produtos do Brasil, mas com protecionismo
Para economista, episódio demonstra a ‘fragilidade’ da pauta externa do país, que dependente da exportação de commodities
RESUMO DA NOTÍCIA
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O decreto publicado nesta quarta-feira (30) pelos EUA, que taxou em 50% produtos brasileiros exportados ao país, não foi um “gesto de aproximação diplomática”. A avaliação é do economista Hugo Garbe.
A norma, em vigor a partir de 6 de agosto, tem uma lista com quase 700 exceções de produtos brasileiros.
Para o especialista, esse rol representa uma “necessidade” dos EUA sobre o Brasil. “Foi poupado da taxação aquilo que os Estados Unidos, pragmaticamente, ainda precisam importar do Brasil para manter sua própria engrenagem funcionando”, ponderou.
Entre os produtos que não receberão a tarifa, estão suco de laranja, aviões comerciais, combustíveis, petróleo bruto e minério de ferro.
“Todos com peso significativo na pauta de exportações brasileiras, mas, mais importante do que isso, são insumos-chave para setores industriais e produtivos americanos, cuja substituição — ao menos no curto prazo — é custosa, lenta ou simplesmente inviável”, analisou Garbe.
Conforme o economista, a decisão de Trump segue a lógica do “custo-benefício”. “Produtos em que o Brasil ocupa posição de destaque na cadeia de suprimentos global foram poupados. O recado é direto: ‘precisamos de vocês — por enquanto’“, explicou Garbe.
Contudo, commodities brasileiras com grande fluxo comercial para os Estados Unidos, como carne bovina, café e cacau, não foram incluídas nas exceções e serão taxadas em 50%.
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O especialista avalia que a manutenção da tarifa sobre tais produtos demonstram o “protecionismo seletivo” dos EUA, voltado para preservar nichos internos sensíveis, especialmente em ano eleitoral.
“(São) setores em que os EUA têm produção doméstica forte, lobby estruturado e onde o Brasil aparece como concorrente direto”, considerou Garbe.
“Aqui, o objetivo não é suprir, mas proteger. Não há dependência crítica. Há competição. E Trump, como bom estrategista político, entende que defender o produtor americano, mesmo à custa de tensões comerciais, rende votos em estados-chave como Texas, Iowa e Flórida”, salientou.
Garbe analisou que o episódio demonstra a “fragilidade” da pauta externa do Brasil, pois, na avaliação dele, o país continua “excessivamente” dependente da exportação de commodities e produtos primários, muitos deles insubstituíveis no mundo, mas facilmente substituíveis politicamente.
“Não há garantia de estabilidade comercial quando o relacionamento com grandes parceiros depende da conveniência política do momento. E Trump mostrou isso com clareza: quem serve aos interesses estratégicos dos EUA é mantido. Quem compete com eles é afastado”, finalizou.
Café e cacau
Segundo dados do MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços), os Estados Unidos são os maiores compradores de café do Brasil — tanto do item torrado quanto do não torrado.
Apenas em junho, os EUA adquiriram 15,9% do café não torrado vendido pelo Brasil, um total de US$ 148,2 milhões.
Também no mês passado, no caso do café torrado — modalidade que inclui extratos, essências e concentrados de café —, os Estados Unidos compraram 23,4% do que foi produzido pelo Brasil: US$ 21 milhões.
Os EUA também têm participação importante na compra do cacau brasileiro. Em junho deste ano, o país foi o maior comprador de cacau em pó, manteiga ou pasta de cacau, com 42,6% de participação (US$ 22,5 milhões).
Com relação ao chocolate e a outras preparações alimentícias oriundas do cacau, os Estados Unidos (12,2%) foram o segundo maior destino no mês passado, atrás apenas da Argentina (27,2%). O valor total das compras chegou a US$ 2,4 milhões.
Frutas
A participação dos EUA no mercado brasileiro de mangas e abacaxis é menos significativa do que o fluxo de café e cacau.
Em 2024, os Estados Unidos foram o 17º maior comprador de abacaxis frescos ou secos, de acordo com números da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária). Foram 1,7 mil toneladas adquiridas, um total de cerca de US$ 4,1 mil.
Também segundo a Embrapa, em junho deste ano, os EUA compraram cerca de 0,6% da manga exportada pelo Brasil, a oitava maior porcentagem. Países como Holanda (52%), Portugal (9%), Reino Unido (5,6%), Argentina (2,7%), Coreia do Sul (1%) e Chile (1%) tiveram participação maior do que a norte-americana.
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