Biomas brasileiros têm número recorde de incêndios em 2024
Incêndios em 2024 atingiram números recordes na Amazônia, no Cerrado e no Pantanal
Cidades|Victoria Lacerda, do R7, em Brasília
Os biomas brasileiros enfrentaram um cenário alarmante de incêndios em 2024, com números recordes na Amazônia, no Cerrado e no Pantanal. De janeiro a novembro, em comparação ao mesmo período de 2023, os focos de calor aumentaram 43,7% na Amazônia, 64,2% no Cerrado e 139% no Pantanal, conforme dados do Inpe (Programa Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).
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Especialistas atribuem a intensificação dos incêndios a uma combinação de fatores, incluindo uma seca extrema causada por um El Niño intenso, mudanças climáticas e o desmatamento acumulado.
Tradicionalmente, os incêndios no Brasil atingem seu auge entre agosto e outubro, mas já em julho de 2024 sinais indicavam que o país enfrentaria uma das piores secas da história, agravando ainda mais a propagação descontrolada do fogo.
Amazônia
Entre janeiro e novembro de 2024, a Amazônia registrou 134.979 focos de incêndio, o maior número desde 2007. Apenas em novembro, foram 14.158 focos, representando um aumento de 1,5% em relação ao mesmo período de 2023.
De acordo com o Lasa (Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais) da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), 13 milhões de hectares de floresta nativa foram consumidos pelo fogo, uma área equivalente ao tamanho da Inglaterra.
Para a diretora de Estratégia do WWF-Brasil, Mariana Napolitano, o cenário reflete uma combinação de crises climáticas e degradação ambiental.
“O desmatamento agrava a crise climática, gerando secas históricas, ondas de calor e enchentes. Estamos perto de um ponto em que a Amazônia pode se transformar em um ecossistema mais pobre e seco, comprometendo sua função de regulador climático e sua biodiversidade”, destacou.
Cerrado
O Cerrado teve 79.599 focos de incêndios até novembro de 2024, um aumento de 64,2% em relação ao mesmo período de 2023. Essa é a maior marca desde 2012. A área queimada no bioma até outubro totalizou 14,6 milhões de hectares, o dobro da área da Irlanda.
Segundo o especialista em conservação do WWF-Brasil, Daniel Silva, a destruição do Cerrado afeta diretamente outros biomas.
“O desmatamento no Cerrado desequilibra a Amazônia e o Pantanal, contribuindo para secas, incêndios e ondas de calor. Precisamos de políticas consistentes que combatam o desmatamento em todo o país”, afirmou.
Pantanal
O Pantanal registrou 14.483 focos de incêndios entre janeiro e novembro de 2024, um aumento de 139% em comparação ao mesmo período de 2023. Essa marca é a segunda maior da série histórica do Programa Queimadas, do Inpe, ficando atrás apenas de 2020, quando incêndios devastaram 30% do bioma.
Apesar da redução de focos em novembro, com 191 incêndios registrados (queda de 95,3% em relação a 2023), a área queimada ao longo do ano alcançou 2,5 milhões de hectares, maior que o território do País de Gales.
Durante uma sessão no Senado, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, alertou que o Brasil corre o risco de perder o Pantanal até o fim deste século caso o aquecimento global não seja revertido.
“Se as condições atuais persistirem, o diagnóstico dos pesquisadores é claro: podemos perder o Pantanal até o fim do século. Isso se deve à baixa precipitação, ao alto processo de evapotranspiração e à incapacidade de alcançar a cota de cheia, tanto dos rios quanto da planície alagada”, explicou a ministra.
A declaração foi feita durante uma sessão da Comissão de Meio Ambiente do Senado, onde Marina discutiu as queimadas e a prolongada estiagem que afetaram grande parte do país, especialmente o Pantanal e a Amazônia.