Em três dias, PF, Funai e Ibama destruíram 223 balsas utilizadas pelo garimpo ilegal no Amazonas
Atividade pode causar danos ao meio ambiente, à saúde pública e aos povos tradicionais
Cidades|Rafaela Soares, do R7, em Brasília
A Polícia Federal, o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e a Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas) destruíram, até esta quinta-feira (22), 223 balsas de garimpo que atuavam ilegalmente no Rio Madeira e seus afluentes, no Amazonas. A operação Prensa começou na segunda-feira (20), e os números foram alcançados em três dias.
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Segundo a PF, as ações contam com policiais federais especializados que percorrem municípios do sul do estado para fiscalizar possíveis atividades ilegais na região. “A ação será contínua e com prazo indeterminado para finalizar”, afirmou a corporação.
A prática do garimpo pode causar danos ao meio ambiente e à saúde pública, pois as águas podem ser contaminadas por mercúrio e cianeto. Além disso, o garimpo interfere na cultura dos povos tradicionais, uma vez que áreas indígenas podem ser invadidas pelos criminosos na região.
Impactos
O garimpo deixou um rastro de destruição nas terras Yanomami e afetou a alimentação e, principalmente, a saúde dos indígenas. Embora o número de garimpeiros na região tenha caído drasticamente, a ameaça ainda persiste.
Atualmente, 8 mil cestas básicas são enviadas pelo governo federal todo mês, e enfermeiros e médicos também trabalham para recuperar a saúde que o garimpo comprometeu.
Devastação
Um levantamento divulgado em março deste ano pela ONG Greenpeace mostrou que, no ano passado, o garimpo ilegal devastou 1.410 hectares nas terras indígenas dos povos Kayapó, Munduruku e Yanomami. O número equivale ao desmatamento de quatro campos de futebol por dia, segundo a instituição.
As terras Kayapó, Munduruku e Yanomami são as mais afetadas pela expansão garimpeira, concentrando 95% da mineração ilegal em territórios indígenas. Segundo o Greenpeace, o garimpo irregular devastou 26 mil hectares desses três territórios, uma área maior do que a cidade do Recife.
No ano passado, a terra Kayapó foi a mais devastada por garimpo ilegal, somando 1.019 hectares. Até dezembro de 2023, o território havia acumulado mais de 15,4 mil hectares de garimpo.
De acordo com a ONG, o território Munduruku é o segundo mais invadido. O levantamento mostrou que os garimpos estão próximos de pelo menos 15 aldeias. Até dezembro de 2023, a área total garimpada somava 7.094 hectares. Considerando os números dos últimos dois anos, a atividade nos rios do povo Munduruku devastou uma área de 582,7 hectares, superior a 580 campos de futebol.
No território Yanomami, 3.892 hectares foram devastados por garimpeiros até 2023. Os dados do Greenpeace mostram que a abertura de novas áreas de atividade teve um pico em janeiro, seguido por uma queda drástica em fevereiro, logo após o governo federal decretar situação de emergência nacional no território. Em março e outubro, houve novos picos de expansão garimpeira.
Transparência do Ouro
O Portal da Transparência do Ouro, elaborado pela organização não governamental WWF, aponta a existência de 1.943 títulos para mineração de ouro no Brasil validados pela Agência Nacional de Mineração. Desses, apenas 185 (9,5%) estão em conformidade com os critérios legais da atividade. A maioria dos casos são permissões para garimpeiros, e o estado do Pará concentra 30% das atividades.
Segundo o painel, o país tem, ao todo, 41.465 pedidos de títulos para mineração de ouro. Os documentos são outorgados pela agência, que credencia o aproveitamento do recurso mineral. “Em uma primeira utilização da plataforma, foi possível detectar inconsistências em todas essas etapas”, diz a organização.