Caminhoneiros propõem nova política de preços para evitar greve
Para o caso de as reivindicações da categoria não serem atendidas, lideranças marcaram paralisação para a próxima segunda-feira
Economia|Do R7
Os caminhoneiros estão com uma proposta de preços do óleo diesel para apresentar ao governo. Eles atacam a política de preço de paridade de importação (PPI), adotada pela Petrobras, e propõem a política de preço de paridade de exportação (PPE), baseada exclusivamente em custos nacionais.
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Além disso, sugerem um acerto de contas anual entre a estatal e o governo. No meio do caminho, os preços seriam mantidos estáveis para os consumidores, com possíveis reajustes trimestrais.
Os caminhoneiros calculam que, com essas e outras medidas, haveria uma retração de 45% no preço da gasolina, de 27% no preço do óleo diesel, e de 23% no preço do gás liquefeito de petróleo (GLP), o gás de cozinha. Outra opção defendida é que o preço dos combustíveis seja formado apenas por um somatório de custos de produção mais margens de lucro, e que essas margens sejam reduzidas à metade.
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A interpretação da categoria é que o modelo adotado pela Petrobras, que atrela seus preços às cotações internacionais do petróleo e derivados e ao câmbio, traz instabilidade e volatilidade expressiva ao óleo diesel no mercado interno. O combustível é a principal despesa do transporte rodoviário, respondendo atualmente por 39% do custo total do transporte, segundo cálculos do Esalq-Log (Grupo de Pesquisa e Extensão em Logística Agroindustrial da Esalq/USP). Por isso, os sucessivos reajustes da estatal afetam a sustentabilidade financeira do setor.
O preço final dos combustíveis, atualmente, é formado pelo valor cobrado pela Petrobras nas refinarias (atrelado ao preço do barril do petróleo no mercado internacional e ao câmbio) mais tributos federais (PIS/Pasep, Cofins e Cide) e estaduais (ICMS), além das margens de distribuição e revenda. O PPI, da Petrobras, entrou em vigor em outubro de 2016, no governo de Michel Temer.
A mudança na política de preços da estatal é uma das principais reivindicações dos caminhoneiros, que ameaçam repetir, a partir da próxima segunda-feira (1º), a greve histórica que parou o país em 2018.
Vendemos em real e compramos [combustível] em dólar. Com a PPE [política proposta pelos caminhoneiros]%2C a base de cálculo seria o preço de paridade de exportação%2C dispensando custos de transporte e seguro%2C o que reduziria o preço.
A Abrava (Associação Brasileira dos Condutores de Veículos Automotores), com o CNTRC (Conselho Nacional do Transporte Rodoviário de Cargas) e a CNTTL (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logística), está à frente da paralisação marcada para 1º de novembro, cuja realização dependerá da resposta do governo às demandas da categoria.
Na quarta-feira (27), o ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, avaliou que o movimento deve ser similar ao que ocorreu em fevereiro deste ano, quando algumas ações isoladas da categoria foram identificadas e "rapidamente contornadas". Ele disse ter certeza de que a iniciativa não vai causar transtornos à sociedade. "Esta é a 16ª tentativa de paralisação desde 2019. Todas as outras 15 nós conseguimos evitar", declarou em entrevista à Rádio Bandeirantes.
Tarcísio afirmou que a Pasta "sempre trabalha" para evitar a greve, e que os avanços registrados para os transportadores nos últimos anos foram fruto de diálogo, e não de paralisação. "Eu mantenho contato todos os dias. É uma categoria muito difusa, questão de representatividade é difícil de entender. Muita gente que às vezes chama movimento, e às vezes até tem muito espaço, não tem representatividade, não consegue agregar a categoria como um todo. E muita gente confia no diálogo", disse.
Na terça-feira (26), a Pasta teve um encontro com representantes dos tanqueiros – transportadores de combustíveis e de derivados de petróleo –, e o ministro disse ter saído da reunião confiante de que a paralisação programada não terá adesão desse setor.
Nova política de preços
Segundo Landim, transportadores podem flexibilizar outros pontos da agenda de demandas, mas não vão abrir mão do pedido de fim do preço de paridade de importação. “O tema é unanimidade no movimento. É inegociável. É o principal ponto da pauta, porque tudo está relacionado aos derivados do petróleo – óleo diesel, lubrificante, pneu”, disse, enfatizando que o valor do combustível subiu 65% nas refinarias no acumulado deste ano. Eles refutam o argumento de que sem PPI poderia haver desabastecimento no mercado interno.
A PPE, dos caminhoneiros, funcionaria com uma lógica inversa à adotada pela Petrobras. Como a empresa é uma grande produtora e exportadora de petróleo, a proposta é ignorar as oscilações do petróleo no mercado internacional, os custos logísticos e o câmbio – variáveis consideradas no cálculo dos preços dos combustíveis atualmente. Uma taxação sobre as vendas para o mercado externo compensaria possíveis perdas com importações.
A ideia é criar um imposto de exportação, cuja arrecadação compensaria possíveis perdas da Petrobras por manter os preços estáveis por um tempo, ainda que tenha aumento de custo para trazer combustíveis de outros países. Isso acontece por conta do perfil das refinarias nacionais, já que o Brasil não é autossuficiente em alguns derivados, como óleo diesel.
O limite dos preços dos combustíveis seria a capacidade de pagamento dos consumidores. Reajustes ocorreriam trimestralmente, quando o cenário conjuntural permitisse, conferindo previsibilidade ao processo. Caso a Petrobras fosse prejudicada por seguir esse teto de valor, ela seria recompensada pelo governo por meio de descontos no Imposto de Renda devido.
Nesse sentido, um projeto de lei (nº 750/21) apresentado na Câmara dos Deputados pelo presidente da Frente Parlamentar Mista dos Caminhoneiros Autônomos e Celetistas, deputado federal Nereu Crispim (PSL-RS), prevê a criação de um Fundo de Estabilização dos Preços dos Derivados do Petróleo (FEPD).
A proposta foi apresentada na última terça-feira pelo parlamentar à diretoria de relacionamento institucional da Petrobras. O fundo, explica o deputado, terá como fonte a arrecadação do imposto de exportação do petróleo bruto e prevê alíquotas progressivas no imposto de exportação conforme o valor do barril do petróleo. “A Petrobras não precisa dar prejuízo ou ser deficitária, mas também não precisa ter esses altos lucros. Precisamos encontrar uma alternativa ao PPI”, alega Crispim.
Expectativa
Os caminhoneiros reconhecem que a proposta do fim do preço de paridade de importação é indigesta ao mercado financeiro, o que pode ser um entrave para sua viabilização no governo. “O governo vai ter que escolher entre os acionistas e o setor de transporte e classe média brasileira”, afirmou Landim. Crispim disse esperar sensibilidade do governo à questão. “O governo tem de deixar de tratar a política de preços da Petrobras como um negócio, precisa trabalhar de forma social. Essa política está gerando inflação altíssima para todos setores”, disse Crispim.
Com os reajustes repassados aos consumidores finais, a PPI se tornou alvo de pressões políticas. Em declarações recentes, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que o preço dos combustíveis precisa ser discutido e que as soluções não são fáceis. Os presidentes da Câmara, Arthur Lira, e do Senado, Rodrigo Pacheco, também vêm cobrando ações da estatal. Uma reunião para tratar da política de preços dos combustíveis entre lideranças e governo que ocorreria nesta quinta foi desmarcada pelo Executivo.
Integrantes do governo encaram a nova ameaça de greve dos caminhoneiros como mais uma tentativa que não deve se materializar nas estradas, e não enxergam espaço para que as solicitações dos transportadores avancem. A interferência, com uma canetada, na política de preços da estatal não é uma possibilidade, afirmam. A avaliação ainda é que a alteração seria uma resposta errada ao problema. O argumento é que, com um controle artificial do preço na Petrobras, o importador de derivados não conseguiria competir no mercado interno. Isso geraria risco de desabastecimento, diz um integrante do governo em caráter reservado.
Contrárias
A Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA), que representa 800 mil caminhoneiros, entende que a discussão deve focar o valor do frete recebido pelo transporte, e não o preço do diesel, que é insumo. As transportadoras também são contrárias à mudança na política de preços da estatal.
Presidente da Confederação Nacional do Transporte (CNT), que representa as empresas do setor, Vander Costa diz que a política de mercado adotada pela estatal é a correta, mas propõe reajustes bimestrais dos preços. "Defendemos a menor volatilidade dos preços. Não temos capacidade de absorver aumentos semanais como foi feito pelo Pedro Parente [gestão maio 2016-junho 2018]. É somente a Petrobras fazer hedge do preço, que ela poderia fazer ajustes mais longos para dar previsibilidade ao transportador", disse.