Dólar avança 1,11% após falas sobre salário mínimo e IR, e Ibovespa tem 2ª alta seguida
Americanas amplia perda para mais de 85% desde o anúncio de 'inconsistências'; Vale e Itaú são destaques positivos da bolsa
Economia|Do R7
O dólar à vista avançou ante o real nesta quarta-feira (18), e subiu 1,11%, a R$ 5,1613 na venda, revertendo as perdas da manhã. Na máxima do dia, avançou 1,37%, a R$ 5,1748, e na mínima, caiu 0,76%, a R$ 5,0660. Para analistas, declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre possíveis mudanças no salário mínimo e no IR (Imposto de Renda) influenciaram a recuperação.
O Ibovespa fechou em alta pelo segundo pregão seguido, com ações da Vale e do Itaú Unibanco em destaque. As da Americanas caíram 10%, ampliando para mais de 85% a perda desde a eclosão do escândalo contábil.
O índice de referência do mercado acionário brasileiro subiu 0,82%, a 112.352,41 pontos, de acordo com dados preliminares. Na máxima, chegou a 113.306,24 pontos, com volume financeiro de R$ 23,7 bilhões, em sessão marcada pelo vencimento de opções do Ibovespa.
O noticiário envolvendo o IR e o salário mínimo reduziu o fôlego na bolsa paulista, levando algumas preocupações para o cenário fiscal brasileiro. O desempenho dos papeis também foi afestado pela trajetória negativa em Wall Street.
Após um começo de ano tenso, o Ibovespa já apresenta desempenho favorável em 2023, o que muitos agentes financeiros atribuem ao fluxo de capital externo, positivo em cerca de R$ 3 bilhões no mercado secundário.
Contexto e análises
Em encontro com centrais sindicais, Lula assinou um despacho, determinando que os Ministérios do Trabalho e da Previdência, entre outros, apresentem, em 45 dias, propostas para uma política de valorização do salário mínimo.
O prazo pode ser estendido por igual período. Entre os assuntos que serão debatidos pelo grupo está o novo valor do mínimo para este ano. Durante o evento desta quarta, o presidente afirmou que o salário mínimo precisa aumentar em linha com o crescimento da economia.
Sérgio Vale, economista da MB Associados, disse que há "uma sinalização de que o salário mínimo vai subir mais do que estava estipulado para este ano".
Na véspera, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, havia dito que o governo definirá o valor do mínimo deste ano a partir de negociações com as centrais. Ele falou que a viabilidade de uma quantia acima dos R$ 1.302, já em vigor, vai depender do número de beneficiários do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), pois grande parte dos pagamentos previdenciários são indexados ao mínimo.
"Será mais uma derrota política de Haddad, sobre a qual ele não terá muito o que fazer. Esse é o grande risco. Há uma pressão enorme por gastos reprimidos nos últimos anos, e isso vai colocar pressão no fiscal durante todo o governo", acrescentou Vale.
Para Diego Costa, chefe de câmbio para as regiões Norte e Nordeste da B&T Câmbio, esse debate em torno do pagamento mínimo para o trabalhador "pesou [no câmbio] no período da tarde", comentou .
Ainda que os R$ 1.302 estejam em vigor, o governo chegou a prometer um aumento para R$ 1.320. No início da semana, uma notícia dizendo que Lula avalia elevar o pagamento para além desse patamar impactou negativamente o câmbio.
Imposto de Renda
Ainda nesta quarta, o presidente afirmou que o governo vai "mudar a lógica" para diminuir o IR cobrado dos mais pobres e aumentar o que incide sobre os ricos. Ele disse que vai "brigar" para elevar o valor de isenção do imposto para R$ 5 mil, conforme prometeu durante a campanha.
"Ele voltar a afirmar isso acaba trazendo maior percepção de risco", analisa Rafael Rondinelli, analista de macroeconomia do banco Modal. Ele diz que, nos últimos dias, após as declarações de Haddad, foi possível perceber um certo bom humor relacionado ao cenário doméstico.
Na semana passada, o ministro da Fazenda apresentou um pacote de medidas econômicas, iniciativa que foi bem vista pelo mercado, ainda que com ressalvas. A maior dúvida é sobre a exequibilidade do plano, que tem foco no curto prazo.
Em Davos, na Suíça, onde participa do Fórum Econômico Mundial, Haddad reiterou sua confiança na aprovação de uma reforma tributária ainda em 2023. Ele disse que quer realizar as discussões sobre uma nova regra fiscal até abril.
Cenário internacional
O exterior colaborou para o avanço do dólar no mercado local nesta quarta. A moeda norte-americana mostrou queda generalizada pela manhã, após a divulgação de dados econômicos dos Estados Unidos, incluindo os preços ao produtor e as vendas no varejo, que reforçaram a expectativa de altas menores de juros pelo Fed (Federal Reserve).
A maioria dos investidores espera redução no ritmo de altas para uma elevação de 0,25 ponto percentual, na próxima reunião.
Outro movimento que marcou a sessão foi a divulgação do Livro Bege, relatório sobre a economia norte-americana, publicado pelo banco central dos EUA.
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O cenário mudou à tarde, diante de declarações dos membros do Fed que destacaram a necessidade da instituição de elevar os juros além de 5%, para controlar a inflação em patamar maior do que o precificado no mercado.
O dólar apagou as perdas na sessão frente a uma cesta de moedas fortes durante à tarde e operava estável, enquanto passou a subir frente aos principais pares emergentes do real.