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Emprego surpreende e mercado vê juros ainda mais altos nos EUA

Excesso na criação de postos de trabalho deve dificultar o combate à inflação nos Estados Unidos, acreditam especialistas

Economia|Do R7

Alta de juros americana e falas de Lula fizeram o dólar se valorizar frente ao real nesta sexta-feira (3).
Alta de juros americana e falas de Lula fizeram o dólar se valorizar frente ao real nesta sexta-feira (3).

Os Estados Unidos surpreenderam novamente ao criar 517 mil empregos no mês de janeiro. Isso deve fazer o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) subir mais os juros e mantê-los em patamares elevados para combater a inflação na maior economia do mundo.

Se antes Wall Street estava esperando corte de taxas ainda neste ano, agra o mercado de trabalho mudou as perspectivas de bancos e consultorias.

O relatório de empregos dos EUA, que é chamado de payroll, superou até mesmo as expectativas mais otimistas. Trata-se do dobro do número de dezembro, e ficou bem acima do teto das projeções de analistas.

Segundo o documento, o desemprego caiu para 3,4%, o menor patamar em décadas, com abertura de vagas em todos os setores da economia.


O economista do banco BNP Paribas, Andy Scheider, classificou o dado de janeiro como "inequivocamente forte" em um mês em que, tradicionalmente, as empresas demitem. Quando isso acontece, há uma alta demanda por trabalhadores e uma oferta ainda restrita.

Apesar da forte criação de empregos, os salários dos trabalhadores americanos vieram em linha com as projeções, com alta de 0,30% em janeiro em relação a dezembro. O avanço é "moderado", mas ainda "desconfortavelmente forte" para o Fed.


O presidente do órgão, Jerome Powell, disse nesta semana que a queda da inflação nos EUA é "encorajadora", mas o mercado de trabalho no país ainda está "muito forte".

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"Depois da reunião mais recente do Fed, o mercado realmente parecia duvidar da determinação do Fed de aumentar ainda mais os juros e manter as taxas em níveis elevados. O payroll de janeiro só vai tornar o Fed mais decidido", declarou Scheider, do BNP.


O relatório de emprego dos Estados Unidos também deve alterar as projeções do dólar no Brasil. Se antes havia a perspectiva de queda pelo menos no curto prazo, em razão da política de juros das autoridades monetárias dos EUA e brasileira, agora o cenário deve mudar. Nesta sexta-feira (3), a moeda americana fechou com alta de 2,03%, a R$ 5,14.

Nesta semana, o banco central americano elevou os juros básicos nos EUA em 0,25 ponto porcentual, empurrando as taxas para o intervalo de 4,50% a 4,75% ao ano.

Mudança

Levantamento da plataforma CME Group capturou uma mudança nas expectativas dos economistas. Na quinta-feira (2), a probabilidade de corte de juros desabou de 63,7% para 31,3%, depois da divulgação do relatório.

A maioria das consultorias e bancos em Wall Street vê a taxa de juros básica da economia americana, subindo acima dos 5% ao ano, com pelo menos mais duas altas de 0,25 ponto nas reuniões de março e de maio. O Citi prevê o Fed elevando as taxas até junho, para o intervalo de 5,25% a 5,50% ao ano.

Na visão da economista Andressa Durão, da ASA Investments, o payroll de janeiro chancela das declarações de Powell, que tem dito que o corte de juros não vem tão cedo.

Porém, ela afirmou que é preciso cautela quanto aos números do relatório, já que foi feita uma revisão retroativa nas séries dos anos anteriores.

"O dado veio mais favorável à economia dos Estados Unidos, mas as séries foram revisadas por conta de novas estimativas de população, então, teve impacto na quantidade de trabalhadores procurando emprego", disse Durão.

Desaceleração

As consultorias estão divididas sobre projeções de crescimento da economia. BNP Paribas e a Oxford Economics veem os EUA em recessão a partir do segundo trimestre. Por outro lado, Capital Economics e Goldman Sachs acham que a maior economia conseguirá evitar um pouso forçado.

O economista-chefe do IIF (Instituto de Finanças Internacionais, na sigla em inglês), Robin Brooks, reforçou ontem a segunda corrente de opinião.

Ele disse que o payroll "acaba com os temores de uma recessão nos EUA". "Cada vez mais, parece que a inflação está caindo sem uma recessão profunda."

Para o presidente dos EUA, Joe Biden, o payroll foi motivo de comemoração. "Os empregos estão aumentando, a inflação está diminuindo e meu plano econômico está funcionando", escreveu em sua conta no Twitter.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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