Mudanças na diretoria do BC preocupam mercado financeiro e podem afetar combate à inflação
Fim dos mandatos de Fernanda Guardado e Maurício Costa de Moura abre espaço para dois novos indicados pelo governo Lula
Economia|Do R7
A reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) a ser finalizada nesta quarta-feira (20) marca a antepenúltima definição da taxa básica de juros com a presença dos diretores Maurício Costa de Moura (Relacionamento, Cidadania e Supervisão de Conduta) e Fernanda Guardado (Assuntos Internacionais e Gestão de Riscos Corporativos).
O fim dos mandatos, em dezembro, abre espaço para duas novas indicações feitas pela equipe do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, movimento que gera preocupação com a possibilidade de que a política monetária do BC (Banco Central) deixe de ser condizente com a situação econômica.
Flávio Serrano, economista-chefe do Banco BMG, afirma que as mudanças na diretoria da autoridade monetária têm gerado apreensão no mercado financeiro. “O receio é de que novos diretores com uma orientação econômica mais heterodoxa acabem levando a uma condução de política monetária mais leniente com a inflação”, avalia ele.
Alexandre Lohmann, economista-chefe da Constância Investimentos, destaca que Maurício Costa e Fernanda Guardado integram justamente a ala mais conservadora, que votaram a favor de um corte de apenas 0,25 ponto percentual da taxa Selic na reunião que marcou o primeiro corte dos juros básicos em três anos, de 13,75 para 13,25% ao ano.
"No caso provável de que esses diretores sejam substituídos por pessoas mais alinhadas ao governo, isso alteraria a fisionomia do Copom, uma vez que a maioria dos diretores está alinhada com uma política dovish [expansionista]", explica Lohmann sobre a mudança de rumo que pode resultar em aumento dos preços.
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Apesar de pactuar com as preocupações, Serrano destaca que a autonomia do Banco Central faz com que as decisões de política monetária sempre se mostrem mais técnicas do que políticas. “A Selic deve seguir em queda nos próximos meses, independentemente da composição da diretoria”, afirma.
Os temores consideram as recentes críticas de Lula e da equipe econômica ao elevado patamar dos juros e o potencial para afetar o andamento da economia. As percepções levam em conta que a taxa Selic é o principal instrumento de política monetária para determinar a inflação em uma economia. Isso acontece porque os juros mais altos tornam o crédito mais caro, reduzem a disposição para consumir e estimulam novas opções de investimento pelas famílias.
Maioria escolhida por Lula
Ao longo deste ano, Lula já indicou o economista Gabriel Galípolo e o servidor de carreira Ailton de Aquino Santos para comandarem, respectivamente, as diretorias de Política Monetária e Fiscalização da autoridade monetária. Mesmo com os dois novos nomes a partir de 2024, os escolhidos pelo governo ainda serão minoria no colegiado.
A partir de dezembro de 2024, os indicados por Lula serão a maioria nas decisões após o fim dos mandatos do presidente do BC, Roberto Campos Neto, e dos diretores Carolina de Assis Barros (Administração) e Otávio Damaso (Regulação). Para Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, tal movimento pode ocasionar em uma redução mais efetiva da taxa Selic na tentativa de estimular o consumo.
“Nós podemos ver uma queda de juros mais rápida, principalmente depois de 2025, quando vamos ter o BC formado por uma maioria de indicados pelo presidente Lula. No longo prazo, vai depender muito de como vamos caminhar com a inflação até lá: se vamos ter as metas do arcabouço fiscal realmente perseguidas ou se vai haver uma deterioração de expectativas”, diz Cruz.
Caso as reduções da Selic sejam incompatíveis com o avanço da inflação, Serrano observa que resultará em prejuízos para a economia. “Já vimos no passado, em poucas ocasiões, o BC optar por um corte [de juros] não compatível com o ciclo econômico. O resultado foi basicamente mais inflação e, em um futuro não muito distante, reversão da política monetária expansionista. Como consequência óbvia, o processo gerou menor crescimento.”