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Presidente da CVM levanta suspeitas sobre remuneração de ex-CEO da Americanas

A situação da varejista, que está em recuperação judicial, foi discutida em audiência pública numa comissão especial do Senado

Economia|Do R7

Sérgio Rial falou em audiência pública no Senado nesta terça-feira (28)
Sérgio Rial falou em audiência pública no Senado nesta terça-feira (28)

O presidente da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), João Pedro Nascimento, disse que há "inconsistência na lisura da prestação de informações sobre a remuneração de Sérgio Rial pela Americanas". A companhia está em recuperação judicial judicial desde 19 de janeiro.

Em audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), do Senado, convocada para tratar da situação da Americanas, o executivo disse que a autarquia tem um processo aberto para examinar os moldes da remuneração do ex-CEO da varejista. Rial foi empossado no início deste ano e ficou na função apenas nove dias, até 11 de janeiro, quando denunciou inconsistências contábeis de R$ 20 bilhões da empresa e renunciou ao cargo.

Ele já prestava serviços à Americanas desde o ano anterior, ao mesmo tempo em que acumulava funções no banco Santander.

Na mesma audiência pública, Rial contou ter recebido pagamentos da companhia de duas maneiras: "Meu contrato com o presidente executivo era calcado em ações, a partir de maio, na valorização das ações em cinco anos da empresa. Já o contrato de consultoria foi assinado dia 1º de setembro, como parte do processo de ambientação".


O modelo de prestação de serviço e remuneração, assim como a linha do tempo e o fornecimento de informações, afirmou Nascimento, serão analisados pela CVM.

O presidente da autarquia lembrou que, até 11 de janeiro, não havia recebido nenhuma denúncia contra a Americanas. Também falou que ainda não é possível dizer qual será a punição aos responsáveis pelo rombo. "As sanções pecuniárias a envolvidos na Americanas poderão ser bastante substanciosas."


Para Nascimento, a decadência da varejista pode ter diversos impactos na economia nacional, principalmente na área de crédito, e, por isso, "o caso da Americanas é lamentável e gravíssimo".

"Um acontecimento como esse precisa de uma resposta à altura, para que o mercado de capitais brasileiro continue se desenvolvendo", opinou o executivo da CVM. "Tem de pegar um caso como esse, apurar os responsáveis e puni-los severamente, para que situações como essas não se perpetuem."


Nascimento explicou, ainda, que a investigação é feita por uma área técnica, sem a participação do presidente e de diretores da CVM.

Os outros envolvidos

Quanto aos acionistas de referência da varejista, os bilionários Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, o presidente da CVM foi um pouco mais cauteloso nos comentários, mas revelou que o caso Americanas despertou a atenção da autoridade para o trio. "Sem querer tirar conclusões [precipitadas], os acionistas controladores têm políticas bastante agressivas sobre a contabilização de despesa, buscando tirar o maior prazo possível dos fornecedores", declarou.

"As políticas dos acionistas controladores nos deixam atentos a outras empresas de que participam", comentou o executivo da autarquia federal.

Nascimento também mostrou preocupação com os impactos do processo de recuperação da Americanas, pois o plano prevê o aporte de R$ 10 bilhões pelos acionistas de referência. Como os papéis da empresa atualmente estão valendo apenas uma pequena fração da cotação que tinham há poucos meses, em dezembro, ele acredita que a tendência é que a participação dos minoritários seja dissolvida com a capitalização.

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"Qual será o critério adotado na capitalização para minimizar o efeito nocivo, que é a dissolução dos minoritários?", questionou.

Ele disse que é preciso pensar sobre qual vai ser o preço aplicado pelos acionistas de referência para fazer emissão, se será com um valor mais alto, para evitar que os acionistas minoritários sejam prejudicados.

Além de montar uma força-tarefa e abrir dois inquéritos e uma série de processos, Nascimento contou que a reguladora emitiu um ofício de orientação sobre como deve ser feita a contabilidade de contas como a forfait e outras modalidades de crédito.

Indagado sobre o que aconteceu com a varejista, o executivo definiu: "Estamos observando que os sistemas de freios e contrapesos falharam".

"Quando uma companhia deixa de informar um débito de algo entre R$ 20 bilhões a R$ 50 bilhões, as relações de controle falharam", finalizou.

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