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Educação

Universidades investem para mudar cultura do trote violento e agressivo

USP lança aplicativo para receber denúncias de abusos contra calouros. Instituições apoiam ações que pregam a solidariedade entre estudantes

Educação|Karla Dunder, do R7

Vitória Soma passou pelo Trote na PUC: "Tudo muito tranquilo"
Vitória Soma passou pelo Trote na PUC: "Tudo muito tranquilo"

Vitória Di Bella Soma, 18 anos, foi aprovada no curso de Relações Internacionais da PUC (Pontifícia Universidade Católica). Na primeira semana, nada de aula, apenas o tradicional trote — o rito de passagem pelo qual os calouros passam ao ingressar na universidade.

“Logo que cheguei, um veterano me perguntou se eu era ‘bichete’ e me direcionou para o teatro onde outros calouros estavam reunidos. Nos apresentamos, conversamos um pouco, tudo muito tranquilo”, conta. Clima de festa com direito ao tradicional rosto pintado e tinta para todo lado.

Segundo Vitória, a bagunça foi acompanhada de perto por uma comissão de pessoas usando coletes com a responsabilidade de evitar excessos entre os alunos. “Eles estavam ali para dar respaldo em caso de comentários machistas ou assédio”. Os 'bichos' fizeram uma caça ao tesouro para conhecer o campus e participaram de um jogo para mostrar as diferenças entre os alunos ali. “A acolhida tinha a proposta de incluir, antes mesmo de participar dessa semana. Pelas redes sociais, me conectei com veteranos que deram várias dicas sobre a universidade”.

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O caso de Vitória representa uma mudança de cultura, que busca o respeito no lugar de humilhações e abusos, como ocorria em anos anteriores, avalia o coordenador do Grupo Pró-Calouro da USP (Universidade de São Paulo) Oswaldo Crivello Junior.


“Após a morte de um aluno vítima de um trote violento na USP, foi criada a comissão de recepção de calouros com o objetivo de que os valores da universidade fossem respeitados e, em 20 anos de atuação, percebemos uma mudança na cultura, a recepção dos novos alunos é bem diferente e a humilhação, quando ocorre, é uma exceção”, explica Crivello Junior.

Crivello Jr. se refere à morte do estudante de medicina Edson Tsung Chi Hsueh, que foi encontrado na piscina da atlética da Faculdade de Medicina em fevereiro de 1999. Ele se afogou após os trotes. “Depois deste episódio, criamos o Disque-Trote para receber denúncias de abusos. No ano passado, recebemos apenas duas reclamações por e-mail e percebemos que a comunicação poderia não ser efetiva. Resolvemos, então, lançar um aplicativo, uma forma de comunicação mais ágil entre os estudantes e a universidade”, diz.


“O respeito entre os estudantes deve ser absoluto, sem constrangimentos ou agressões. Observamos que quando um aluno é agredido, a tendência é agredir também. Quebramos esse ciclo”, explica Crivello Jr.

Cada unidade tem autonomia para organizar a recepção dos novos alunos, mas devem seguir as diretrizes da universidade. Nos últimos anos, segundo o coordenador, houve um aumento do chamado trote solidário, com doações de alimentos, de sangue e até de cabelo para instituições que atendem pessoas com câncer.


Outras públicas, como a Unicamp (Universidade de Campinas) e a Unesp (Universidade Estadual Paulista), seguem a mesma linha. Um número de telefone e aplicativo estão disponíveis para denúncias de abuso nos trotes. Também há o incentivo ao trote solidário na recepção dos novos alunos. 

Na Unicamp, na Calourada, coletivos sociais (LGBT, feministas e negros) participaram da recepção dos estudantes recém-chegados. Neste ano, os alunos indígenas aprovados no vestibular específico foram recebidos por um mutirão para avaliar a necessidade de bolsa-moradia e alimentação.

Humilhação

Embora haja uma disposição das instituições em mudar a cultura do trote, algumas práticas ainda permanecem. Em Joaçaba (SC) , as estudantes do curso de odontologia da Unoesc (Universidade do Oeste de Santa Catarina) foram fotografadas sendo obrigadas, por veteranos, a simular posições de atos sexuais.

Pelas redes sociais, a Unoesc informou "que não compactua com trotes violentos e/ou humilhantes e tomará providências administrativas junto aos organizadores de episódios desse tipo. Orienta, ainda, que os alunos ingressantes que se sentirem ofendidos ou intimidados contatem a coordenação do curso”.

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